A influência da qualidade do solo para a atividade agrícola

​Um dos maiores patrimônios da agricultura é o solo e toda atenção a ele foi dada durante o primeiro painel de palestras que abriu as atividades técnicas do Showtec 2017 em Maracaju (MS)

19.01.2017 | 21:59 (UTC -3)
Dalízia Aguiar

Um dos maiores patrimônios da agricultura é o solo e toda atenção a ele foi dada durante o primeiro painel de palestras que abriu as atividades técnicas do Showtec 2017 em Maracaju (MS). No espaço da Embrapa e parceiros, os participantes da feira lotaram o auditório para debater e trocar experiências sobre a qualidade do solo e sua estrutura e, ao final, perceber a campo as diferenças entre áreas em condições favoráveis e outras com histórico de degradação e em diversos sistemas de cultivo.

Palestrante no painel, a pesquisadora Michely Tomazi da Embrapa Agropecuária (Dourados-MS) afirma que muitas vezes o produtor não observa a parte física do solo pela ausência de ferramentas adequadas. "Geralmente cuidamos das características químicas, mas a qualidade estrutural leva em consideração elementos físicos, biológicos e químicos e a estrutura do solo é um dos atributos mais completos para avaliação da qualidade", enfatiza.

Em sua explanação, a agrônoma apresentou um método para diagnóstico rápido da estrutura a campo, que chegou para preencher essa lacuna de ferramentas de reconhecimento em larga escala. A técnica desenvolvida examina o formato e tamanho dos agregados, feições de compactação, sistema radicular e atividade da fauna do solo. A metodologia integra o projeto Solo Vivo, financiado pela Embrapa e Itaipu Nacional.

O manejo segundo a especialista é um componente que impacta diretamente no solo e sua estrutura. Tomazi explica que uma área bem manejada possui predomínio de agregados de 1 a 4 cm, atividade biológica intensa, raízes distribuídas em todas as direções, perfil sem divisão abrupta de camadas e ruptura com faces desuniformes. Por sua vez, um solo em más condições apresenta terra fina (pulverizado), torrões maiores que 7 cm, camadas endurecidas no perfil, ruptura com faces retas, raízes achatadas ou raras, mínima atividade biológica e divisão abrupta de camadas.

"Se queremos um alicerce formado em cima, precisamos ter um bem formado embaixo", ratifica a pesquisadora ao ressaltar a importância de o produtor optar por sistemas de cultivo que utilizem rotação e consórcio de culturas e priorizem o manejo correto do solo, pois "tudo isso funcionando corretamente, a produtividade é certa". O fitopatologista da Embrapa, Guilherme Asmus, comunga da mesma recomendação, ao relatar que os resultados de experimentos com nematoides demonstram também que o sistema de rotação de culturas é o mais recomendável para o controle da doença.

Nematoides - Também painelista no Showtec, Asmus reforça que o produtor rural ao realizar o manejo de nematoides tem que olhar o todo. "Não adianta fazer um manejo pontual. São muitos fatores envolvidos e precisam ser considerados. Tudo influencia a densidade populacional de nematoides. É um sistema complexo", frisa o nematologista.

Ele detalha que a população do parasita é influenciada pela temperatura e pH do solo, água livre, textura (argiloso e arenoso), volume de matéria orgânica, culturas de cobertura e susceptíveis, sistema de cultivo adotado e o dano dependerá dessa densidade populacional. "Não é por que há nematoide que ocorrerá um problema imediato, mas há sim um indicador futuro".

Em seus estudos em Mato Grosso do Sul, Asmus acompanha a densidade dos quatro principais grupos de nematoides do sistema agrícola – das galhas, das lesões radiculares, de cisto e reniforme e sua interação com as culturas da soja, milho, braquiária e outras. Áreas com soja (verão) e milho/braquiária (safrinha e consórcio) são adequadas para regiões com histórico de nematoides de cisto, reniforme e das galhas e altamente inadequadas para os de lesões radiculares, o mesmo acontece para o sistema de soja e milho solteiro. Por outro lado, sistemas de soja e forrageiras somente são susceptíveis a nematoides de cisto, reniforme e galhas.

"As condições do crescimento populacional são melhores durante a safra, então qual o melhor sistema?", indaga. A recomendação é ter uma cultura de 'pousio' ou não hospedeira na entressafra para o controle de nematoide e no ano seguinte, na safra, uma hospedeira ou má hospedeira, se for possível, sugere a pesquisa. "Temos experiências positivas de rotação (não sucessão) de culturas de inverno e verão em sistema plantio direto e sistemas de integração lavoura-pecuária (ILP). A rotação é mais favorável que permitir um cultivo solteiro".

Na quinta-feira (19), o solo volta a ser tema no painel "Construção do solo para máxima produtividade" com os pesquisadores Elaine Lourente da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), Júlio César Salton da Embrapa Agropecuária Oeste e Henrique Debiase da Embrapa Soja.

Parcerias e integração – Durante a abertura oficial de mais uma edição do Showtec (18), as autoridades destacaram que a relação dos produtores rurais com a comunidade científica seu fortaleceu a partir de parcerias como a formada pela Embrapa e Fundação MS, realizadora do evento. Para Luis Alberto Moraes Novaes, presidente da Fundação MS, as duas instituições construíram um ambiente colaborativo e de integração ao longo dos anos.

Um exemplo, de acordo com o chefe-geral da Embrapa Agropecuária Oeste, Guilherme Asmus, é o estande da Empresa que este ano abrigou toda a programação técnico-científica da feira tecnológica e ao lado da Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural de MS (Agraer) atende, em único local, os visitantes. "Somos um sistema integrado e se Mato Grosso do Sul hoje apresenta um ambiente mais favorável para o desenvolvimento sustentável no País é devido a esse ambiente institucional agregado e colaborativo".

Presente na abertura, o governador de Mato Grosso do Sul enfatizou que a integração e estabilidade institucional é importante para que ocorra o diálogo entre todos os segmentos, mais ainda em tempos de crise, e no agro isso é notável. Reinaldo Azambuja lembrou o quanto o agro brasileiro contribui com o PIB nacional e segundo ele isso é possível devido à adoção e expansão de novas tecnologias, tecnificação do campo e profissionalização das cadeias produtivas, resultado do entrosamento entre setores e cadeias produtivas.

Agora o esforço é intensificar com sustentabilidade afirmam os representantes. O conhecimento gerado pelas diversas organizações brasileiras exige um tratamento diferenciado e "o grande desafio é como tratar esse conhecimento, como modular os sistemas de produção adequadamente para avançar na produtividade com sustentabilidade?", fica a reflexão.

Os chefes-gerais da Embrapa Gado de Corte e Pantanal, Cleber Soares e Jorge Lara, respectivamente, além dos dirigentes do Sistema Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária de MS), Sistema OCB/MS (Organização das Cooperativas Brasileiras) e Aprosoja/MS (Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso do Sul), mantenedores institucionais da Fundação MS, estiveram na abertura oficial. Ainda políticos e representantes de sindicatos rurais, universidades, Sebrae/MS, Senar/MS (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural), Fundect (Fundação de Apoio do Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul), Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Mato Grosso do Sul (CREA-MS), dentre outras entidades.


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