Coronavírus não deve prejudicar fortemente o PIB do Agronegócio
Impactos sobre o mercado de trabalho do setor, no entanto, são preocupantes
A cultura da soja vem sendo apontada como uma das alternativas para ocupar as áreas que antes eram utilizadas pela cana-de-açúcar no Norte e no Noroeste fluminenses. No entanto, não há estudos de risco climático associados, sendo totalmente empírica qualquer recomendação de cultivares para essa região. A Embrapa espera contribuir com pesquisa para preencher essa lacuna, com alguns projetos que se complementam. No ano passado, o projeto Adaptação da cultura da soja para grãos e alimentação humana nas condições edafoclimáticas do Norte e do Noroeste fluminenses, liderado pela pesquisadora da Embrapa Agrobiologia (Seropédica, RJ) Cláudia Pozzi, foi aprovado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro (Faperj). A proposta tem relação direta a outro projeto já conduzido na região pela Embrapa, liderado pelo pesquisador Jerri Zilli.
A intenção em comum desses projetos é introduzir na região cultivares de soja mais adaptadas ao clima e ao solo locais, com bases tecnificadas, incrementando a economia do Estado e, simultaneamente, contribuindo para a recuperação de áreas degradadas e a redução do impacto negativo que se observou com a decadência da cultura canavieira, que entrou em declínio principalmente a partir da década de 1990. “Essas áreas, anteriormente ocupadas com cana-de-açúcar ou na reforma de canaviais, poderiam ser utilizadas para a produção sustentável de soja, possibilitando tornar a região um polo regional de produção da cultura”, argumenta Pozzi.
A expectativa, segundo a pesquisadora, é identificar 20 genótipos de soja que se adaptem ao local e tenham alto potencial produtivo. Inicialmente, foram selecionados para os experimentos 20 cultivares disponíveis no mercado, todas indicadas pela Embrapa Soja (Londrina, PR). “Espera-se, por exemplo, identificar materiais precoces e outros mais tardios que possam ser semeados em momentos distintos dentro do período chuvoso e que possibilitem altos rendimentos de grãos da cultura”, cita.
Para os testes, os genótipos serão cultivados em duas épocas de semeadura diferentes, em locais cujo solo seja representativo da região e tenha sido ocupado no passado por lavouras de cana-de-açúcar. Serão selecionadas pelo menos três propriedades rurais situadas nos municípios fluminenses de Campos dos Goytacazes e Macaé, considerando as safras 2019-2020, 2020-2021 e 2021-2022.
Diversos fatores serão analisados ao longo dos três anos previstos do projeto para que sejam feitas as recomendações de cultivares de soja que se adaptem às condições da região. Primeiramente, serão analisados o valor de cultivo e uso dos genótipos selecionados, seguindo os critérios estabelecidos pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Outros critérios técnicos englobam ciclo da planta, estande final, altura de inserção da primeira vagem, altura das plantas, peso das sementes a cada 100 gramas, acamamento, produtividade e teor de proteína e óleo.
A partir dos estudos, os pesquisadores envolvidos esperam contribuir para a especificação de um sistema de manejo da cultura da soja, subsidiando o trabalho de técnicos de extensão rural, agricultores, órgãos de fomento, entre outros atores envolvidos na produção. Além disso, a equipe irá quantificar a contribuição da fixação biológica de nitrogênio dos genótipos de soja, por meio da avaliação da produção de biomassa aérea e determinação do teor de nitrogênio total e abundância natural de 15N. Por fim, serão estimados os custos de produção e lucratividade da lavoura para a região.
As informações técnicas geradas sobre o desempenho agronômico da soja darão subsídios para a elaboração do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC) e a definição da Região Edafoclimática para a Cultura (REC). “O ZARC e o REC, via de regra, são inicialmente estruturados com base em informações de clima e solo disponíveis para uma dada região, porém dados locais de experimentação com a cultura são indispensáveis para a aferição de ajustes locais”, explica Pozzi.
As pesquisas com soja na região Noroeste do Rio de Janeiro não são novidade. Nas décadas de 1980 e 1990, a Pesagro-Rio e a Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF) fizeram testes com diferentes cultivares do grão oriundas das regiões Centro-Oeste e Sudeste. “Os resultados da época demonstraram que algumas variedades apresentaram rendimentos de grãos próximos a 4 mil quilos por hectare, um índice bem acima da média nacional na atualidade”, explica a pesquisadora.
A dificuldade de escoamento da produção, entre outros fatores, acabou impedindo o desenvolvimento da cultura no local. “Atualmente, além do mercado interno, a inauguração do Complexo Portuário do Açu, porto marítimo localizado a apenas 40 quilômetros da potencial região produtora, com estrutura para escoamento da produção de grãos, poderá ser um fator estratégico”, completa.
No entanto, já se passaram mais de 13 anos sem pesquisas relacionadas à indicação de variedades de soja para a região e, neste intervalo de tempo, além de terem surgido novas variedades, muitas das cultivares testadas anteriormente deixaram de ser comercializadas. “Considerando a atual situação da agropecuária no norte e noroeste fluminenses, e também sabendo do potencial de produção de soja no local, este é um gargalo a ser resolvido pela pesquisa”, defende Pozzi.
Também participam do projeto a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, a UENF e a Pesagro-Rio.
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