Substância de macho atrai fêmea da cigarrinha-do-milho
Pesquisadores descobrem evidência de comunicação química sexual mediada por voláteis em Dalbulus maidis
02.10.2025 | 07:02 (UTC -3)
Revista Cultivar
Foto: Mauricio Paulo Batistella Pasini
Machos da cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis) emitem compostos voláteis que atraem as fêmeas. O comportamento foi identificado por pesquisadores da Embrapa e da Universidade de Brasília. Eles explicam tratar-se da primeira evidência de comunicação química sexual mediada por voláteis em D. maidis. Também é o primeiro registro do tipo em toda a superfamília Membracoidea, à qual a espécie pertence.
O experimento mostrou que fêmeas buscam ativamente os odores emitidos por machos, tanto vivos quanto seus extratos voláteis coletados. Já os machos evitam odores liberados por fêmeas estressadas, o que sugere a emissão de feromônio de alarme.
Testes de comportamento
Os testes de comportamento ocorreram em bioensaios com olfatômetro em formato de Y. No experimento, um inseto por vez era exposto à escolha entre duas fontes de odor. O tempo de permanência e a primeira escolha indicaram preferência comportamental.
Fêmeas demonstraram atração significativa por machos e por extratos obtidos da aeração de machos, em comparação com ar limpo e solvente controle. Também se aproximaram da mistura de machos e fêmeas. Por outro lado, não mostraram preferência entre fêmeas e ar limpo.
Foto: Charles Martins de Oliveira, Embrapa
Machos não demonstraram interesse por odores de outros machos, nem por extratos de fêmeas. Evitaram o odor de fêmeas não aclimatadas ao ambiente experimental, sugerindo rejeição por possíveis sinais químicos de estresse ou ameaça.
Análise química
A análise química dos compostos identificou 30 substâncias voláteis nos extratos de ambos os sexos, sem distinção qualitativa entre machos e fêmeas. A composição incluiu aldeídos, hidrocarbonetos lineares e monoterpenos como alfa-pineno, beta-pineno, limoneno e linalol. Também foram identificados compostos de origem vegetal como DMNT e ciclosativeno, associados ao milho. As análises foram feitas por cromatografia gasosa acoplada a espectrometria de massas.
Não foi possível determinar com precisão qual substância específica atua como feromônio sexual. A ausência de compostos exclusivos em machos levanta a hipótese de que os voláteis ativos são produzidos em quantidades extremamente baixas, abaixo do limite de detecção dos equipamentos. Mesmo assim, a resposta comportamental das fêmeas indica função provável de atração sexual.
Escolha dos machos para teste
Os machos utilizados estavam em colônia há pelo menos duas gerações. Foram selecionados aleatoriamente sem controle sobre idade ou histórico de acasalamento. Parte dos indivíduos já havia copulado. Mesmo assim, continuaram atraentes para as fêmeas. Isso sugere emissão contínua de voláteis após o acasalamento, comportamento já registrado em outras espécies.
Foto: Charles Martins de Oliveira, Embrapa
As fêmeas da cigarrinha acasalam uma única vez ao longo da vida. Já os machos copulam múltiplas vezes. A continuidade da emissão de sinais químicos após o acasalamento pode indicar vantagem evolutiva e relevância do feromônio como ferramenta de atração. A constatação amplia as possibilidades de uso desses compostos no manejo da praga.
A coleta de voláteis utilizou câmaras de vidro com fluxo contínuo de ar filtrado e adsorção dos compostos em tubos com polímero específico. Os insetos permaneceram nas câmaras por 24 horas. Quando mantidos sem alimento por mais tempo, apresentaram alta mortalidade. A restrição de tempo sem alimentação foi necessária para evitar interferência de compostos emitidos pelas plantas ou pelo substrato.
Outros estudos com percevejos mostram que a falta de alimento pode afetar a emissão de feromônio sexual. Em Euschistus heros, por exemplo, a produção de feromônio cessa após 24 horas sem alimentação. No caso da cigarrinha-do-milho, os insetos foram alimentados até o início dos experimentos, o que pode ter permitido a manutenção da capacidade de emitir sinais químicos durante o período de coleta.
Comunicação química
A comunicação química por feromônios sexuais é raramente descrita entre cigarrinhas e parentes próximos. Até cerca de uma década atrás, não havia registro confirmado de feromônio sexual na subordem Auchenorrhyncha. O primeiro sinal veio com a identificação de um feromônio de agregação em Callitettix versicolor. Posteriormente, estudos com Philaenus spumarius e Lycorma delicatula indicaram atração entre sexos mediada por extratos corporais ou voláteis, mas sem identificação estrutural das substâncias envolvidas.
A descoberta de comportamento semelhante em D. maidis abre perspectiva de aplicação no controle da praga. Armadilhas iscas com feromônio podem permitir monitoramento de populações. Além disso, o uso da substância em técnicas de confusão sexual ou atração-morte (attract-and-kill) já apresenta resultados promissores em outras pragas agrícolas.
Sistemas semelhantes são empregados no controle de Tuta absoluta (traça-do-tomateiro), Euschistus heros (percevejo-marrom) e Grapholita molesta (traça-oriental da maçã). Em todos os casos, o feromônio contribui para reduzir o uso de inseticidas e otimizar o manejo integrado.
Compostos voláteis
Na cigarrinha-do-milho, a ausência de um limiar populacional definido para início do controle torna especialmente relevante o uso de tecnologias baseadas em comportamento. O inseto transmite patógenos mesmo em baixas densidades populacionais. Qualquer estratégia que reduza o contato entre inseto vetor e planta hospedeira pode minimizar o impacto das doenças associadas.
O uso de compostos voláteis também pode ajudar a explicar o comportamento de agregação observado em campo. Assim como ocorre com pulgões e cigarrinhas de outras espécies, os indivíduos de D. maidis tendem a se concentrar em determinadas plantas. Isso pode ocorrer por emissão de sinais químicos de atração, como ocorre com feromônios de agregação.
Além disso, o comportamento de evitação observado em machos diante de fêmeas estressadas indica possível emissão de feromônio de alarme. Essa hipótese reforça a complexidade do sistema de comunicação química da espécie.
A pesquisa foi conduzida por Mateus Souza Sanches, Miguel Borges, Raul Alberto Laumann, Charles Martins Oliveira, Marina Regina Frizzas e Maria Carolina Blassioli-Moraes.
Outras informações em doi.org/10.3390/insects16101021
Compartilhar
Newsletter Cultivar
Receba por e-mail as últimas notícias sobre agricultura
Newsletter Cultivar
Receba por e-mail as últimas notícias sobre agricultura