Tendência é de volatilidade de preços na cadeia do trigo
Expectativas sobre o acordo entre Rússia e Ucrânia que prevê corredor de exportação de grãos ucranianos pelo Mar Negro e clima seco na Argentina deixam cenário mais imprevisível. Especialista alerta as empresas para a importância do gerenciamento de riscos
01.08.2022 | 14:06 (UTC -3)
Bruno Cirillo
O desdobramento do conflito no Leste Europeu, ainda sem uma solução definitiva, vai continuar impactando toda a cadeia do trigo. Para o gerente sênior de risco de Grãos e Algodão da hEDGEpoint Global Markets, Roberto Sandoli, a tendência é que haja mais oscilação e volatilidade de preços da commodity, considerando o contexto global ainda marcado pelo conflito e o processo inflacionário que está afetando o mercado como um todo.
“Além disso, ainda temos um gargalo logístico. Muitas empresas de transporte marítimo aguardam uma solução definitiva do impasse entre Rússia e Ucrânia para colocar as suas frotas de navios em operação. Levará um tempo para normalizar todo esse fluxo e não teremos um volume de exportação necessário para suprir toda demanda global pelo cereal”, avalia o especialista.
Outro fator que deve ser considerado pelos vendedores e compradores neste momento é o contexto da Argentina. O país tem sido tradicionalmente um importante exportador do cereal e se tornou ainda mais relevante depois do conflito entre Rússia e Ucrânia, maiores fornecedores globais. Porém, as projeções da Bolsa de Cereais de Rosário indicam que a Argentina produzirá menos trigo na temporada 2022/23, uma consequência do fenômeno La Niña que reduziu as chuvas na principal região agrícola do país. “O cenário na Argentina é mais um fator que fará com que os preços continuem firmes no Brasil”, diz.
Gerenciamento de riscos
É neste contexto que o Brasil, importador de mais de 50% do seu consumo interno, continuará dependente do produto externo -- mesmo com a possibilidade de a produção do cereal bater um novo recorde no país, chegando a 9 milhões de toneladas neste ano, segundo estimativas da Conab.
“As empresas locais estão expostas às impressibilidades do mercado internacional. Como commodity negociada em Bolsa, o trigo está sujeito às oscilações do mercado, de fatores políticos, saúde pública e questões climáticas, por exemplo. Por isso, compradores de trigo como a indústria alimentícia precisam ter uma visão estratégica de gestão de riscos para garantir bons resultados nas negociações de compras da matéria-prima”, afirma o especialista. “Moinhos e cooperativas também precisam estar mais atentos neste momento”, reforça.
As incertezas geradas pela guerra no Leste Europeu trouxeram grandes impactos sobre as exportações e as cotações do cereal no mundo. Segundo um levantamento da hEDGEpoint Global Markets, somente no primeiro trimestre, a volatilidade do preço foi de 61,91%.
“Para fazer frente a esses riscos e não ter prejuízo na hora da compra ou venda, é necessário ter ferramentas de hedge. A estratégia de hedge para commodities tem o objetivo de proteger contra flutuações desfavoráveis e preparar o negócio para os movimentos globais de oscilação de câmbio, preço e mudanças de oferta e demanda. É o momento de começarmos a repensar a forma de como é feita essa negociação de trigo”, ressalta.
Roberto Sandoli também indica que o câmbio é imprescindível para completar o ciclo de gerenciamento de risco integral das empresas em um mercado global como o de commodities. “A fixação de câmbio, junto com a commodity, de maneira unificada e integrada, também é um instrumento para facilitar o controle e gerenciamento da sua posição”, afirma.
Compartilhar
Newsletter Cultivar
Receba por e-mail as últimas notícias sobre agricultura
Newsletter Cultivar
Receba por e-mail as últimas notícias sobre agricultura