Técnica revoluciona o monitoramento de doenças sem danificar as plantas

Tecnologia inovadora permite visualização em 3D de patógenos em tempo real, auxiliando na produção de cultivos mais resistentes e com maiores rendimentos

30.09.2024 | 13:30 (UTC -3)
Revista Cultivar
Varredura 3D de células de alface infectadas, capturadas com tomografia de coerência óptica dinâmica (dOCT)
Varredura 3D de células de alface infectadas, capturadas com tomografia de coerência óptica dinâmica (dOCT)

Cientistas da Universidade de Tecnologia de Delft, em colaboração com a Universidade de Utrecht, criaram um método que permite monitorar infecções em plantas em tempo real e em 3D, sem a necessidade de destruir a planta infectada. Essa nova técnica, chamada tomografia de coerência óptica dinâmica (dOCT), está sendo considerada um marco na pesquisa agrícola. O estudo detalha como a tecnologia pode ser utilizada para entender melhor como patógenos, como o causador do míldio (Bremia lactucae), comportam-se dentro de tecidos vegetais vivos.

“Ao contrário das técnicas anteriores, que exigiam a morte da planta e o uso de corantes para observação microscópica, a dOCT nos permite visualizar o desenvolvimento da doença em tempo real, preservando a planta viva”, explica Jeroen Kalkman, professor associado de física de imagem.

Esse método possibilita que os cientistas acompanhem a progressão da doença de forma contínua, acelerando a obtenção de dados essenciais para o desenvolvimento de variedades de plantas mais resistentes.

Variedades de alface resistentes ao míldio já são comuns entre os agricultores. No entanto, assim como ocorre com o coronavírus em humanos, o míldio está em constante mutação, criando variantes que podem infectar plantas antes consideradas resistentes. Essa “corrida” entre o desenvolvimento de novas cepas de patógenos e a criação de cultivares resistentes força a comunidade científica a estar em constante inovação.

“Existem variedades de alface resistentes, mas a doença evolui, e os patógenos acabam encontrando formas de superar essas resistências”, afirma Jos de Wit, físico envolvido na pesquisa. De acordo com ele, a nova tecnologia permitirá uma reação mais rápida no desenvolvimento de cultivares, uma vez que agora é possível visualizar a atividade dos patógenos desde os estágios iniciais da infecção.

Impacto na produtividade e sustentabilidade

A técnica de dOCT não apenas facilita o monitoramento de doenças em plantas, mas também traz promessas significativas para o futuro da agricultura. Segundo os pesquisadores, essa tecnologia contribuirá para a criação de cultivos mais resistentes a uma variedade maior de patógenos, o que resultará em colheitas mais abundantes e saudáveis.

“Com a dOCT, podemos desenvolver plantas que exigem menos uso de pesticidas, são mais resistentes a condições climáticas extremas e, consequentemente, produzem mais. Isso significa que podemos alimentar mais pessoas com menos recursos”, destaca Kalkman. Além disso, o uso reduzido de pesticidas também representa uma vantagem para o meio ambiente, já que a menor utilização de químicos contribui para a preservação dos ecossistemas agrícolas.

Aplicação em outros cultivos

Embora os estudos iniciais tenham focado nas infecções de míldio em alfaces, a equipe de Delft demonstrou que a técnica é eficaz para outros tipos de cultivos. Pimentões e culturas infectadas por nematoides parasitas foram analisadas com sucesso usando a dOCT.

Contudo, ainda há desafios a serem superados antes que a técnica se torne amplamente utilizada. “Ainda precisamos torná-la mais acessível para biólogos sem formação técnica”, afirma Kalkman, que vê na tecnologia um potencial ainda maior para transformar o modo como as doenças das plantas são mapeadas e combatidas.

Com a nova ferramenta em mãos, os pesquisadores esperam reduzir o tempo e o custo no desenvolvimento de cultivares mais resistentes, garantindo uma produção agrícola mais sustentável e robusta frente aos desafios globais. A técnica de visualização em 3D, sem a necessidade de destruir a planta, promete não apenas ser um divisor de águas para a pesquisa científica, mas também para a prática agrícola no campo, levando a uma revolução silenciosa no modo como os agricultores enfrentam os patógenos que ameaçam suas colheitas.

Mais informações podem ser lidas em doi.org/10.1038/s41467-024-52594-x

Exemplo do código pode ser visto em doi.org/10.5281/zenodo.11428245

Planta de alface da qual foi retirada uma amostra para a pesquisa (esq.); amostra de folha de alface colocada sob o scanner para tomografia de coerência óptica dinâmica (dOCT) (dir.)
Planta de alface da qual foi retirada uma amostra para a pesquisa (esq.); amostra de folha de alface colocada sob o scanner para tomografia de coerência óptica dinâmica (dOCT) (dir.)

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