Começaram a ser instaladas em três fazendas da região Médio Norte de Mato Grosso unidades demonstrativas de restauração de área de preservação permanente (APP). A inciativa faz parte de uma parceria entre a Embrapa Agrossilvipastoril e a Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja) e é fruto de um projeto conjunto da associação com a instituição holandesa Iniciativa para Comércio Sustentável (IDH), por meio do programa Soja Plus.
O objetivo é de instalar parcelas de restauração em cinco propriedades nos municípios de Sinop, Sorriso (duas), Tapurah e Vera e utilizar estas áreas como referência para transferência de conhecimento sobre a restauração. Para isso, as fazendas receberão dias de campo para acompanhamento da evolução das áreas e para demonstração das técnicas utilizadas.
Neste primeiro ano da parceria foram instaladas três áreas demonstrativas. Todas elas com plantio de mudas. No próximo período chuvoso as outras áreas serão instaladas e contarão com a semeadura direta de espécies nativas e com a condução de regeneração natural.
A execução do proje
Área reflorestada em fazenda em Tapurah - Foto: Ingo Isernhagen
to é feita pela Aprosoja e pelos proprietários das fazendas. Os insumos são adquiridos com os recursos da IDH e a mão-de-obra e maquinário são fornecidos pelos produtores. Cabe aos pesquisadores e analistas da Embrapa a participação no planejamento, orientação, acompanhamento da instalação e posteriormente o monitoramento das áreas.
De acordo com o pesquisador Ingo Insernhagen, nesse primeiro momento o auxílio foi mais intenso na definição das técnicas utilizadas, no espaçamento e principalmente na escolha das 13 espécies utilizadas nessa primeira etapa.
“Pela experiência que temos com nossos experimentos, sabemos que a mato-competição é um dos grandes gargalos da restauração nessa fase inicial. Então priorizamos em quantidade espécies com rápido crescimento e com maior abertura de copa, como o ingazeiro e mutambo”, exemplifica o pesquisador da Embrapa.
Monitoramento
A Embrapa Agrossilvipastoril já conduz em Mato Grosso e Rondônia experimentos de restauração florestal, porém com foco em reserva legal, onde é possível a exploração econômica. Nas APPs, por sua vez, o objetivo é apenas o da recuperar a vegetação do local. Dessa forma, as novas áreas com recuperação de APP serão importantes para ampliar os espaços de observação e para ver na prática o funcionamento dos preceitos conhecidos na teoria.
“Nós levamos o que está na academia, nas instituições de pesquisa, para a realidade do produtor. Os dois se retroalimentam. A pesquisa percebe as dificuldades e como tem que dar essa resposta ao produtor. Por outro lado, conseguimos enxergar novas potenciais pesquisas em vários aspectos, da estratégia em si, do que monitorar e como fazer isso”, ressalta Ingo Isernhagen.
De acordo com o pesquisador da Embrapa, o monitoramento das áreas deverá ser feito seguindo o protocolo do recém-criado Programa de Regularização Ambiental de Mato Grosso, que considera a área de cobertura das copas, a riqueza e a diversidade dos regenerantes naturais.
Visibilidade e transferência de tecnologia
A partir do terceiro ano do projeto, o objetivo é promover dias de campo nas unidades demonstrativas para que outros produtores possam ver os resultados e conhecerem as técnicas utilizadas. A expectativa do projeto Soja Plus é de atingir até 200 propriedades até 2019.
“Serão realizados cursos, oficinas e treinamentos sobre regularização ambiental, legislação trabalhistas e viabilidade financeira, que são também escopos do Programa Soja Plus, com intuito de levar informação ao produtor. Além disso faremos mobilizações na área de atuação do projeto, orientações, mapeamento das áreas e fornecimento de ferramentas de gestão as propriedades”, explica a gerente de Pesquisa e Gestão de Propriedades da Aprosoja, Cristiane Neves.
A maior visibilidade da recuperação da APP e o aumento da procura dos agricultores pela adequação irão demandar maior disponibilidade de mudas e sementes de espécies nativas. Para o pesquisador Ingo Isernhagen, isso será uma grande oportunidade para crescimento e formalização da cadeia ligada à restauração.
“Como a Aprosoja tem uma capilaridade muito grande entre os agricultores, eu vislumbro que isso vai dar mais visibilidade à restauração de APPs. Será uma grande oportunidade para fortalecer essa cadeia produtiva da restauração no estado, organizando o mercado de sementes e fazendo a regularização dos viveiros para fornecimento de mudas nativas, com diversidade de espécies e com regularidade”, afirma o pesquisador.