Arroz da Gente terá sementes crioulas do banco da Embrapa

Conab vai multiplicar acessos raros de arroz para distribuir a agricultores familiares de 210 municípios

07.08.2025 | 08:35 (UTC -3)
Renato Cruz Silva, edição Revista Cultivar
Foto: Sebastião Araújo 
Foto: Sebastião Araújo 

A Embrapa vai entregar à Conab, durante o Semiárido Show,  25 a 28 de agosto, em Petrolina (PE), 467 acessos de sementes crioulas de arroz do seu Banco Ativo de Germoplasma. O material será usado para fortalecer a produção da agricultura familiar no âmbito do programa Arroz da Gente, criado após a crise de abastecimento provocada pelas perdas da safra gaúcha de 2024.

Segundo a diretora de Inovação da Embrapa, Ana Euler, esta é a primeira ação concreta de democratização da genética brasileira desde que a estatal firmou parceria com o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA) e a Conab para integrar o programa.

A iniciativa prevê que a Conab articule a multiplicação das sementes com o envolvimento de povos e comunidades tradicionais, assentados da reforma agrária e guardiões de sementes. O objetivo é alcançar volume suficiente para o plantio por cerca de 5 mil famílias em 210 municípios. Como cada acesso contém apenas 5 gramas de sementes, a reprodução exigirá vários ciclos de cultivo. Centros de pesquisa da Embrapa também deverão apoiar esse processo.

Além das sementes, a Embrapa contribuirá com ações de capacitação para a produção de bioinsumos, elaboração de zoneamentos agrícolas de risco climático (Zarc) específicos para lavouras com sementes crioulas e a transferência de tecnologias para comunidades tradicionais.

A entrega do material também tem um caráter simbólico. A diretora Ana Euler destaca que o Arroz da Gente está alinhado a outras políticas públicas que contribuíram para a saída do Brasil do Mapa da Fome, como o Bolsa Família, o PAA e o Pnae. A diversificação da produção, inclusive com arroz de terras altas no Cerrado, é considerada estratégica diante da atual dependência do arroz irrigado gaúcho, que responde por cerca de 70% da oferta nacional.

O conceito de “democratização da genética” surgiu, segundo a pesquisadora Patrícia Bustamante, a partir da experiência da etnia Krahô, que perdeu sementes tradicionais de milho após substituir sua produção nos anos 1980. Ao conseguir recuperar uma variedade semelhante com o apoio da Embrapa e do povo Xavante, os Krahô retomaram o cultivo do Pôhypej e pediram à Embrapa que conservasse a semente para garantir sua preservação no futuro.

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