Artigo: Por que proteger as raízes do milho?

24.09.2015 | 20:59 (UTC -3)
André Figueiredo

Todo agricultor ou técnico considera o sistema radicular do milho um órgão muito importante para o sucesso da sua lavoura. Entretanto, poucos sabem como as raízes se desenvolvem, ou mesmo, como funciona este órgão tão importante que representa mais de um terço da planta.

O sistema radicular do milho apresenta inúmeras funções ao longo de todo o ciclo. Na fase final da cultura, por exemplo, pode assumir o papel de remobilizar reservas para auxiliar no enchimento dos grãos, permitindo maior peso. Mas dentre os principais papéis das raízes, salientamos a ancoragem das plantas, a aquisição de água e nutrientes, e a síntese de hormônios. É isso mesmo! A síntese de hormônios é bastante importante para o crescimento normal das plantas e sua tolerância a estresses.

A sustentação e ancoragem das plantas determina principalmente o desenvolvimento de raízes mais grossas e lignificadas. Elas apresentam maior desenvolvimento a partir da emissão das 12 folhas das plantas. Entretanto um dos grandes paradoxos no sistema radicular é de que quanto mais grossas forem as raízes, maior a sustentação das plantas, porém, menor é sua eficiência na absorção de água e de nutrientes. As raízes mais finas (abaixo de 0,2 mm de diâmetro), sãos as mais fisiologicamente ativas.

Os danos nas raízes, diferentemente dos danos em folhas, podem impactar significativamente mesmo quando acontecem em fases iniciais da cultura, ou em menor intensidade. Nem sempre são necessários danos muito elevados nas raízes para trazer perdas econômicas para a cultura. Além da possibilidade de causar doenças e podridões de raízes, danos em menor intensidade podem comprometer a eficiência das plantas.

Outra problemática que atinge esse tipo de plantação são as pragas, em especial, a Diabrotica Speciosa, também conhecida como Vaquinha ou Larva Alfinete. Este inseto está presente em todas as regiões do Brasil onde o milho é cultivado, fato este comprovado pela presença dos insetos adultos perambulando nas lavouras. Os danos da Diabrótica, além aumentarem os problemas de tombamento das plantas podem reduzir sensivelmente o volume das raízes mais finas e eficientes.

Este besouro pode fazer a postura de até mil ovos na base das plantas, próximo às raízes, de onde nascem pequenas larvas que rapidamente atacam as raízes das plantas. Esta praga age silenciosamente, os seus danos podem passar desapercebidos, em função das raízes ficarem escondidas no solo e, raramente, os agricultores procuram arrancar as plantas em diferentes estágios de desenvolvimento. Na tentativa de recuperarem os danos, as plantas emitem novas raízes. Porém, após ataque dessa praga, dificilmente o sistema radicular alcançará o mesmo desenvolvimento e eficiência fisiológica.

Contudo, hoje já existe tecnologia de ponta para a proteção das raízes, que além proteger o milho das principais pragas aéreas, também expressa a proteína Cry3Bb1. A biotecnologia agrícola proporciona a proteção das raízes contra o ataque da Diabrotica Speciosa, garantindo que o sistema radicular expresse seu potencial de crescimento e melhor funcionamento.

Vale salientar, ainda, que o crescimento e desenvolvimento das raízes dependem de vários fatores, por exemplo, umidade do solo, compactação, presença de níveis adequados de nutrientes, dentre outros. Neste sentido, o crescimento das raízes pode ser considerado como uma resposta adaptativa ao ambiente e o manejo da lavoura, que deve propiciar condições adequadas para um bom desenvolvimento das raízes.

A absorção de água e nutrientes no milho envolve três fatores: do volume e distribuição do sistema radicular, da sua eficiência fisiológica e da dinâmica de dos nutrientes no solo. Com relação a eficiência fisiológica, raízes mais novas, finas e menos lignificadas são as mais eficientes. A quantidade dessas raízes pode determinar um maior aproveitamento de água e de nutrientes. Esse é um dos maiores benefícios alcançados com a proteção das raízes.

Quanto a dinâmica dos nutrientes no solo, os principais mecanismos de suprimento são: interceptação radicular associada ao continuo crescimento das raízes, a movimentação dos nutrientes solubilizados na água presente no solo e ao pequeno movimento de difusão dos nutrientes em função das variações de concentração em que os nutrientes se encontram no solo. Dependendo do nutriente, um destes mecanismos assume maior importância, mas dentre todos, a movimentação via solução do solo é a mais expressiva.

Independentemente da forma como o nutriente se movimente ou até da eficiência do processo envolvido, quanto mais desenvolvido e ativo o sistema radicular, maior sua capacidade em suprir a planta com os nutrientes presentes no solo. Atualmente, o alto potencial genético dos híbridos demanda um elevado suprimento nutricional durante todo o desenvolvimento da cultura e um sistema radicular menos eficiente, pode impactar significativamente na produtividade. Normalmente, o sistema radicular do milho ocupa menos de 1% do volume de solo nas camadas mais férteis. Qualquer redução no seu volume ou eficiência podem impactar na produtividade.

Para o agricultor, quando falamos em água, a preocupação é maior ainda. O solo é um reservatório de água para a planta. Porém, o tamanho deste reservatório depende diretamente do tipo de solo, aspectos químicos e físicos, mas também do volume e profundidade das raízes. De nada adianta um solo com boa capacidade de armazenamento de água, se não tivermos raízes desenvolvidas e profundas. Para se ter uma idéia disto, num solo com textura média, se o sistema radicular das plantas estiver situado até 30 cm de profundidade, o volume de água disponível após uma boa chuva será em torno de 45 litros em um metro quadrado. Por outro lado, se a profundidade efetiva do sistema radicular for de 50 cm o volume de água será mais de 65% maior.

Na prática, um sistema radicular protegido reduz sensivelmente as perdas de produtividade em condição de veranicos ou secas, pois o maior volume de solo explorado permite maior aproveitamento da água.

Os hormônios regulam e direcionam o crescimento e desenvolvimento das plantas. Estas substâncias apresentam alta mobilidade e, mesmo em baixas, atuam de forma significativa no metabolismo das plantas, impactando na produção e na sua proteção em condições de estresses. No entanto, pouca gente sabe que na extremidade das raízes são sintetizadas naturalmente quantidades significativas de hormônios que irão atuar no crescimento das plantas e nos mecanismos relacionados com a tolerância a seca.

O grupo de hormônio chamado de Citocininas são sintetizados em quantidade bastante significativas nas raízes. Estes hormônios podem retardar o envelhecimento das plantas permitindo um maior acúmulo de foto-assimilados e, consequentemente, maior produção de matéria seca das plantas. Outro importante mecanismo hormonal relacionado às raízes é sensibilidade a seca. Em condições de falta de água, as raízes emitem sinais que rapidamente irão induzir a planta a produzir um hormônio chamado de Ácido Abcísico, que diminui o metabolismo da planta como medida de proteção.

Assim, as raízes mais profundas, volumosas e eficientes minimizam o stress de falta de água, mantendo a fotossíntese por mais tempo e de forma mais eficiente. O resultado disto pode ser percebido ao compararmos a produtividade das plantas com sistema radicular protegido versus as plantas sem esta proteção em condições de seca. Normalmente, as plantas com raízes protegidas irão produzir mais.

O fato é que a proteção das raízes é uma medida importante para os agricultores que buscam minimizar perdas decorrentes da seca, como também explorar ao máximo os nutrientes da água presente no solo. Recursos estes cada vez mais caros e escassos. Na prática, a proteção das raízes pode trazer ganhos em cerca de 8-10%, especialmente em condições de seca que normalmente são pouco previsíveis.

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