Valor da Produção Agropecuária é previsto em R$ 1,249 trilhão para 2023
Resultado é o maior da série em 34 anos; produtividade e preços agrícolas puxam o crescimento
Prejudicado pelo fenômeno La Niña durante o verão, período crucial para o desenvolvimento da soja, o agronegócio do Rio Grande do Sul ainda sofre os efeitos da seca e tem cerca de 200 municípios em situação de emergência. A hEDGEpoint Global Markets, companhia especializada em commodities e gestão de riscos e que tem um escritório recém-inaugurado em Passo Fundo (RS), lista os impactos do clima no setor rural gaúcho.
“O RS tem um importante papel no agronegócio brasileiro. A soja, o milho, o arroz e o trigo estão entre as principais commodities produzidas e exportadas pelo estado. Mas a estiagem no Rio Grande do Sul vem causando prejuízos aos agricultores”, observa Eduardo Três, Gerente sênior de Relacionamento da hEDGEpoint Global Markets.
Durante o verão, período crucial para o desenvolvimento da soja, o efeito La Niña prejudicou as plantações. Com clima quente e ausência de chuvas, os grãos semeados por volta de outubro e novembro de 2022 tiveram dificuldades para crescer e amadurecer até a época de colheitas, entre janeiro e abril. “Mesmo com chuvas no radar e já se manifestando em algumas regiões, ainda é difícil visualizar um bom cenário para os produtores”, indica.
A mesma safra de grãos no Rio Grande do Sul já estima perda de 50 a 60%. Se a produtividade esperada do milho de verão, por exemplo, era de 5 a 6 milhões de toneladas, devem ser colhidas cerca de 3 milhões.
Na soja, a expectativa de 22 milhões caiu para 15 milhões. E atualmente, se esse número se mantiver será uma excelente notícia. Olhando para os prejuízos financeiros, estima-se perda de 6 a 7 bilhões para a economia gaúcha.
“Apesar de o principal impacto ser no bolso do agricultor, toda a cadeia econômica acaba sendo afetada. É um valor que deixa de chegar ao estado e circular no comércio, serviços e outros”, observa.
No Brasil, quatro estados são responsáveis por 70% da produção de grãos no país: Mato Grosso, Paraná, Rio Grande do Sul e Goiás. Entre eles, MT é o maior produtor e RS o quarto, no ranking nacional. Mesmo assim, a commodity é de grande importância para a economia do estado gaúcho.
Já são três anos seguidos de fenômeno La Niña no verão, período de crescimento da soja. Mas mesmo com a estiagem, as exportações de grãos do agronegócio brasileiro atingiram o maior valor da série histórica em 2022.
Isso porque houve queda no volume embarcado, mas aumento nos preços médios dos itens. A venda de trigo e o estoque de soja (da safra 20/21) compensaram a quebra de safra 21/22. Mas com a volta da seca no verão 22/23, já fica mais complicado ter estimativas de aumento, seja em volume ou em valores.
“Como a precificação da soja depende também de oferta e demanda, quando há pouca oferta o preço pode subir. E nesse caso, o Centro-Oeste deve suprir as demandas, pois lá o clima é mais previsível e já se consolida uma nova safra recorde em 22/23”, explica o especialista.
No mercado de commodities, para minimizar os impactos é preciso fazer gestão de risco. Mas são diversos os tipos de riscos envolvidos, logo, existem diversas possibilidades de gerenciamento. “Uma prática muito comum no mercado de grãos é a realização de contratos a termo. Quando o produtor de soja investe em insumos para a próxima safra, ele vende parte dessa safra travando o preço futuro para obter na hora o valor que precisa”, diz.
O problema disso, segundo o especialista, é que há um compromisso com a entrega física do produto. E com as quebras de safra que vêm acontecendo, pode não haver produto suficiente para entregar a este comprador. No RS, já houve casos de um produtor precisar comprar soja de outro para poder entregar ao comprador.
“É aí que entra a estratégia de hedge como uma possível alternativa para reduzir prejuízos. Pois apesar de também travar um preço para a commodity, os contratos são realizados em bolsa”, conclui.
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