Alta de preços do feijão reflete cenário especulativo

​Os preços recordes alcançados pelo feijão, com mais de R$ 10 reais o quilo do grão carioca para o consumidor em algumas cidades brasileiras

09.06.2016 | 20:59 (UTC -3)
Rodrigo Peixoto

Os preços recordes alcançados pelo feijão, com mais de R$ 10 reais o quilo do grão carioca para o consumidor em algumas cidades brasileiras, marcam um movimento especulativo. Essa é a análise do pesquisador da área de Sócioeconomia, Alcido Elenor Wander, que é chefe adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Arroz e Feijão (Santo Antônio de Goiás, GO).

Na contramão de outras abordagens, que geralmente atribuem à alta de preços exclusivamente a problemas climáticos ocorridos na primeira e segunda safra deste ano, Wander considera que há outro elemento que está contribuindo para a disparada de valores do grão.

"Estamos com uma produção menor que o consumo há dois anos consecutivos", acentuou o sócioeconomista. A demanda interna brasileira por feijões é de cerca de 3,3 milhões de toneladas por ano. Em 2014/2015, foram 200 mil toneladas abaixo disso e, em 2015/2016, 120 mil toneladas. "Temos um déficit acumulado em torno de 300 mil toneladas".

Esse cenário coloca o abastecimento em situação desfavorável e essa condição fomenta as especulações de mercado que refletem sobre o aumento dos preços atuais. Por exemplo, no caso do feijão carioca, Wander aponta que, no Estado de São Paulo, os preços pagos ao produtor e praticados no atacado apresentam ligeira queda desde fevereiro. Nota-se, no entanto, que esta queda de preços não foi repassada ao consumidor (varejo), que continuou com preços subindo até maio (veja o gráfico).

Fonte: Compilação feita pela Embrapa Arroz e Feijão, a partir de dados o Instituto de Economia Agrícola (IEA).

Para o sócioeconomista, o problema climático com o El Niño neste ano afetou, de fato, as regiões Sul (72 mil toneladas em perdas) e Centro-Oeste (107 mil toneladas em perdas). Porém, essas quedas na produção foram compensadas pelo aumento em outras regiões: Sudeste (mais 54 mil toneladas), Nordeste (mais 207 mil toneladas) e Norte (mais 5 mil toneladas).

Safra de inverno
De acordo com Wander, há expectativa de que o desequilíbrio entre a oferta e a demanda diminua um pouco com o cultivo da terceira safra, ou safra de inverno, realizada entre maio e setembro no Planalto Central Brasileiro. Porém, o impacto não será tão expressivo, devido à observação de vazio sanitário para essa região, por causa do problema com a mosca branca (inseto que transmite o vírus do mosaico dourado do feijoeiro).

Em que pesem essas ponderações, o sócioeconomista acredita que a atual alta de preços terá caráter passageiro e haverá estabilização. Para ele, se houver substituição do grão no prato do brasileiro, ela será transitória, pois nos últimos dez anos a produção e o consumo da leguminosa vêm se mantendo estável no país. "A combinação do arroz com feijão, distintiva na culinária nacional, deve prevalecer sobre eventuais oscilações econômicas".

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