Artigo - Feijão Caupi em Rondônia

03.12.2008 | 21:59 (UTC -3)

O feijão caupi em Rondônia tem sua origem com a imigração nordestina, que incorporou a mão-de-obra, inicialmente da extração de borracha e, posteriormente, do garimpo. Esta imigração trouxe consigo parte dos costumes e da culinária nordestina, que tem o caupi como um de seus principais ingredientes.

Atualmente, a produção de caupi no Estado de Rondônia não tem números muito significativos. A atividade hoje está concentrada em poucas centenas de produtores e fortemente associada à agricultura familiar. Estes agricultores situam-se em sua maioria, às margens do rio Madeira, o que dá uma aspecto de singularidade a essa cultura em Rondônia. São diversas comunidades que vivem as margens do Madeira

Dentre essas, a maior é a comunidade do Cujubim, formada por 1455 habitantes, reunidos em 453 famílias, que residem em 15 localidade ao longo do lago do Cujubim, situa-se à margem direita do Rio Madeira, a 35 km de Porto Velho, em Rondônia. A população local constitui-se principalmente de ribeirinhos, os quais têm na pesca, na produção de farinha e no extrativismo a sua principal fonte de renda. A agricultura de subsistência é praticada como atividade complementar pela maioria dos moradores da comunidade, sendo o caupi (Vigna unguiculata L.) e a melancia (Citrullus lanatus) algumas das principais culturas. Durante seis meses, por ano, o nível das águas do Rio Madeira, baixa, trazendo à tona uma grande extensão de terras, as quais têm por característica a alta fertilidade, umidade constantemente próxima à capacidade de campo e isenção de propágulos de plantas daninhas. Também, numa menor proporção, o plantio é realizado na faixa acima do leito, próximo às margens do rio. O uso agrícola dessas áreas dispensa o uso de adubação, irrigação e aplicação de herbicidas, o que favorece ao cultivo orgânico de caupi e melancia, a um custo de produção consideravelmente baixo.

Segundo a Secretaria de Agricultura de Rondônia (SEAGRI), a área plantada tem variado entre 50 e 300 ha/ano, em função da disponibilidade das “praias” às margens do Madeira bem como, do preço alcançado pelo produto em cada safra. As áreas de produção atingem entre 0,5 e um ha por família, característica da agricultura de subsistência. Em alguns casos, os produtores associam-se e fazem plantio conjunto, manejando e dividindo os esforços do trabalho e da colheita. A produtividade varia entre 500 e 1200 kg/ha, estando em função do tipo de cultivar usada e das características do solo a cada baixa do rio.

Até recentemente, a semente plantada pelos produtores vinha de aquisições em feiras-livres ou de misturas de plantios anteriores, o que gerava grande desuniformidade de colheita e produção. Desde 2004 a Embrapa Rondônia vêm, junto com essas comunidades ribeirinhas, promovendo a avaliação de cultivares mais adaptadas para as condições do Estado. Nesses resultados, alguns materiais se destacaram e tem sido adotados pelos pequenos produtores. São eles: BRS- Guariba, BRS- Patativa, MNC 00-553d-8-1-2-3 (atualmente com o nome da cultivar BRS Novaera).

Os plantios são realizados com matraca ou, na maioria das vezes, apenas com um pedaço de madeira, com a ponta afilada (como um grande lápis) que é fincado no solo a espaços regulares de 0,5m x 0,8m. Em cada cova, com profundidade média de 5 cm, os produtores colocam de três a cinco sementes que são cobertas com uma camada fina de solo.

O plantio é normalmente realizado entre os meses de junho e agosto, embora o rio Madeira tenha a sua fase de baixa a partir de meados de abril. Entretanto, devido ao processo de degelo dos Andes, ocorrem fenômenos de cheias efêmeras, chamadas “repiques”. Estes fenômenos tendem a se reduzir a partir de início de maio. Em dezembro, com o início das chuvas o rio torna a subir, algumas vezes vários metros num só dia, o que finaliza a “safra” no leito do rio.

O solo, por ser de leito do rio, apresenta alto teor de água e matéria orgânica, o que torna desnecessária adubação. Também é desnecessária a irrigação pois, a 10 cm o solo está constantemente úmido e, por ser um solo de textura médio-argilosa, as raízes se desenvolvem facilmente, atingindo a parte úmida do solo rapidamente.

O manejo que é feito, está mais relacionado ao controle de pragas, como pulgões e vaquinhas, cujo o uso de extratos de plantas e/ou o mero arranquio das plantas atacadas tendem a controlar. Eventualmente, é possível encontrar plantas atacadas com Thanatephorus cucumeris, causador da mela ou teia micélica, especialmente quando o plantio de dá muito próximo às áreas de margem do rio, onde o acúmulo de água no solo é visível a olho nu.

A colheita é feita normalmente em final de outubro e início de novembro. Nesse ponto as plantas já com as vagens secas, são arrancadas e passam pelo processo de bateção, sobre uma lona plástica, para soltarem as vagens. O processo de retiradas das sementes normalmente é feito pelas mulheres da comunidade, manualmente.

As sementes são postas para secar ao sol, sendo recolhidas para barracões ao final de cada dia. O processo de secagem dura entre 5 e 7 dias e, ao final do mesmo, as sementes são armazenadas em tambores de 60 e 100 litros, as quais tem misturadas à massa de grãos folhas de nim indiano ou folhas de pimenta, objetivando o “espurgo” para o controle de insetos de armazenamento, como caruncho, principal problema encontrado pelos produtores de sementes. Parte dessas sementes é armazenadas em garrafas de vidro ou plásticas tipo “pet” e tampadas, para servirem de material para o plantio em anos subseqüentes.

A maior parte do produto colhido é utilizada para consumo dos produtores das comunidades. Entretanto, em anos de alta, os produtores revendem o feijão em feiras locais, dentro do município ou em municípios circunvizinhos. Os preços do quilo tem variado entre R$ 2,00 e R$ 3,50, sendo que os maiores preços são encontrados em variedades de cores claras e de grãos de tamanho maior.

Recentemente, campos de produção de sementes vêm sendo registrados no Ministério da Agricultura, em Municípios de Espigão do Oeste e adjacências, visando o aproveitamento da qualidade dos solos da região e o preço relativamente baixo do hectare para compra. Entretanto, pouco se sabe sobre como ou para quem os registrantes pretendem comercializar as sementes certificadas a serem produzidas nesses campos.

José Roberto Vieira Júnior

Eng. Agrônomo, Dr. em fitopatologia, pesquisador da Embrapa Rondônia

Cléberson de Freitas Fernandes

Farmacêutico, Dr. em fitopatologia, pesquisador da Embrapa Rondônia

Alaerto Luiz Marcolan

Eng. Agrônomo, Dr. em Ciência do Solo, pesquisador da Embrapa Rondônia

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