APTA tem o único laboratório público de São Paulo credenciado pelo Ministério da Agricultura

17.10.2011 | 21:59 (UTC -3)
Fernanda Domiciano

Quando um país não sofre com a incidência de uma doença, que é comum em muitos outros, é normal que se proteja para não correr o risco de devastar suas lavouras. A mancha preta, ou pinta preta dos citros, é uma das principais doenças fúngicas da citricultura e ocorre em vários países da África, América do Norte, Caribe, América do Sul, Ásia e Oceania. A Europa é um dos poucos continentes livre desse mal, responsável por perdas de até 80% das lavouras citrícolas. Para se prevenir, os países europeus apenas importam frutas certificadas de países que não possuem a doença. A Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento (UPD) de Sorocaba, da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), possui o único laboratório público de São Paulo credenciado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para análises da mancha preta. O laboratório também faz avaliações da gomose – doença que nas décadas de 80 e 90 era considerada o principal problema da fase de implantação dos pomares, e cuja importância vem aumentando novamente na citricultura paulista devido à crescente utilização de mudas contaminadas por gomose em novos plantios.

A mancha preta é a doença fúngica mais importante da citricultura brasileira e os danos por ela provocados são muito elevados. Os frutos afetados pela doença caem prematuramente, reduzindo a produtividade da planta. “Em ataques severos, perdas de até 80% já foram observadas. Os frutos contaminados são muito depreciados no mercado nacional de frutas frescas e são impróprios para exportação”, explica Eduardo Feichtenberger, pesquisador da APTA, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.

Por não estar presente nos países europeus, a doença é considerada como “Quarentenária 1” pela União Européia e como prevenção os países do continente apenas importam frutas de áreas certificadas como livres da doença. Os frutos são também inspecionados nos portos de desembarque e a detecção da doença em um único deles já é suficiente para acarretar o rechaço de toda a carga exportada.

O laboratório da Unidade da APTA de Sorocaba é o único público do Estado de São Paulo credenciado pelo MAPA para a realização do Teste de Indução de Sintomas de Mancha Preta do Citros (MPC) e de análises laboratoriais visando à detecção da doença em materiais coletados durante as inspeções de campo. “Há uma tendência na Europa de somente aceitar que esses testes e análises sejam feitos em laboratórios credenciados pelo MAPA”, afirma o pesquisador da APTA.

A exigência dos países pertencentes à União Européia (UE) é que os produtores das unidades de produção e das casas de embalagens estejam cadastrados em um programa oficial de manejo de risco da doença estabelecido pelo MAPA em conjunto com órgãos estaduais de Defesa Agropecuária. Os pomares cadastrados para a produção de frutos exportáveis devem estar sob acompanhamento de órgãos oficiais para assegurar que não apresentam a doença. “Inspeções de campo são feitas nos pomares durante o ciclo de produção e quando frutos suspeitos são encontrados, há o encaminhamento para aos laboratórios credenciados para a confirmação do diagnóstico. Quando a doença é confirmada no laboratório, o pomar é excluído do processo de exportação”, afirma o pesquisador da APTA.

“Caso a doença não seja detectada nas inspeções prévias de campo, os citros são amostrados na pré-colheita em 1% das plantas. As amostras são encaminhadas aos laboratórios oficiais para realização dos Testes de Indução de Sintomas da mancha preta. O teste visa detectar a presença do fungo agente causal em fruto que, embora infectados, ainda não apresentam os sintomas”, explica Feichtenberger. Como o tempo de incubação da mancha preta pode ser superior a um ano, existe a necessidade de realização do teste.

Desde 2005, a Unidade de Sorocaba vem realizando o Teste de Indução de Sintomas de mancha preta em frutos amostrados nas áreas de produção para exportação. Durante o período de 2005 a 2010, mais de 50 mil frutos cítricos provenientes de 882 unidades produtivas foram processados na Unidade. Neste ano, até agosto, mais de 15 mil frutos amostrados em 190 áreas de produção já foram analisados.

De acordo com o pesquisador da APTA, o processo de obtenção do credenciamento do laboratório foi longo e trabalhoso. “Ao longo dos anos as instalações da Unidade de Sorocaba foram ampliadas e melhoradas, novos equipamentos foram adquiridos e hoje ela é referência no Brasil e exterior nessa área de atuação”, afirma. A Unidade da APTA também está preparada para atender ao aumento da demanda por esses serviços, caso a exigência da Europa se concretize.

De acordo com o Ministério da Agricultura, “o credenciamento pelo MAPA/DDIV/DAS/CLAV representa o reconhecimento legalizado da competência do Laboratório para realizar análises de rotina e emissão de laudos técnicos e laudos oficiais”.

Entre as exigências para obter o credenciamento estão instalações adequadas em áreas apropriadas às finalidades, incluindo espaço compatível com o volume de amostras analisadas. Também é necessário cumprir todas as disposições legais sobre a segurança do trabalho relativo às atividades, ter as instalações de acordo com as normas de exigência, segurança e medicina do trabalho, estar sob responsabilidade técnica de um profissional de nível superior com formação correlata e com registro no Conselho de Classe, dispor de pessoal técnico e de apoio com adequada capacitação na área das análises laboratoriais e em número compatível com os serviços realizados. É necessário também dispor de Manual de Qualidade e trabalhar segundo suas orientações, além de adotar programas de qualidade intra e/ou interlaboratoriais e participar dos controles laboratoriais propostos pela Coordenação de Laboratório Vegetal (CLAV).

O laboratório credenciado tem a vantagem de conquistar novos mercados apenas disponíveis a unidades que já demonstraram credibilidade e competência técnica, oferecer qualidade e confiabilidade para os produtos analisados, emitir laudos técnicos oficialmente reconhecidos para Laboratórios Oficialmente Credenciados e laudos técnicos de análises para Laboratórios Credenciados não oficiais. Ao credenciado também é permitido qualificar um produto de origem vegetal para comercialização. O credenciamento evidencia que o laboratório foi avaliado por equipe competente e especializada nas áreas afins e o qualifica a servir de apoio no sentido de utilizar e difundir tecnologia gerada pela pesquisa em regiões pouco desenvolvidas, gerenciar a qualidade das atividades por meio de auditoria de rotina, além de garantir suporte jurídico ao laboratório pelos serviços prestados.

Outra avaliação que o laboratório da Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento (UPD) da APTA de Sorocaba está credenciado a fazer é referente à doença popularmente conhecida como gomose, que é muito importante no Brasil, principalmente em pomares formados com mudas contaminadas. Nas décadas de oitenta e noventa, a gomose era considerada a principal doença da fase de implantação dos pomares.

Segundo determinação do Governo paulista, é necessário que os viveiros telados sejam registrados e que amostras sejam coletadas nas mudas e encaminhadas aos laboratórios, como o da unidade da APTA, para comprovação de que estão livres da gomose e de outras doenças importantes da cultura. “Caso alguma doença importante seja identificada, todo o lote de mudas onde a amostra contaminada foi coletada tem que ser eliminado”, afirma o pesquisador.

Segundo Feichtenberger, a importância da gomose diminuiu muito em São Paulo após a implantação do programa de produção de mudas certificadas de citros em viveiros telados. Contudo, nos últimos quatro anos, as contaminações aumentaram significativamente nos viveiros paulistas, com reflexos na maior incidência da gomose nos novos plantios, em especial no Sudoeste paulista, a nova região produtora de citros do Estado. “Os novos pomares foram ou estão sendo implantados em áreas que nunca tinham sido antes cultivadas com citros e cujas contaminações, com certeza, são originadas de mudas produzidas em viveiros contaminados", afirma.

De acordo com Feichtenberger, muitos produtores procuram também a Unidade para conferir se as mudas que pretendem adquirir são mesmo livres de Phytophthora e para isso, fazem análises adicionais. Neste ano, até julho, a unidade da APTA já realizou 1.686 análises laboratoriais para a detecção de Phytophthora em materiais coletados em sementeiras, viveiros e pomares comerciais de citros.. Desde 1997 até julho deste ano, já foram analisadas 61.480 amostras.

Os interessados em utilizar os serviços da APTA devem entrar em contato pelo telefone: 15 – 3227-5237 e pelo e-mail:

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