Programa Cana IAC completa 30 anos

As comemorações foram realizadas na última semana, e celebraram as tecnologias do Instituto Agronômico que contribuíram para os ganhos de produção

11.03.2024 | 16:55 (UTC -3)
Carla Gomes, edição Revista Cultivar
Foto: divulgação
Foto: divulgação

O Programa Cana IAC completou, neste mês, 30 anos. As comemorações foram realizadas na última semana, e celebraram as tecnologias do Instituto Agronômico (IAC-APTA) que contribuíram para os ganhos de produção e produtividade verificados nas últimas décadas no setor sucroenergético. O pacote tecnológico desenvolvido pelo programa inclui, ao todo, 34 variedades para esse segmento da economia nacional, que tem em São Paulo a sua liderança.

Segundo dados apurados pelo instituto, as variedades contribuíram para fazer a produtividade saltar de 70 para cerca de 87 toneladas de cana-de-açúcar, por hectare, na média de cinco cortes, mas com casos de unidades que atingiram mais de 100 toneladas/hectare. Além disso, as ações também resultaram em ganhos de 30% na produtividade gerados pela Matriz de Ambientes, 90% de acertos na estimativa de safra obtidos com Prevclimacana IAC e o Sistema de Mudas Pré-Brotadas (MPB) geraram resultados até 20 vezes superior ao obtido no plantio de cana tradicional mecanizado.

Em três décadas, o Programa Cana IAC também desenvolveu o modelo de manejo varietal com o conceito da Matriz do Terceiro Eixo e a caracterização de ambientes de produção por meio do levantamento de solos, realizado no Projeto Ambicana.

A rede experimental do Instituto Agronômico ainda evidenciou clones IAC que, pelo desempenho, tornaram-se variedades atualmente cultivadas em regiões com expressivo déficit hídrico. Dentre elas, destacam-se: IAC91-1099, IACSP95-5000, IACSP95-5094 e IACSP97-4039.

“Todas essas têm adaptação muito boa a regiões com déficit hídrico e traz a perspectiva de otimizar a produtividade nas áreas secas, antes ocupadas por pastagens. As variedades IACSP-015503 e a IACCTC07-8008 que se destacam em ambientes mais restritivos”, comenta Marcos Landell, líder do Programa Cana IAC e diretor-geral do IAC, da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.

Enfrentamento de pragas e doenças

Para o enfrentamento de pragas e doenças, as equipes desenvolveram tecnologias de manejo e métodos de análise para diagnóstico de doenças. O Programa Cana desenvolve e transfere ao setor estratégias de produção em cana irrigada, considerando que a irrigação é fator de segurança com grande potencial para a verticalização da produção.

Os pesquisadores também conduzem estudos na área de nutrição, envolvendo a adubação convencional e com uso de resíduos. A identificação varietal é obtida pelo método Fingerprint, também criado pelo Programa Cana IAC com o objetivo de garantir a identidade e respectivas características de cada variedade.

Para colaborar na qualificação de profissionais, o Programa Cana IAC realiza cursos para o setor sucroenergético com abrangência nacional, anualmente.

Referência nacional e para os países interessados na viabilização da canavicultura sustentável, o Programa é desenvolvido com parcerias com a iniciativa privada. Atualmente, reúne, em 11 estados brasileiros, cerca de 200 empresas parceiras. Em 2003, eram 30. Há também o apoio de de agências de fomento estaduais e federais.

Como nasceu o Programa Cana IAC

O IAC iniciou oficialmente seus estudos com cana-de-açúcar há 90 anos. Em 1934, no IAC, foi instalado o primeiro programa de melhoramento genético da cana-de-açúcar no estado de São Paulo e iniciadas as primeiras experimentações de métodos de cultivo da cultura.

“Nas décadas seguintes, o Instituto realizou importantes trabalhos na área de calibração de nutrientes, o que possibilitou estabelecer uma tabela de indicação de adubação para cana-de-açúcar, por exemplo, e se envolveu com o Instituto Biológico no estudo das principais doenças da cultura”, lembra Landell. Naquela época, as áreas de cana-de-açúcar eram restritas ainda. A ampliação significativa veio com a criação do programa Proálcool.

Na segunda metade da década de oitenta, o mapa da canavicultura paulista mudou. A região de Ribeirão Preto e do Oeste paulista passaram a ser consideradas as principais regiões da “cana paulista”. “A mudança da forma de colheita de cana queimada manual para cana crua mecânica demandou novos estudos e uma nova projeção das cultivares que viriam a ser lançadas nos anos que se seguiram pelos programas de melhoramento genético existentes”, comenta Landell.

Esses eram os acontecimentos externos que se davam em uma área que atualmente está em torno de três milhões de hectares e que antes ocupava menos de 1/3 desse espaço.

“No meio desse complexo contexto, foi criado, em 1994, o Programa Cana IAC, reunindo pequeno número de pesquisadores, que se lançaram em diversas parcerias com associações de plantadores e agroindústrias para execução de projetos direcionados às demandas prospectadas”, conta.

IAC contribui na formação dos programas de melhoramento

Além de contribuir com o setor no desenvolvimento de variedades e de sistemas de manejo, o Instituto Agronômico colaborou também na formação de programas de melhoramento da Planalsucar e Copersucar, no final da década de 60. Nessa ação, que dinamizou a agricultura canavieira do Brasil, participaram os pesquisadores do IAC Carlos Arnaldo Krug e Hermindo Antunes Filho. 

Naquele momento, apesar de a programação científica do IAC ser direcionada para outras culturas, ainda assim eram mantidos 20 projetos na então chamada Seção de Cana-de-açúcar.

Em 1972, o IAC e a Copersucar firmaram convênio para introduzir novos materiais vegetais. Como fruto dessa parceria, 678 genótipos de vários países entraram no Brasil, até 1983.O convênio viabilizou também que, a partir de 1976, o IAC passasse a utilizar os campos de cruzamentos em Camamu, na Bahia, pertencentes a Planalsucar. A região baiana reúne condições climáticas adequadas para a hibridação. Naquela época, o IAC fazia os cruzamentos em Ubatuba, litoral paulista, que não tem as condições ideais para essa etapa do melhoramento genético.

Regionalização do melhoramento

A regionalização do melhoramento genético da cana teve início com o pesquisador Raphael Alvarez, no final da década de 1980, período em que os programas da Planalsucar e da Copersucar recuaram. Esse cenário proporcionou o reposicionamento do programa do IAC. Fez-se a extinção da forma administrativa de seção e o programa foi incorporado à antiga Divisão de Estações Experimentais do IAC, que reunia todas as fazendas do Instituto no estado de São Paulo. Essa reforma aumentou a interface das pesquisas com o setor sucroenergético de forma descentralizada. Nascia o Programa Cana IAC.

O objetivo era atender uma demanda do setor, que estimulou a implantação de um programa de cooperação para o desenvolvimento de variedades. Em outubro de 1994, era oficialmente criado o ProCana: um convênio de cooperação entre o IAC, agroindústrias do açúcar e do álcool e a Fundação de Apoio à Pesquisa Agrícola (Fundag).

O projeto principal focava o melhoramento genético visando variedades de cana mais produtivas, com maior teor de açúcar e outras características de interesse econômico. Projetos da área de fitotecnia interagem com estudos em fisiologia, fitopatologia, entomologia, pedologia, fertilidade, adubação, climatologia e matologia. Participam do Programa equipes do IAC e da APTA Regional de Piracicaba. 

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