O PSAL integrou o Projeto de Cooperação Técnica Trilateral Estados Unidos-Moçambique-Brasil, executado pelas universidades da Flórida e de Michigan, o Instituto de Investigação Agrária de Moçambique (IIAM) e a Embrapa.
“Esse projeto de segurança alimentar representou um divisor de águas, entre uma realidade de dependência e uma autossuficiência com relação ao cultivo de algumas espécies que fazem parte da dieta alimentar dos moçambicanos”, avalia o pesquisador Francisco Resende, que coordenou o componente de produção Variedades e Tratos Culturais em Hortaliças, incluído no projeto tripartite.
Para exemplificar, ele destaca o desempenho de cultivares introduzidas nas áreas de cultivo no âmbito do PSAL, como o das cebolas Franciscana (IPA-10) e Vale Ouro (IPA-11). Desenvolvidas pelo Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), e cujas sementes são comercializadas pela empresa Hortivale, as cultivares – pela qualidade e produtividade – hoje ocupam a quase totalidade do mercado de Moçambique.
O caso dos materiais de cebola, no entanto, não é o único a merecer destaque. A alface, segundo o pesquisador, talvez tenha proporcionado um impacto ainda maior, já que não havia material de cultivo para clima tropical – as sementes plantadas eram importadas da Europa ou da África do Sul, e produzidas apenas no inverno. “As variedades brasileiras testadas na região de Nampula rapidamente tomaram o lugar das outras, porque crescem e se desenvolvem normalmente no calor sem apresentar florescimento precoce, então é um produto de melhor qualidade comercial” assinala.
Outros casos de sucesso levam o carimbo da Embrapa Hortaliças: o alho BRS Hozam, os tomates San Vito e Santa Cruz, plantados sob tutoramento – técnica inovadora para tomaticultura em Moçambique e de melhor qualidade para o mercado in natura do que os rasteiros - e a cenoura Brasília, além das cebolas São Francisco e Alfa Tropical, vêm tendo suas sementes comercializadas por empresas brasileiras no mercado moçambicano e começam a fazer parte do contexto olerícola do país.
Apesar do término do projeto, a Embrapa Hortaliças manteve, extraoficialmente, a interação com os pesquisadores do IIAM, que seguem parceiros na troca de informações, conhecimento e experiências. Para Resende, que mantém uma frequente interlocução com o pesquisador Carvalho C. Ecole, diretor de Agronomia & Recursos Naturais do IIAM, “o mais importante e gratificante nesse trabalho é que a área de pesquisa implantada pelo projeto continua em pleno funcionamento, gerando novos resultados, então temos muitas conversas ainda pela frente”.
Incorporação de tecnologias - De acordo com o diretor do IIAM, tão relevantes quanto os materiais introduzidos foram as tecnologias apresentadas e que hoje vêm sendo incorporadas nas áreas de produção de hortaliças. “Devemos ao PSAL a inserção de processos inovadores para a nossa agricultura, como sistemas de irrigação (microaspersão e rega por gotejamento), compostagem, construção de estufas para produção de mudas, culturas de cobertura e produção de adubos verdes e cobertura do solo com uso de plasticultura ou de resíduos vegetais, entre outros”, acentua Ecole.
Outro legado do projeto refere-se à publicação do livro “Horticultura em Moçambique – características, tecnologias de produção e de pós-colheita”, com a edição técnica compartilhada entre os agrônomos Carvalho Ecole (IIAM), Walter Bowen (Universidade da Flórida), Francisco Resende e a bióloga Lenita Haber (Embrapa Hortaliças), todos integrantes do PSAL.
“Esse livro expressa tudo o que foi construído durante o tempo de duração do projeto e simboliza um reconhecimento à dedicação de todos que fizeram a travessia conosco”, registra Lenita.