Artigo: Relatos de Ocorrência de Animais Silvestres e de Danos Causados em Culturas de Interesse Comercial no Estado de São Paulo

13.02.2013 | 21:59 (UTC -3)

Os ecossistemas naturais vêm sendo constantemente prejudicados pelas alterações ambientais, como a ocupação não sustentável do solo, tornando-se mais vulneráveis com a acelerada redução da biodiversidade e com a diminuição, fragmentação ou até eliminação dos ‘habitats’. Por esse motivo, a relação estoque silvestre versus estoque doméstico versus homem é influenciada, sendo facilitada ou mesmo incentivada a propagação de patógenos e vetores de doenças. Devido ao consequente desmatamento provocado pela ocupação humana, a cobertura vegetal natural vem sendo convertida em pasto ou campo agrícola. Esse processo já foi devidamente registrado na Mata Atlântica e, de maneira acelerada, no Cerrado, no entorno do Pantanal e da Amazônia, sendo afetada a propagação de patógenos na fauna silvestre (ALHO, 2012).

No setor rural, as culturas podem ser seriamente prejudicadas, não apenas por pragas ou agentes patogênicos, mas também e, curiosamente, por alguns animais silvestres, que passam entãoa serem considerados daninhos ou mesmo, fauna-problema.

Nos últimos anos, em várias regiões do país, mas particularmente no Estado de São Paulo, espécies invasoras exóticas, como os javalis (Sus scroffa) e as lebres, lebrões europeus ou simplesmente lebrões (Lepus europaeus), têm causado bastante preocupação aos agricultores, devido aos frequentes e severos prejuízos às diversas culturas consideradas “econômicas”. Esses animais foram introduzidos como animais de caça no Uruguai e Argentina e, devido à sua grande capacidade de adaptação, ultrapassaram as fronteiras, adentraram o Brasil pelo Rio Grande do Sul, migraram para os Estados de Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul, tornando-se um problema por causa dos danos causados, como redução de produtividade e da qualidade do produto. Eram considerados pragas quando a caça era regulamentada no Brasil e seu abate era permitido em qualquer época do ano (HAYASHI e SANCTIS, 2010).

A partir de 12 de fevereiro de 1998 foi sancionada a Lei Federal n.º 9.605 – Lei de Crimes Ambientais, que “dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências”. Em seu artigo 29, são relacionados como crimes contra a fauna: “matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida”, e para os quais se aplica pena de detenção de seis meses a um ano, além de multa. Em seu artigo 37, o abate de animal não é considerado crime quando “for realizado em estado de necessidade, para saciar a fome do agente ou de sua família; para proteger lavouras, pomares e rebanhos da ação predatória ou destruidora de animais, desde que legal e expressamente autorizado pela autoridade competente; por ser nocivo o animal, desde que assim caracterizado pelo órgão competente”. Ainda, em seu artigo 61 prevê punição para quem “disseminar doença ou praga ou espécies que possam causar dano à agricultura, à pecuária, à fauna, à flora ou aos ecossistemas” (PRESIDENCIA..., 1998).

Com a proibição da caça, todos os animais passaram a ser protegidos pelo Estado, incluindo-se o cachorro-do-mato (Cerdocyon thous), os gambás (Didelphis marsupialis), inúmeras espécies de aves e alguns mamíferos como os catetos (Tayassu tajacu) e as capivaras (Hydrochoerus hydrochoeris), dentre outros. A população do lebrão, que era controlada pela caça esportiva somente no Rio Grande do Sul, também foi proibida. Por sua vez, o incentivo à criação do javali para consumo por alguns criadores de suínos de outras regiões do país decorre da qualidade de sua carne. Entretanto, devido ao seu vigor e robustez e por não ser animal de fácil domesticação, houve escape de indivíduos do cativeiro, seguido de reprodução descontrolada nos estados mencionados anteriormente e com possibilidade de marcha migratória rumo ao norte do país (HAYASHI e SANCTIS, 2010).

Por sua vez, em decorrência do desmatamento não controlado e cada vez mais crescente, foi bastante favorecido o crescimento populacional de espécies silvestres que, inclusive, estão se adaptando bem tanto ao ambiente rural como, particularmente, ao urbano. Esse fato também acarreta problemas de competência da saúde pública, como comprovado pelo aumento dos casos de sua ocorrência, frequentemente divulgados na mídia, em cidades de médio e grande porte (ALHO, 2012).

Na agricultura, houve aumento dos problemas nos últimos anos em função dessa ocorrência bastante distribuída e em abundância dos animais silvestres, exóticos ou não, pois o alimento é farto nas áreas rurais cultivadas. Nessa situação, os danos constatados são frequentes, relevantes e difíceis de serem mensurados.

Diante disso, é fundamental o estabelecimento de medidas para o controle populacional de animais silvestres e dos consequentes danos, motivados, principalmente, pela expansão das atividades humanas e pela intensidade do uso da terra (DOLBBER et al., 1996), com influência direta e indireta no padrão de distribuição e na abundância das espécies devido ao processo de alteração da paisagem original (WIENS, 1996). Mudanças em atitudes humanas em relação à vida silvestre também podem ser consideradas uma alternativa viável (MATSCHKE et al., 1984; WAGNER et al., 1997).

Neste trabalho são apresentados alguns relatos mais recentes sobre a ocorrência crescente e preocupante de capivara (Hydrochoerus hydrochoeris), javali (Sus scroffa), lebrão (Lepus europaeus), maritaca (Aratinga leucophthalma) e pomba-amargosa (Zenaida auriculata), causando prejuízos e inviabilizando a produtividade em lavouras de cereais, frutíferas, hortaliças, oleaginosas e de leguminosas adubos-verdes em algumas regiões no Estado de São Paulo, particularmente nos últimos cinco anos. Ainda, pretendeu-se destacar a importância econômica dessa ocorrência na agricultura para suscitar a necessidade de discussão conjunta objetivando tanto a conscientização dos produtores quanto o estabelecimento de procedimentos ambientais responsáveis e adequados ao manejo dessa fauna que se tornou “daninha” para muitas lavouras e para a sustentabilidade da atividade agrícola.

2.1. Capivara (Hydrochoerus hydrochoeris)

A capivara (Figura 1), considerada o maior roedor do mundo, é um animal nativo das Américas Central e do Sul, incluindo-se o Brasil, e que está disseminado em vários tipos de ambientes por toda a América Tropical (OJASTI, 1973; AZCARATE, 1980; EMMONS, 1990).

Em geral, seu habitat é constituído por uma pequena área de floresta sempre próxima a uma fonte de água permanente, como pequenos cursos de rios ou estuários, utilizados para pastejo/alimentação, descanso, abrigo, acasalamento, gestação e refúgio contra predadores. Vivem sozinhos ou em grupos e são diurnos ou noturnos dependendo do habitat, da pressão de caça ou da estação do ano (OJASTI, 1973; AZCARATE, 1980; MACDONALD, 1981; EISENBERG; REDFORD 1999).

Por ser animal herbívoro, alimenta-se de gramíneas ou de plantas aquáticas (OJASTI, 1973), entretanto, tem grande capacidade de adaptação aos agroecossistemas devido à sua elevada plasticidade alimentar. Esse padrão de alimentação, possivelmente associado ao desaparecimento de seus predadores naturais, tem transformado a capivara em um animal daninho à agricultura em determinadas regiões.

A proliferação indiscriminada desses roedores também foi constatada após o estabelecimento de leis ambientais nacionais, regularizando-se a preservação da mata ciliar e dos animais, sem quaisquer orientações para seu manejo populacional.

Esse fato é preocupante quando concomitantemente se constatam doenças novas advindas da relação entre animais silvestres e o homem, destacando-se surtos de febre-maculosa, conhecida como febre-do-carrapato, causada por bactérias do gênero Rickettsia, transmitidas por carrapatos do gênero Amblyomma, ectoparasitos de capivaras e introduzidos nas cidades por esses roedores, quando acessam os rios ou outros mananciais de água próximos ou localizados em áreas dessas cidades (BARCI e NOGUEIRA, 2006).

As capivaras são ainda suscetíveis à febre aftosa, uma enfermidade causada por um dos menores vírus de estrutura complexa e virulência para os animais e o homem, de divulgação mundial, muito contagiosa, de evolução aguda e transmitida de animais doentes para humanos, por exposições das vias hematógenas (sangue circulante), podendo ocorrer em situações muito especiais (ANDRADE JÚNIOR et al., 2008).

Na área rural uma das relevantes consequências para a atividade agrícola são os constantes prejuízos verificados nas diversas lavouras.

No Polo Regional em Monte Alegre do Sul (SP), têm sido verificados danos frequentes às culturas de hortaliças diversas, como: alface (Lactuca sativa L.), cenoura (Daucus carota L.), repolho (Brassica oleracea variedade capitata L.) e couve-flor (Brassica oleracea var. botrytis L.); de cereais, como: arroz (Oryza sativa), milho (Zea mays L.) e trigo (Triticum aestivum L.) e de mandioca (Manihot esculenta Crantz).

No Centro de Frutas - IAC, em Jundiaí (SP), no outono-inverno de 2000 a 2002, foram verificados animais dessa espécie descansando e amassando plantas de chícharo (Lathyrus sativus L.), tremoço-branco (Lupinus albus L.) e aveia-preta (Avena strigosa) em experimento desenvolvido nas ruas da videira (Vitis vinifera L.) ‘Niagara Rosada’, com prejuízos tanto ao pleno desenvolvimento das plantas dos adubos-verdes quanto aos resultados da experimentação em curso.

Em estudo com amostragem sistemática em campo de milho, em Piracicaba (SP), foram constatados danos causados por capivaras em 26% da área plantada. A maior porcentagem deles ficou localizada nas bordas da cultura, sendo aqueles determinados nas áreas adjacentes ao fragmento de mata significativamente maiores do que no restante do terreno. Diante desse fato, ficou sugerida uma relação entre a estratégia de utilização da área de alimentação pela capivara e a proximidade dos recursos “floresta” e “água” (FERRAZ et al., 2003).

No Polo Regional do Centro Sul, em Piracicaba (SP), sua ocorrência foi relatada em 2010 e 2011, também e respectivamente, em campos experimentais com milho e milho-verde. Além de se deitarem, amassando as plantas, os animais também se alimentaram dos colmos de milho prejudicando o desenvolvimento das plantas e infestando a área com carrapatos (Figura 2).

Em 2012, em Campinas (SP), foram constatadas capivaras em área experimental cultivada com materiais do banco de germoplasma de girassol (Helianthus annuus L.) do Instituto Agronômico - IAC. Os animais se deitaram, amassando as plantas, roeram os colmos e assim comprometeram o desenvolvimento vegetativo (Figura 3), deixando pegadas e fezes como evidências de sua ocorrência na área (Figura 4).

Em registro recente, datado de 7 de setembro de 2012, na Fazenda Cachoeirinha, município de Santo Antonio do Aracanguá (SP), o engenheiro-agrônomo Júlio César Zambão, analista ambiental do IBAMA, constatou ataque de capivaras por ocasião da rebrota em lavoura de cana-de açúcar, sendo mais intenso na região próxima do abrigo dos animais, que é uma área de preservação permanente do córrego (Figura 5).

No Estado de Santa Catarina, no município de Ponte Alta, as capivaras invadem as lavouras de milho e comem as canas das plantas antes mesmo da formação de espigas. No município de Cerrado, também nesse mesmo Estado, as capivaras invadem a plantação em bandos de até mais de vinte animais, destruindo-a completamente, pois roem a base da planta de milho (JORNAL NOSSA TERRA, 2012).

O javali (Figura 6) é de origem européia e asiática, sendo o ancestral dos porcos domésticos atuais, com o mesmo nome científico: Sus scroffa. Como seu parentesco é muito próximo ao do porco doméstico, acasalam-se com grande facilidade, sendo gerados animais férteis, muito maiores e com taxa reprodutiva muito maior que a do javali puro, denominados javaporcos ou mesmo javalis asselvajados, causadores de grande prejuízos (DEDERDT, 2006; HAYASHI e SANCTIS, 2010).

Segundo o engenheiro-agrônomo Júlio César Zambão, do IBAMA, praticamente não há javalis soltos, mas java-porcos, estes muito mais agressivos, vorazes e vivendo em bandos. Grande parte desses animais teria escapado dos criatórios existentes há 10-15 anos ou sido irresponsavelmente libertada por criadores que desistiram de sua criação; na jurisdição do IBAMA de Araçatuba foram fechados todos os 18 criatórios existentes. Com a expansão da cultura da cana-de-açúcar naquela região, menciona-se o favorecimento da criação de abrigos aos bandos de java-porcos, especialmente nas áreas de cana mais velha e também relatos de sua ocorrência nos mais diferentes pontos da região Oeste do Estado de São Paulo. Além dos muitos danos nas culturas de banana (Musa spp.), batata-doce [Ipomoea batatas (L.) Lam.], mandioca, milho e outras, são constatados severos prejuízos ambientais decorrentes do enchafurdamento dos animais nas áreas de preservação permanente dos córregos e da destruição de mudas em processo de regeneração das matas ciliares.

Por ser um animal onívoro, o javali se alimenta em grande quantidade e de tudo, como pastagens de gramíneas, frutas, grãos – preferencialmente de milho, batata (Solanum tuberosum L.) e mandioca, brotos, raízes, bulbos e também invertebrados, como minhocas e cobras, e provavelmente outros pequenos animais, destruindo lavouras em qualquer lugar, diferentemente da capivara. Devido ao seu hábito de revolver a terra, pode gerar problemas em pequenos mananciais e nascentes de água pelo assoreamento, turbidez da água e destruição da vegetação nativa protetora. Em consequência, pode-se ter até tombamento de árvores de médio porte pela destruição das raízes em sua procura por vermes e larvas. Na lavoura de milho, seu alimento favorito, as reduções de produtividade podem ser superiores a 50% e, nas de batata, o prejuízo é verificado desde o início do plantio, devido ao arranquio das batatas-sementes e revolvimento dos sulcos e, ainda, durante o ciclo vegetativo, danos às ramas e aos tubérculos novos (HAYASHI e SANCTIS, 2010; REDE PRÓ-FAUNA, 2012).

O crescimento populacional dos javalis asselvajados é devido à escassez de predadores naturais e à grande disponibilidade de alimentos nas culturas agrícolas e no ambiente natural; esses animais também são predadores de animais de criação como aves domésticas e cordeiros (DEDERDT, 2006).

Além dos danos diretos, outro risco é que o javali asselvajado é um animal bastante resistente às diversas moléstias, o que faz dele um possível reservatório ou vetor para uma série de doenças, como a febre aftosa, doença muito contagiosa aos animais causada pelo vírus da família Picornaviridae; a leptospirose; as doenças dos cascos e da boca; a teníase; a cisticercose e a raiva suína, transmitida ao homem e aos animais pela inoculação do Lyssavirus, podendo cruzar com porcos criados nos quintais das áreas rurais e atacar pessoas (DEDERDT, 2006; HAYASHI e SANCTIS, 2010).

No Estado de São Paulo, os danos causados por esses animais têm sido significativos em uma extensa área dos municípios de Amparo, Atibaia, Bragança Paulista, Itatiba, Monte Alegre do Sul, Morungaba, Pedra Bela, Pinhalzinho e Tuiuti e, ao que tudo indica, estão confinados, nessa região, entre os rios Jaguari e Camanducaia.

Em 2004 fez-se a primeira constatação de javalis em áreas experimentais situadas em maiores altitudes no Polo Regional do Leste Paulista, em Monte Alegre do Sul (SP), na cultura do milho (Figuras 7 e 8).

Em 2009, em comunicado informal ao agrônomo Júlio César Zambão, do IBAMA, foi relatada a ocorrência de javalis em plantação de batata-doce em Dracena (SP). Como os tubérculos haviam sido plantados em leiras, à semelhança de curva de nível, os animais não se alimentavam diretamente das plantas, mas das batatas, após esburacarem o barranco. Devido à distância percorrida até essa plantação, o rastro desse bando foi seguido, a cavalo, após uma noite de chuva, em torno de 15 km, passando por pastos, brejos e por algumas matas ciliares, até um canavial abandonado em uma usina e localizado em grotão de difícil acesso. Pelos rastros no local, estimou-se um bando de pelo menos sessenta animais, sendo muitos deles de porcas paridas e um grande e bastante afundado na terra molhada, provavelmente do líder.

Mais recentemente, em 26 de abril de 2012, foi observado um bando desses animais se alimentando de resíduos da cultura de milho, após a gradagem do solo (Figura 9), no Polo Regional em Monte Alegre do Sul (SP). Nesse local, os animais têm causado prejuízos do plantio à colheita também às culturas da cana-de-açúcar (Saccharum officinarum L.), sorgo (Sorghum bicolor L. Moench) e mandioca. Na de abóbora (Cucurbita moschata), inicialmente eles não se alimentavam dos frutos, mas, em 2012, causaram prejuízos naqueles ainda imaturos e no fim do ciclo das plantas. Ainda nesse mesmo ano, enquanto apenas esburacaram canteiros cultivados com cúrcuma (Curcuma aromatica Salisb.) (Figura 10), consumiram totalmente as plantas de experimentos de mangarito (Xanthosoma sagittifoliun), mesmo em área cercada por tela plástica de sombreamento branca, restando apenas as estacas demarcatórias dos canteiros (Figura 11). Ainda, reviraram o solo em local úmido, em busca por minhocas, em culturas de café (Coffea arabica L.) e de chuchu [Sechium edule (Jacq.) Swartz] e em matas e nascentes de água.

O lebrão (Figura 12) é um animal de hábito noturno, voraz, não pertencente à fauna brasileira e mesmo assim é protegido pela legislação ambiental (TOMAZELA, 2011).

Em julho de 2010, na Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento - UPD do Centro de Insumos Estratégicos e Serviços Especializados, em São Roque (SP), foram constatados os primeiros dois ou três exemplares desse animal e sua população foi consideravelmente aumentada desde então. Foram destruídas lavouras experimentais de hortaliças, como alface, brócoli (Brassica oleracea var. itálica), couve-flor e repolho, bem como dos adubos verdes C. spectabilis e C. juncea nessa Unidade de Pesquisa.

Em 2011 foi divulgado um relato sobre a preocupante devastação de lavouras no Estado de São Paulo pelo lebrão que se tornou problema tanto para os agricultores quanto para os órgãos de pesquisa agrícola, decorrente do aumento populacional constatado a cada ano e dos prejuízos causados por sua voracidade, relatados em todas as regiões desse Estado, à exceção dos Vales do Ribeira e do Paraíba, por enquanto. A situação se tornou tão grave que foram solicitadas informações à Secretaria do Meio Ambiente pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento Paulista para adoção de medidas de controle desse animal (TOMAZELA, 2011).

No caso específico das leguminosas, há tempos se conhece uma preferência alimentar do lebrão pela soja [Glycine max (L.) Merr.] (Figura 13) e feijão (Phaseolus vulgaris L.) e, dentre aquelas utilizadas como adubos verdes, pela C. juncea L. (Figura 14), destacadamente.

No Polo Regional em Piracicaba (SP), constatou-se a presença danosa dos lebrões já no primeiro cultivo de uma coleção de leguminosas adubos-verdes em 1999. A principio, alimentavam-se principalmente de plântulas de crotalária júncea, mas, posteriormente, também das de soja. Desde então, a ação desses animais só aumentou e eles chegam a consumir completamente os canteiros cultivados com ambas as espécies, que parecem ser de sua preferência alimentícia.

Mais recentemente, no início de 2012, também foram verificados danos, porém em menor intensidade, em plantas novas da leguminosa mucuna-anã [Mucuna deeringiana (Bort.) Merr.], cultivada como adubo-verde (Figura 15), em área experimental do Instituto Agronômico – IAC, em Campinas (SP).

Em 2007, verificou-se população reduzida do lebrão nas áreas experimentais do Polo Regional em Monte Alegre do Sul (SP), com alguns poucos prejuízos em culturas de hortaliças diversas e de soja. Nesse mesmo ano, entretanto, o problema foi sério em diversas cidades do Estado de São Paulo, como Bragança Paulista, Itatiba, Rio Claro e São Carlos, em lavouras de brócolis e couve-flor, cujas plantas foram totalmente consumidas por esse animal quando novas.

Em São Carlos (SP), um produtor de hortaliças folhosas relatou a preferência do lebrão por plantas da família Brassicaceae, especialmente o brócolis de cabeça única, bem como pela alface do tipo americana. Produtores de outras regiões, como Bragança Paulista e Itatiba (SP), também confirmaram a preferência do lebrão por estas espécies. O lebrão muitas vezes não se alimenta da planta toda, porém, no caso de brócolis e couve-flor, destrói a gema apical da planta logo após o transplante das mudas ou quando a planta ainda está pequena, inviabilizando a produção. Em Rio Claro (SP), relataram-se 30% de perdas em cultivo de brócolis, logo após o transplante das mudas.

Com base em relatos de produtores de outras unidades da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, verificou-se a disseminação desse lebrão por grande parte do Estado de São Paulo com consequentes e severos prejuízos.

Em Anhembi, distrito de Piracicaba, Sarapuí e Capela do Alto (SP), houve relatos de danos em melancia [Citrullus lanatus (Thunb.) Matsum. & Nakai], e alguns produtores estão até desistindo do seu cultivo, devido aos danos às plantas, aos frutos novos e no ponto de colheita (Figura 16). Também no Polo Regional do Centro Leste, em Ribeirão Preto (SP), foram constatados danos em frutos de melancia, mesmo naqueles imaturos, com reduções de produtividade de até 15% (Figura 17).

Em São Manoel (SP), um paulistano desistiu do cultivo de maracujá (Passiflora sp.), retornando à capital e, em Itápolis (SP), os lebrões devoraram até as mudas de laranja (Citrus sinensis L. Osbeck.), sendo necessário o replantio de 40% da área em alguns pomares novos. A maior concentração desses animais foi constatada nos municípios de Piedade, Pilar do Sul e São Miguel Arcanjo, na região de Sorocaba (SP), com tradição no cultivo de hortaliças e legumes, e no Pontal do Paranapanema (SP), onde áreas de abóbora foram dizimadas, como relatado por TOMAZELA (2011).

Em Indaiatuba (SP), um produtor relatou lebres roendo a casca de plantas de maracujá, que acabaram sendo totalmente dizimadas.

Em agosto de 2012 um grupo de trabalho da Coordenadoria de Biodiversidade e Recursos Naturais da Secretaria do Meio Ambiente visitou produtores nos municípios de Alumínio e Ibiúna (SP). Para um produtor de maracujá de Alumínio, o dano econômico estimado foi da ordem de R$ 25.000,00.

Em Ibiúna, foram constatados danos do lebrão em repolho-roxo, sendo difícil para o produtor estimar as perdas e o consequente dano econômico na lavoura. Diferentemente do verificado na cultura do maracujá, cujas plantas são totalmente dizimadas, na do repolho-roxo, o grupo de trabalho constatou consumo médio de cinco a sete folhas por planta pelo lebrão, o que implicará colheita de cabeças menores da hortaliça, mas sem possibilidade de quantificação dessa redução de tamanho (Figura 18).

Mais recentemente, desde o início do ano de 2012, têm sido registradas infestações muito prejudiciais dessas lebres em áreas experimentais e em campos de produção de sementes de C. juncea L., tanto no IAC, em Campinas, quanto no Polo Regional em Mococa (SP). As plantas de C. juncea parecem ser particularmente palatáveis ao animal, desde a emergência até pelo menos 30 dias do ciclo. Nessa fase inicial, os prejuízos são quase que totais porque as plantas são cortadas, sem chances de continuidade de seu desenvolvimento, verificando-se reduções drásticas do estande (Figura 19) e da fitomassa estabelecida para a finalidade de cobertura do solo. De fevereiro a agosto de 2012, curiosamente não foram verificados danos desses animais em outras espécies de Crotalaria, como C.breviflora, C. spectabilis, C. paulina, C. mucronata e C. ochroleuca, cultivadas lado a lado, em área experimental do IAC em Campinas (SP).

Em 2012, constatou-se a ocorrência do lebrão também em área experimental cultivada com materiais genéticos de gergelim (Sesamum indicum L.) do Banco de Germoplasma dessa oleaginosa no IAC, em Campinas (SP) (Figura 20).

A maritaca, também conhecida como periquitão-maracanã ou maricatã (Figura 21) é uma ave da família dos Psitacídeos, que também abrange as araras e papagaios, e ocorre do Nordeste (sul do Piauí, Pernambuco, Alagoas) e Leste até o Sul do Brasil, Goiás e Mato Grosso, além da Bolívia, Paraguai e Argentina. Vive na mata alta, em pinheirais e matas ciliares e procura seu alimento, geralmente frutos, nas copas das árvores mais altas e em certos arbustos.

Essas aves apreciam mais as sementes do que a polpa das frutas, sendo atraídas por árvores frutíferas como goiabeiras (Psidium guajava L.), jabuticabeira (Myrcia cauliflora Berg), laranjeiras (Citrus sp.), mamoeiros (Carica papaya L.) e mangueiras (Mangifera indica L.). Comem brotos, flores e folhas tenras, inclusive as do eucalipto (Eucalyptus sp.); os cocos de muitas palmeiras são sua alimentação predileta (MARITACAS, 2010).

No Polo Regional em Piracicaba (SP), os prejuízos têm sido mais frequentes na cultura do girassol. A partir de 2000, inclusive e, desde que os trabalhos em agricultura orgânica foram intensificados e que essa oleaginosa foi incluída tanto na coleção de adubos verdes quanto nos experimentos de rotação com cana-de-açúcar, constatou-se aumento da ocorrência dessas aves, também verificadas na cultura do milho.

Também em 2000, foram verificadas maritacas sobre plantas de girassol cultivadas em campos demonstrativos da oleaginosa na Feira Internacional de Tecnologia Agrícola - Agrishow, realizada no Polo Regional em Ribeirão Preto (SP) (Figura 22).

Em agosto de 2006 e em fevereiro de 2007, essas aves foram constatadas, respectivamente, em plantas de trigo e girassol no Polo Regional, em Monte Alegre do Sul (SP) e, desde 2006, também em plantas de girassol (Figura 23) do programa de melhoramento genético dessa oleaginosa no IAC, além do sorgo (Figura 24), em Campinas (SP).

Os produtores de uva da região de Jundiaí (SP), também estão preocupados com o aumento anual crescente da população das maritacas e com os frequentes e recentes prejuízos verificados na safra 2011/2012, sobretudo à qualidade dos frutos.

A pomba-amargosa, nome comum atribuído ao sabor levemente amargo de sua carne, é também conhecida como pomba-de-bando, amargosinha ou avoante, este na região Nordeste do país (Figura 25).

É uma ave originalmente campestre, nativa da América do Sul, de ocorrência natural e abundante em campos abertos de ambientes áridos e semiáridos e de fácil adaptação aos ambientes alterados com vegetação baixa, áreas agrícolas e urbanas. Devido a essas características, sua distribuição geográfica é abrangente, incluindo-se a Caatinga, os Pampas, o Cerrado e o Chaco, sendo limitada pelas Florestas Tropicais Amazônica e Atlântica, já que essa ave evita áreas com florestas densas.

Devido ao frequente desmatamento e à crescente expansão das fronteiras agrícolas e das áreas de pecuária extensiva, entretanto, tem sido verificado aumento crescente das áreas habitáveis por essa espécie, tanto no ambiente rural quanto no urbano, em cidades tanto de médio quanto de grande porte, com reflexos na agricultura e na saúde pública. Ainda, essas aves convivem em grupos relativamente grandes (Figura 26) e suas colônias reprodutivas são essenciais na busca do alimento pois funcionam como centros de informação (MAKUTA, 2009).

A dieta dessa ave é constituída basicamente de grãos, sendo, há mais de três décadas, uma preocupação constante dos produtores de grãos na região Sudeste do País e nas regiões de Assis, Campinas, Colina e Mococa, no Estado de São Paulo, como também em todas as muitas outras onde se cultiva particularmente a soja nesse Estado e, ainda, arroz, girassol, milho, sorgo e trigo. Sua ocorrência pode ser verificada desde o início da implantação das lavouras, na germinação das sementes, até a colheita e transporte, quando se constatam perdas de grãos em quantidades variáveis, devido à regulagem incorreta das máquinas colhedoras ou transportadoras (Figura 27).

No Vale do Médio do Paranapanema (SP), de 1940 a 1960, essa espécie fazia seus ninhos em pés-de-café e não era considerada uma praga agrícola séria, sendo sua ocorrência documentada em informações e entrevistas com antigos moradores da zona rural dos municípios de Assis, Echaporã e Cândido Mota (BRANNSTROM, 2003).

Nessa mesma região, nos anos oitentas do século passado, com os incentivos do Programa Pró-Álcool houve um aumento considerável na área cultivada com a cultura da cana-de-açúcar, com consequentes alterações no agroecossistema regional. Em consequência, foi favorecido um aumento explosivo na população da pomba-amargosa, redundando na presença de bandos muito populosos destas aves, que se alimentavam de várias culturas economicamente importantes na região, principalmente o arroz, a soja e o trigo, e também o girassol e sorgo (OKAWA et al., 2001).

Em estudos de RANVAUD et al. (2001) na região do município de Tarumã (SP), constatou-se reprodução dessas aves em uma colônia situada em um canavial. Sua dieta era composta, em 70% do peso seco, por quatro grãos cultivados, sendo eles, em ordem de importância, milho, trigo, arroz e soja; as sementes de três espécies de infestantes, Euphorbia heterophylla, Brachiaria plantaginea e Commelina benghalensis também foram importantes constituintes dessa dieta. Essas informações foram indicativas da ampla adaptação das pombas à paisagem gerada pelas práticas agrícolas regionais.

Em 2003, devido a uma grande colônia reprodutiva, de mais de quatro milhões de aves, em campos cultivados com a cultura de cana-de-açúcar (Figura 28), foi gerado um grave conflito entre técnicos ambientais e agricultores na região do Vale do Médio do Paranapanema (SP) (BRANNSTROM, 2003). Este caso tornou-se emblemático porque se verificou aumento da população da espécie apesar do controle realizado pelos agricultores, que consistiu da captura de ovos nos canaviais para posterior destruição. Como não se fez o devido estudo da espécie, ao contrário do esperado, as pombas geraram mais ovos quanto mais deles foram coletados pelos agricultores.

Na cultura da soja, os principais danos ocorrem em seus cotilédones (Figura 29) e, em consequência, verifica-se prejuízo ao estande, ao adequado estabelecimento da cultura e à sua produtividade, tanto nas áreas experimentais quanto naquelas particulares, para produção de grãos.

É muito difícil, entretanto, estabelecer uma estimativa confiável das perdas nas colheitas causadas diretamente pelas pombas. Em avaliações pontuais, RANVAUD (1999) determinou danos em até mais de 30% de plântulas de soja, com prejuízo comparável ao causado por outras pragas de importância, combatidas com a aplicação de defensivos.

Como alternativas de controle desses animais silvestres que, eventualmente passam a causar danos na agricultura, devem ser consideradas tanto as mudanças em práticas ou atitudes humanas, como o estabelecimento de programas compensatórios de perdas econômicas para aumentar a tolerância humana aos danos causados por essa fauna-problema (MATSCHKE et al., 1984; WAGNER et al., 1997). De acordo com DOLBEER et al. (1996), o fator-chave para qualquer programa de manejo seriam locais alternativos, com possibilidade de manutenção da vida silvestre próxima à dos humanos. Dessa maneira, as ações de manejo seriam baseadas não apenas em princípios ecológicos mas também naqueles de natureza sócio-econômica.

Uma alternativa para redução do impacto da influência da fauna silvestre seria o manejo dos animais em seu próprio habitat, com o devido controle da densidade populacional por meio da exploração periódica dos indivíduos (OJASTI, 1973; MATSCHKE et al., 1984; MCNULTY et al., 1997; SHEA et al., 1998).

Outra possibilidade seria o estabelecimento de área adicional da mesma cultura comercial ou mesmo de culturas mais atrativas para atendimento das necessidades básicas alimentares dos animais (MATSCHKE et al., 1984; FERRAZ et al., 2003).

No caso das capivaras, apesar das restrições legais no Brasil, o abate desses animais é considerado por muitos uma alternativa racional, já que é uma das espécies sul-americanas com potencial para o manejo sustentável (MOREIRA e MACDONALD, 1997). A redução populacional desse roedor pode resultar em diminuição dos danos à agricultura nas áreas de sua ocorrência.

A quantidade de alimento oferecido pelas culturas pode aumentar a disponibilidade de recursos para uma determinada espécie e, no caso das capivaras, com o aumento da densidade populacional, consequentemente se tem, cada vez mais, aumento dos prejuízos às culturas (LACHER et al., 1998; FERRAZ et al., 2003).

Medidas de controle como evitar o cultivo de milho em áreas adjacentes aos fragmentos florestais utilizados por capivaras e, quando possível, adoção de práticas de controle populacional, podem significar a redução da ocorrência de danos causados aos agroecossistemas (FERRAZ et al., 2003).

Como tentativas para se impedir o acesso desses animais às lavouras, em áreas experimentais do Polo Regional do Leste Paulista, em Monte Alegre do Sul (SP), culturas de milho e mandioca foram inicialmente cercadas com tela plástica de sombreamento branca (Figura 30). Em 2000 instalou-se um alambrado com mourões de eucalipto, de um dos lados do rio Camanducaia, que passa no meio dessa unidade, o que tem ajudado, desde então, na contenção das capivaras na área de mata ciliar desse Rio; cabe destacar tanto sua eficácia de controle quanto sua durabilidade, desde que se faça sua adequada manutenção (Figura 31). O cultivo da leguminosa adubo verde lablabe (Dolichos lab lab) pareceu ser repelente ao animal, mas faltam subsídios científicos para confirmação dessa constatação pessoal.

Quanto aos javalis asselvajados, seu controle é tarefa difícil, porque se embrenham em matas fechadas com extrema rapidez, possuem faro muito apurado, aprendem rapidamente a evitar o homem e suas armadilhas, têm elevada capacidade de adaptação aos variados ambientes, possuem taxa reprodutiva muito superior a qualquer outro animal da Ordem dos Ungulados e podem atacar pessoas e animais com violência quando acuados, causando graves ferimentos ou até a morte. À exceção de algumas populações isoladas com características genéticas únicas, a União Internacional Para a Conservação da Natureza - IUCN, por meio de seu Grupo de Especialistas em Porcos e Pecarídeos, recomenda considerar todas as populações de suídeos (Sus scrofa) naturalizados como uma praga exótica a ser controlada, reduzida em número ou erradicada da forma mais adequada possível. Atualmente, os métodos mais eficientes no controle e na mitigação dos danos causados pelos javalis são a adoção de ações preventivas como a fiscalização e o fechamento de criadouros clandestinos e a atuação precoce a partir da identificação de um foco de javalis asselvajados, já que, ressalte-se, é muito difícil a erradicação de uma população estabelecida de javalis (DEDERDT, 2006).

Em área experimental do Polo Regional em Monte Alegre do Sul (SP), de 2006 a 2011, os javalis, inicialmente não adentravam a tela plástica de sombreamento branca, impeditiva ao seu acesso a um experimento de abóboras (Figura 32). Motivados pela fome, entretanto, conseguiram invadir a área, alimentando-se de quase todos os frutos dessa cucurbitácea (Figura 33). Diante desse fato, em 2012, ao redor da cerca feita com tela plástica foi necessária a instalação de uma cerca elétrica com três fios, de total eficácia de controle do acesso do animal à área experimental, já que não se aproximam muito depois da cerca instalada, mantendo uns 3 m de distância dela (Figura 34). O custo médio dessa cerca foi cerca de R$2,00 o metro, além de R$1,00 para instalação em 2012. Os valores foram calculados em função dos custos de R$ 170,00 da bateria, em caso de interrupção, temporária ou mais prolongada, de energia; de R$85,00 do aparelho de choque para eletricidade e bateria; dos mourões instalados a cada 10 a 20 m, de acordo com o terreno; de R$1,00 de cada isolador no mourão; de R$8,00 de cada esticador mais R$2,80 de cada isolador nas extremidades e de R$ 230,00 para mil metros de arame apropriado.

Sobre o lebrão, uma das possíveis formas de seu controle nas condições do Estado de São Paulo, mas apenas para áreas de dimensões muito reduzidas, tem sido a utilização de cercas com telas de arame ou de plástico para impedir o acesso dos animais às lavouras de plantas mais suscetíveis. Isso foi constatado em áreas experimentais com a leguminosa adubo-verde C. juncea em Campinas (Figura 35) e Mococa (Figura 36), em São Paulo. No caso dessa espécie, se a área for cercada logo após a constatação do animal, ainda poderá haver rebrota nas hastes jovens cortadas e a retomada do crescimento, porém, com algum prejuízo na produção de fitomassa e de grãos (Figura 37).

Em áreas maiores, entretanto, essa prática é inviável devido ao elevado custo total do material necessário para fechamento da área. Apenas como exemplo, na UPD de São Roque (SP), em 2011, foi orçado um custo aproximado de R$3,60 o metro da cerca, com tela de galinheiro de 1,5m de altura, mas sem considerar a mão de obra necessária para sua montagem e instalação. Nessa localidade, a partir de 2010 e, após a constatação dos primeiros exemplares do lebrão, fez-se uma tentativa de convivência com os animais, utilizando-se espantalhos e repelentes à base de pimentas e cabelo humano, mas o efeito foi temporário e não foram evitados os danos econômicos.

A Polícia Ambiental, o IBAMA e a Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo foram então contatados, sendo que dois dos três órgãos desconheciam os danos causados pelo lebrão, por falta de relato do referido problema. Na sequência, a Coordenadoria de Biodiversidade e Recursos Naturais, por meio do Departamento de Fauna da Secretaria do Meio Ambiente do Estado, demonstrou interesse pelo assunto, comprometendo-se a estudá-lo com vista ao manejo do animal desde que os danos econômicos fossem comprovados.

Em 2012, um produtor de maracujá de Alumínio (SP), tentou impedir o acesso dos lebrões com cerca elétrica (Figura 38), mas essa forma de proteção não foi eficaz. Conseguiu algum resultado favorável com a proteção individual das plantas de maracujá do novo cultivo com sacos de ráfia (Figura 39), mas, ainda assim, seu dano econômico foi estimado em cerca de R$ 25.000,00.

Quanto às maritacas, no IAC, em Campinas e no Polo Regional, em Monte Alegre do Sul (SP), foi impedido o acesso dessas aves, recobrindo-se culturas de girassol (Figuras 40 e 41) e de trigo (Figura 42) com tela plástica de sombreamento branca, porém, apenas em pequenas áreas. Assim, foram evitados prejuízos à produção de grãos e, consequentemente, às pesquisas em melhoramento genético com ambas as espécies. Ainda em Campinas (SP), evitaram-se os danos dessas aves, recobrindo-se individualmente os capítulos de girassol (Figura 43) e as panículas de sorgo (Figura 44) com sacos de ráfia.

No caso das pombas-amargosas, cabe destacar que a eliminação dessas aves por quaisquer métodos de abate, como iscas envenenadas, envenenamento geral, aplicação de inseticidas e mesmo a caça com arma de fogo, além de proibida por Lei Ambiental, foi sempre ineficaz (OKAWA et al., 2001).

Como tentativa de redução populacional dessa ave, de janeiro de 1993 a agosto de 1994 foi desenvolvido um programa oficial e abrangente de manejo, baseado na coleta de ovos e ninhos, com a colaboração do Centro de Desenvolvimento do Vale do Paranapanema – CDVale e das Cooperativas do Vale e a aprovação do IBAMA. Nesse período foram coletados e destruídos mais de 20 milhões de ovos e filhotes das pombas, porém, sem qualquer eficácia de controle. Devido à complexidade do ecossistema, ficou evidenciada, como uma das soluções, a redução da quantidade de alimento disponível nas lavouras (RANVAUD, 1999).

O método mais satisfatório de controle e de redução dos prejuízos econômicos causados por essas aves na agricultura ainda é seu afugentamento, fazendo-se bastante barulho. Para tal são utilizados métodos tradicionais, consistindo de tiros de rojão, buzinas, motocicletas sem silenciador e batidas de latas. Para áreas inferiores a 25 hectares pode-se dispensar as motocicletas, utilizando-se quatro afugentadores a pé com o uso intensivo de rojões. O uso de motocicleta, por sua vez, está condicionado às adequadas condições de umidade do solo, já que seu deslocamento pode ser dificultado ou mesmo impedido logo após as chuvas devido ao deslizamento e ao empastamento da roda pelo barro (OKAWA et al., 2001).

Cabe esclarecer que o afugentamento não precisa ser necessariamente uniforme pois não há um padrão uniforme para a ocorrência da pomba-amargosa, ou seja, as lavouras não são prejudicadas na mesma intensidade. Em Tarumã (SP), na região do Médio Vale do Paranapanema, safra 1998/1999, foram desenvolvidos estudos comparativos de custos entre métodos de afugentamento de pombas-amargosas. Na ocasião foram estimados valores médios de R$13,56 e R$36,68 por hectare, respectivamente, com os métodos tradicionais e com um então método inovador, constando de sobrevoos com um aeromodelo teleguiado, desenvolvido especialmente para o estudo (OKAWA et al., 2001).

Em tempos mais recentes, o método mais adotado nas áreas cultivadas sobretudo com soja, ainda tem sido o afugentamento por barulho de rojões e, eventualmente, por motocicletas. Como a incidência das aves é proporcionalmente menor nas áreas maiores, os custos de afugentamento podem ser reduzidos com a adoção de talhões com formas de menor relação perímetro/área, como no caso de áreas quadradas em relação àquelas retangulares ou dispostas em faixas compridas (OKAWA et al., 2001).

A estratégia de parcelamento das épocas de semeadura para favorecimento do afugentamento pode ser contraindicada, sendo recomendável a semeadura da maior área contínua possível de uma única vez e o incremento da equipe e do equipamento de afugentamento. Essa estratégia pode ser viável por meio de mutirões de semeadura e de afugentamento entre os agricultores, reduzindo-se os custos por hectare. Como medida complementar, tem-se, ainda, a adoção de práticas agrícolas favoráveis à melhoria da uniformidade da lavoura e à redução do tempo tanto de emergência das plântulas de soja quanto daquele de mais suscetibilidade da cultura às pombas. Tais práticas seriam, por exemplo, a utilização de sementes com qualidade fisiológica e sanitária, melhoria da qualidade do preparo da área de cultivo ou adoção do sistema de plantio direto, com controle da profundidade de semeadura (OKAWA et al., 2001).

Cabe ressaltar que o aumento populacional das pombas nas lavouras é consequência da quantidade crescente de alimento, disponibilizada nos desperdícios das colheitas e que devem ser obrigatoriamente reduzidos. Para tal devem ser otimizadas as operações agrícolas, desde o preparo do solo até o armazenamento dos produtos, além da redução das plantas infestantes na área cultivada (OKAWA et al., 2001).

Diante do exposto, da verificação habitual desses animais silvestres e dos consequentes e severos prejuízos às culturas e aos agricultores no Estado de São Paulo, inclusive em áreas não usualmente consideradas seus habitats, constata-se a necessidade urgente de estudos científicos e levantamentos sistemáticos de sua ocorrência, de quantificação dos danos econômicos e, sobretudo de estabelecimento de alternativas tanto de prevenção de acesso dos animais às áreas cultivadas quanto de manejo populacional racional, ecológico e respeitoso às vidas animal e humana, sem desconsiderar a preservação da biodiversidade e a proteção dos ecossistemas naturais.

No contexto do manejo integrado, cabe ressaltar a relevância da conscientização e da mudança de atitudes do produtor rural nos assuntos de proteção e das leis de crime ambiental, objetivando-se seu efetivo comprometimento na conservação dos recursos naturais na propriedade e nas regiões circunvizinhas e consequente manutenção frequente dos habitats da fauna silvestre.

Como resultados de esforços mais recentes, foram encaminhados relatórios da ocorrência de alguns animais silvestres, exóticos em sua quase totalidade, sobretudo dos lebrões, e uma solicitação de providências, tais como o manejo da espécie ou o controle de sua reprodução, tanto à Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo quanto ao Ministério Público Estadual.

Em 03 de agosto de 2012, um Grupo de Trabalho da Secretaria do Meio Ambiente/SMA-SP esteve nos municípios de São Roque, Alumínio e Ibiúna (SP), para elaborar um levantamento do dano econômico do lebrão. Na sequência, foi proposta a criação de um Termo de Cooperação entre as Secretarias do Meio Ambiente e de Agricultura e Abastecimento/SAA do Estado de São Paulo para estudos sobre o javali e a lebre. Da SAA, será inicialmente designado um grupo de trabalho a ser constituído por quatro funcionários dessa Secretaria de Estado para discussão de assuntos de manejo de fauna-problema.

Para ver o artigo completo com as imagens,

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Pesquisadores Científicos, Instituto Agronômico - IAC, Centro de Análise e Pesquisa Tecnológica do Agronegócio de Grãos e Fibras

Pesquisador Científico, Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento do Centro de Insumos Estratégicos e Serviços Especializados do DDD/Departamento de Descentralização do Desenvolvimento

Pesquisador Científico, Polo Regional do Leste Paulista/DDD

Pesquisador Científico, Instituto Agronômico - IAC, Centro de Análise e Pesquisa Tecnológica do Agronegócio de Horticultura

Pesquisador científico, Polo Regional do Nordeste Paulista/DDD

Pesquisador Científico, Polo Regional do Centro Leste/DDD

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