Artigo: Aspectos produtivos e sanitários de vacas mestiças leiteiras tratadas com produtos homeopáticos

21.01.2011 | 21:59 (UTC -3)

Introdução

O interesse dos produtores pela agricultura orgânica tem aumentado, em um mundo globalizado que valoriza a qualidade dos alimentos consumidos. O Brasil ocupa atualmente a segunda posição na América Latina em termos de área manejada organicamente, e estima-se que a produção orgânica no país esteja entre 120 e 200 milhões de dólares (Silva et al., 2005).

Cooperativas têm estimulado o uso de produtos homeopáticos por parte de produtores de leite, inclusive remunerando melhor o leite produzido por vacas homeopatizadas. Dados apresentados por Mendonça (2001) revelam que nas fazendas onde houve a utilização de medicamentos homeopáticos, além dos produtores receberem uma bonificação de 1% no preço final do leite, houve menor infestação por parasitas (carrapato, mosca-do-chifre, berne) e moscas domésticas, e a qualidade do leite aumentou (menor contagem de células somáticas e casos de mastite).

 

É cada vez maior o uso de produtos homeopáticos e fitoterápicos por parte de pequenos produtores do sul do Brasil, que têm utilizado esses produtos alternativos por serem muito mais econômicos, diminuindo os custos de produção, e remunerando melhor o produto final (Bertollo, 2002).

 

O uso de medicamentos homeopáticos na ração ou sal mineral pode atuar sobre o bem-estar dos animais, reduzindo o estresse, por sua aplicação menos aversiva e seu efeito terapêutico (Honorato, 2006).

 

Ectoparasitas, tais como o carrapato-do-boi (Riphicephalus (Boophilus) microplus) e a mosca-do-chifre (Haematobia irritans), geralmente são controlados por produtos químicos; no entanto, esse controle vem sendo cada vez mais problemático, em função da resistência genética que esses parasitas têm adquirido em relação aos antiparasitários que estão no mercado (Furlong et al., 2007, Barros, 2004). Felizmente, os bovinos possuem defesas naturais a esses parasitas, especialmente os zebuínos (Bos indicus) e seus mestiços. Veríssimo (1993) relata que os prejuízos advindos de uma infestação do carrapato-do-boi podem ir da morte do animal a nenhum prejuízo, dependendo do genótipo Bos indicus do animal: quanto maior, mais resistente, e menor o prejuízo causado por esse carrapato.

 

A mastite é responsável por grandes prejuízos na pecuária leiteira de todo o mundo, e já são vários os trabalhos científicos que demonstram ser eficaz o tratamento homeopático tanto no tratamento das mastites clínicas (Almeida et al., 2005a; Santos; Griebeler, 2006), como das subclínicas (Almeida et al., 2005b; Martins et al., 2007; Barzon et al., 2008; Telles et al., 2008), e, além disso, é muito mais econômico (Santos; Griebeler, 2006).

 

A homeopatia, concebida no século XVIII pelo médico alemão Samuel Hahnemann, é baseada no uso de medicamentos oriundos dos reinos mineral, ou vegetal, ou animal, diluídos em diluições decimais ou centesimais (em água ou álcool de cereais ou substância inerte) e dinamizados (agitados vigorosamente a cada diluição); quando ministrados a indivíduos sãos, esses medicamentos, diluídos e dinamizados, provocam sintomas semelhantes a determinadas doenças. Quando esses medicamentos são ministrados a pessoas doentes, que apresentam os mesmos sintomas que o medicamento causa em pessoas sadias, produz-se um estímulo das defesas orgânicas, e, progressivamente, a cura (Veríssimo, 2008).

 

Bioterápicos e isoterápicos são produzidos a partir do agente causador da doença . Para esse fim, são utilizados organismos vivos, ou secreções (ex: leite de vaca com mastite) diluídos e dinamizados, segundo a farmacopeia homeopática (Silva et al., 2008).

O uso de medicação homeopática no sal mineral ou na ração concentrada é uma alternativa ao uso de produtos químicos que, além de serem onerosos, são determinantes de contaminações ambientais, e dos indivíduos que manejam os produtos, causando problemas de saúde pública pela presença de inúmeros resíduos, e prejuízos na indústria pela interferência nos processos de fabricação de produtos lácteos, e, também, nos produtos da cadeia da carne bovina. O uso de medicamentos homeopáticos pode diminuir o número de aplicações de quimioterápicos nos animais, e reduzir a pressão de seleção sobre as cepas de carrapatos e moscas ainda susceptíveis aos tratamentos convencionais, além de ter seu uso permitido em bovinos mantidos em sistema de produção orgânica (Arenales et al., 2006).

 

Nesse sentido, buscou-se verificar o desempenho e a sanidade de um rebanho mestiço leiteiro, bem manejado nutricionalmente, que recebeu produtos homeopáticos comerciais, durante toda a lactação.

 

MATERIAL E MÉTODOS

Local e manejo

Conduziu-se o experimento no Setor de bovinocultura leiteira da Estação Experimental do Polo Regional da Alta Mogiana (Colina/SP), unidade da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA).

 

Um rebanho de 40 vacas mestiças (3/4 Holandês e ¼ Gir) recebeu produtos homeopáticos durante toda a lactação. Em 08/02/2008, oito vacas (20%) foram selecionadas, de acordo com o nível de produção ao início da lactação, e acompanhadas quanto às infestações de carrapato, mosca-do-chifre, vermes, mastite subclínica (CMT), e variação de peso, produção e qualidade do leite, ao longo da lactação. À medida em que iam secando, esses animais não foram substituídos, de modo que em agosto eram sete animais (17,5% do rebanho total de 40); setembro, seis (15,8% do rebanho total de 38); outubro, quatro (11,4% do rebanho total de 35) e, finalmente, em 01/12, completando a observação realizada em novembro, três vacas (8,6% do rebanho total de 35) foram avaliadas quanto aos parâmetros estudados.

 

As vacas selecionadas ao início da fase experimental, em 08/02/2008, foram pesadas e realizou-se a avaliação inicial (avaliação 0) das infestações de carrapatos, vermes e mosca-do-chifre, antes do fornecimento do medicamento homeopático, assim como foi registrada a produção e a qualidade do leite.

 

As vacas foram alocadas em área experimental, de 4,2 ha, formada com a forrageira capim-tanzânia (Panicum maximum cv. Tanzânia), subdividida em 24 piquetes (1750 m2 cada), que foram manejados sob o método de lotação intermitente, no período das águas, um dia de ocupação e 23 de descanso. A área, no período das águas, foi fertilizada com 150 kg de nitrogênio/ha.

 

Durante o período da seca (junho, julho, agosto, setembro e outubro de 2008), as vacas continuavam a ser manejadas sob o método de lotação intermitente, um dia de ocupação e 23 dias de descanso, e receberam diariamente silagem de cana-de-açúcar sem aditivo, à vontade.

Nas águas, as vacas receberam pasto e concentrado (para cada 3,0L de leite um quilo de concentrado), e na seca, silagem de cana-de-açúcar e concentrado (para cada 2,5L de leite um quilo de concentrado).

 

No concentrado foram adicionados os medicamentos homeopáticos: FATOR PRÓ®, ESTRESSE®, M&P® e C&MC® Arenales (na proporção de 5 g/animal/dia), para incremento de ganho de peso, combate ao estresse, controle de mastite e controle de parasitos, respectivamente). O concentrado foi formulado com milho moído, polpa cítrica, farelo de trigo, farelo de soja, uréia e sulfato de amônio, mistura mineral e sal comum, e foi fornecido diariamente, após as ordenhas da manhã e da tarde.

 

Em sua formulação, o FATOR PRÓ® possui substâncias extraídas dos reinos vegetal e mineral, diluídas e dinamizadas, segundo a farmacopeia homeopática, que visam melhorar a digestibilidade dos alimentos, e, consequentemente, o desempenho dos animais. O FATOR ESTRESSE® contém em sua formulação substâncias extraídas do reino vegetal, diluídas e dinamizadas, com indicação para minimizar o estresse. O FATOR M&P® contém substâncias extraídas do reino vegetal, diluídas e dinamizadas, com indicação para a mastite em bovinos, causada por Staphylococcus aureus, Streptococcus agalactiae, Streptococcus dysgalactiae, Streptococcus uberis, Escherichia coli. Indicado também para infecções do casco em bovinos. O FATOR C&MC® contém os isoterápicos R. (Boophilus) microplus, Amblyomma cajennense, Haematobia irritans, Musca domestica, Bunostomum sp, Haemonchus contortus, Haemonchus placei, Nematodirus sp., Oesophagostomum sp. Strogyloides sp., Trichostrongylus axei, Trichostrongylus colubriformis, Trichuris sp., Eimeria sp., Cysticercus cellulosae, Dermatobia hominis, todos preparados na 12ª diluição centesimal e dinamização (CH12). Todos os medicamentos são veiculados em sacarose, e preparados de acordo com a Farmacopeia Homeopática Brasileira (1997).

 

Avaliações

As avaliações nos oito animais selecionados foram feitas pela manhã, em: 08/02/08 (avaliação 0), 06/03 (avaliação 1), 03/04 (avaliação 2), 21/05 (avaliação 3), 26/06 (avaliação 4), 21/07 (avaliação 5), 25/08 (avaliação 6), 25/09 (avaliação 7), 28/10 (avaliação 8), 04/12 (avaliação 9). Os animais foram pesados e o escore de condição corporal foi avaliado, atribuindo-se notas de 1 (muito magra) a 5 (muito gorda). Também foram feitas avaliações de infestações naturais pelo carrapato Riphicephalus (Boophilus) microplus pelo método simplificado (Veríssimo; Oliveira, 1994) e pela contagem de ínstares (Veríssimo et al., 1997b); avaliações da presença de mosca-do-chifre (Haematobia irritans) (presença acima de 20 moscas ou ausência) e colheita de fezes para determinação do número de ovos de nematoides por grama de fezes (OPG), de acordo com a técnica de Gordon e Whitlock modificada (Ueno e Gonçalves, 1998), também foram realizadas nesses dias.

 

O teste CMT (California Mastitis Test) (Schalm; Noorlander, 1957) foi realizado misturando-se 2ml de reagente a 2ml de leite, e verificando-se a intensidade de alteração da viscosidade da mistura. A produção de leite foi registrada semanalmente, e a composição e a qualidade (contagem de células somáticas (CCS) e bacteriana global (CBG)) foram mensuradas mensalmente no tanque de expansão, conforme recomendação da Instrução Normativa 51 (MAPA, 2002).

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Controle de ecto e endoparasitos

Verificou-se que a infestação de carrapatos Riphicephalus (Boophilus) microplus, tanto por adultos (fêmeas) quanto por ínstares (larvas, ninfas, machos e fêmeas), diminuiu ao longo do tempo de avaliação (Figuras 2 e 3), e não foi necessário utilizar carrapaticida em nenhuma das 40 vacas do rebanho em todo o período experimental.

 

Quanto à avaliação das moscas-do-chifre (Figura 4), verificou-se que nos meses de maio e junho (época da seca) todos os animais observados estavam com mais de 20 moscas, e durante a primavera (setembro a dezembro), a infestação também aumentou. O aumento da infestação em maio e junho pode ter sido reflexo do acúmulo de chuvas nos meses anteriores, e, na primavera, devido ao início das chuvas neste período (Figura 1). Entretanto, vale ressaltar que não houve necessidade da utilização de produtos químicos específicos para o controle dessa mosca no rebanho, durante o período de observação.

 

Em relação à contagem de ovos de nematóides por grama de fezes (OPG), esta, que já começou muito baixa (média de 131), diminuiu, ainda mais, ao longo do tempo, chegando a zerar nas três últimas observações (Figura 5). O OPG de bovinos adultos é normalmente baixo, porque os animais adquirem imunidade aos helmintos gastrintestinais por volta de 18 meses de idade (Bianchin; Catto, 2008). Assim, a baixa infestação apresentada pelas vacas durante toda a lactação já era esperada. Nenhuma vaca do rebanho foi vermifugada antes ou depois do parto.

 

Resultados de pesquisa mostraram efeito positivo dos medicamentos homeopáticos no controle do carrapato: Veríssimo (1988) relatou a interferência positiva de um isoterápico feito com teleóginas do carrapato Riphicephalus (Boophilus) microplus dinamizado na CH6, na forma líquida, e fornecido na água de bebida por 36 dias, para novilhos mestiços leiteiros que foram infestados artificialmente com 20.000 larvas do carrapato (menor número de carrapatos e menor perda de peso nos animais que receberam o produto, em relação a um grupo controle que não recebeu); Arenales et al. (2006) atribuíram ao uso de medicamentos homeopáticos (FATOR PRÓ® e C&MC®) o adequado controle de ecto e endoparasitoses, e o incremento de 37,9% no ganho de peso de novilhos nelore, em relação a animais controle que receberam aplicações periódicas de produto químico à base de ivermectina; e Silva et al. (2008) constataram que o fornecimento do fator C&MC® diariamente no sal mineral por um período de 12 meses foi eficaz em diminuir a infestação de carrapatos em novilhas da raça Purunã em relação ao grupo controle não tratado; não houve diferença significativa na infestação entre o grupo tratado com homeopatia e o grupo tratado com o produto químico à base de amitraz. Magalhães Neto et al. (2009) observaram efeito positivo do FATOR C&MC® ministrado diariamente a vacas leiteiras no sal mineral, verificando menores infestações, e teleóginas mais leves, com menor postura, nas propriedades em que o produto homeopático era utilizado, comparado àquelas que utilizavam somente produtos químicos.

 

Além disso, a curva epidemiológica esperada para este carrapato no local onde foi realizado o trabalho é ascendente a partir da segunda quinzena de fevereiro, com pico no outono, queda na infestação no inverno, e aumento com as primeiras chuvas da primavera, segundo dados obtidos por Veríssimo et al. (1997a,b), o que não se observou neste trabalho.

 

Já, Signoretti et al. (2008) não encontraram efeito positivo de produtos homeopáticos (FATOR PRÓ, C&MC® e ESTRESSE®) no desempenho e infestação por ecto e endoparasitoses de novilhos mestiços leiteiros, quando comparados a novilhos controle, sem o medicamento. Igualmente, na observação feita por estes autores, na mesma propriedade onde foi realizado este trabalho, não foi preciso aplicar carrapaticida ou vermífugo no período de oito meses a nenhum animal, nem mesmo nos do grupo controle que não recebiam o medicamento homeopático, e ambos os grupos tiveram desempenho satisfatório, embora os do grupo homeopatia tenham tido um incremento de 24% (P= 0,08) no ganho de peso em relação ao grupo controle.

 

Lemos et al. (1985), Oliveira et al. (1990) e, mais recentemente, Veríssimo et al. (2002) constataram que vacas mestiças são mais resistentes a ectoparasitas do que as holandesas. Bovinos resistentes têm capacidade de autocontrolar a população de carrapatos, uma vez que estes não conseguem completar o ciclo nesses animais resistentes, ou quando o fazem, as teleóginas têm menor peso, e, consequentemente, põem menos ovos (Veríssimo, 1999). Além disso, o fato de não se usar produto químico no rebanho não interferiu na provável população de inimigos naturais dos parasitas, permitindo que muitos insetos, tais como aranhas, formigas, muscoides do gênero Megaselia, insetos dermápteros forficulidae (“tesourinhas”), anfíbios (sapos do gênero Bufo), e aves (anu, galinha doméstica, garça vaqueira) (Veríssimo e Machado, 1995), entre outros inimigos naturais do carrapato e dos outros endo e ectoparasitas desconhecidos pela pesquisa pudessem exercer predatismo sobre os parasitas, no solo ou nos animais, contribuindo para o seu controle.

 

Produção e composição do leite

Os resultados relativos à produção mostram estabilidade na produção leiteira, com pequena redução observada no mês de maio (avaliação 3), e queda acentuada no último mês da observação (Figura 6). As vacas entraram no experimento recém-paridas, e, como já era esperado, houve redução na produção de leite ao final da lactação. A pequena queda observada na produção leiteira no mês de maio foi devido, provavelmente, à diminuição na qualidade do capim, que geralmente ocorre no outono (menor porcentagem de folhas, maior porcentagem de colmos e maior quantidade de material morto, segundo Santos et al., (2005). A suplementação das vacas com volumoso (silagem de cana-de-açúcar) e maior quantidade de concentrado somente começou a ser fornecida no mês de junho.

 

Uma das vacas monitoradas apresentou grumos no leite no posterior esquerdo, no mês de maio (avaliação 3). Como ela não apresentava alterações (inchaço, rubor, dor e calor) na glândula mamária afetada, não foi medicada com antibióticos específicos para mastite, apenas continuou a ingerir os medicamentos homeopáticos, entre eles o M&P® para mastite bovina. O CMT seguinte desta vaca acusou exame negativo nesta glândula, indicando que houve um processo de cura. Almeida et al. (2005a), realizando inoculações intramamárias experimentais com Staphylococcus aureus em seis vacas mestiças holandês x zebu, observaram que o índice de cura sem a utilização de medicamentos, fossem alopáticos ou homeopáticos, somente com ordenhas múltiplas (4 ordenhas diárias) foi de 50%, semelhante ao índice de cura de mastite clínica sem uso de medicamento verificado por Wilson et al. (1999), de 57%.

 

Os medicamentos homeopáticos oferecidos às vacas, em especial o FATOR M&P®, podem ter contribuído para a cura da vaca com grumos no leite, já que, conforme atestam os trabalhos de Almeida et al. (2005a), Almeida et al. (2005b), Santos e Griebeler (2006), Martins et al. (2007), Barzon et al., (2008) e Telles et al. (2008), medicamentos homeopáticos, bioterápicos ou isoterápicos são eficazes no tratamento das mastites (clínica ou subclínica).

 

A produção de proteína manteve-se estável ao longo da lactação. Já a porcentagem de gordura variou mais no período, mas sempre com valores elevados (média de 4%) (Figura 7).

 

A contagem de células somáticas e contagem becteriana global, medidas em amostras do leite do rebanho, tiveram curvas descendentes (Figura 8): a CCS iniciou com 546 mil células somáticas, chegando a um mínimo de 189 mil na quinta avaliação, e se estabilizou em cerca de 300 ao final da lactação; e a contagem bacteriana global iniciou com 526 mil UFC (unidades formadoras de colônia) /mL e terminou com 107 mil UFC/mL.

 

Verificou-se que a frequencia de vacas monitoradas dentro do rebanho com pelo menos um peito positivo (3+) ao CMT aumentou nos meses de maio a julho, diminuindo em agosto e setembro, e voltando a aumentar com a proximidade do final da lactação, em novembro (Figura 9). Os resultados sugerem que as alterações ocorridas no manejo alimentar das fêmeas no início da seca podem ter interferido na maior frequencia observada de animais positivos (3+) ao CMT. No final da lactação, há aumento fisiológico das células somáticas, pois, nessa fase, a CCS aumenta porque há concentração das células somáticas em função da redução fisiológica do volume de leite produzido (Bueno et al., 2005), sem esse aumento estar, necessariamente, relacionado à infecção na glândula mamária, já que a contagem de bactérias globais no tanque de expansão decresceu ao longo do período de lactação das vacas do rebanho (Figura 8).

 

Arenales (2001) reporta resultados da CCS em rebanho no Estado de SP, no qual houve redução após o uso do FATOR M&P® no rebanho. Em outro rebanho, houve diminuição nas aplicações de produtos químicos para o controle da mosca-do-chifre, carrapato-do-boi, berne, e verminose após o uso do FATOR C&MC® além do número de moscas domésticas.

Mangieri Júnior et al. (2007) não observaram diferença significativa na CCS entre vacas com CMT 2+ e 3+ que recebiam ou não o medicamento homeopático Phytolaca decandra CH6, mas houve aumento significativo (P<0,05) de 2,5kg de leite/dia, em média, nas vacas que consumiram o medicamento homeopático.

 

Variação no peso vivo e condição corporal

As vacas ganharam peso e condição corporal no decorrer da lactação (Figura 10), como esperado em um rebanho leiteiro bem manejado.

 

Pinheiro et al. (2009) observaram que novilhos nelore e mestiços ½ nelore x red angus que receberam FATOR C&MC® no sal mineral tiveram menor peso final (P<0,05) em relação àqueles que receberam medicação alopática para o controle de parasitos.

 

Durante onze meses, Mitidiero (2002) comparou vacas holandesas semiestabuladas que receberam tratamentos homeopáticos, bioterápícos e fitoterapia (T1), e tratamentos convencionais (T2). Não houve diferença significativa entre os tratamentos nas médias de produção de leite, observando-se médias de 20,15kg/dia para T1 e 20,35kg/dia para T2. Em relação à contagem de células somáticas (CCS), T1 apresentou média de 779.067 células/mL e T2 de 463.567 células/mL (P=0,07). Igualmente, não foi observada diferença significativa entre os tratamentos na infestação por ectoparasitas (contagem do número de teleóginas, mosca-do-chifre e berne) ou endoparasitas (OPG); tampouco em relação ao escore de condição corporal. A autora conclui que o controle sanitário de um rebanho de alta produção pode ser feito por meio de medicamentos homeopáticos, bioterapia e fitoterapia em substituição aos medicamentos alopáticos, com redução de custos de produção, sem, com isso, comprometer o desempenho produtivo e sem os riscos de contaminação do leite por resíduos, constituindo-se, assim, em opção viável para a bovinocultura leiteira.

 

Honorato et al. (2007) observaram a adoção da homeopatia por agricultores familiares de Antonio Prado e Ipê, RS, na criação de bovinos leiteiros, e chegaram à conclusão que a escassez de informações sobre a eficácia dos medicamentos homeopáticos contribuiu para que vários não adotassem essa terapêutica, apesar de os rebanhos tratados com medicamentos homeopáticos terem apresentado condições de saúde (escore corporal, aspecto da pelagem e teste de mastite clínica e subclínica - CMT) comparáveis aos rebanhos tratados convencionalmente.

 

CONCLUSÕES

Durante o período experimental, todas as vacas do rebanho, as que estavam sendo observadas e as outras companheiras de rebanho, não foram submetidas a nenhum tratamento alopático (convencional). Os resultados obtidos demonstraram que com bom manejo nutricional e uso diário de produtos homeopáticos é possível produzir leite de qualidade, em um sistema de produção leiteira com gado mestiço europeu x zebu, sem uso de produtos químicos para controle de parasitas ou mastite. Experimento semelhante deve ser realizado, comparando-se animais que recebem produtos homeopáticos com um grupo controle, não submetido ao tratamento homeopático.

Ricardo Dias Signoretti

Polo Apta da Alta Mogiana

signoretti@apta.sp.gov.br

 

Cecília José Veríssimo

Instituto de Zootecnia, Centro de Pesquisa em Zootecnia Diversificada

 

Fernando Henrique Meneguello Souza

Instituto de Zootecnia, Centro de Pesquisa em Zootecnia Diversificada

 

Elisa Marcela de Oliveira

Instituto de Zootecnia, Centro de Pesquisa em Zootecnia Diversificada

 

Vanessa Dib

Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos

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