Mudanças na direção do Grupo Agroceres
Se, por um lado, os agricultores brasileiros vêm apostando no plantio de cultivares transgênicas de milho para evitar os danos causados pelos insetos-praga, como a lagarta-do-cartucho, principalmente, a adoção de medidas profiláticas contra a ocorrência de doenças na cultura ainda pode avançar muito na visão de pesquisadores.
"Atualmente, o problema com doenças é sério em algumas regiões do país, especialmente onde a cultura permanece no campo durante todo o ano, como em áreas irrigadas ou onde o plantio da safrinha é significante", alertam os pesquisadores José Carlos Cruz e Israel Filho, ambos da área de Fitotecnia da Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas-MG). Segundo especialistas da área de Fitopatologia da Empresa, a evolução das doenças está estreitamente relacionada à evolução do sistema de produção de milho do Brasil.
"Modificações ocorridas no sistema de produção, que resultaram em aumentos de produtividade, foram também responsáveis pelo aumento da incidência e da severidade das doenças. Desse modo, a expansão da fronteira agrícola, a ampliação das épocas de plantio (safra e safrinha), a adoção do sistema de plantio direto, o aumento do uso de sistemas de irrigação, a ausência de rotação de culturas e o uso de materiais suscetíveis têm promovido modificações importantes na dinâmica populacional dos patógenos, resultando no surgimento, a cada safra, de novos problemas relacionados à ocorrência de doenças", explicam os pesquisadores Luciano Viana Cota, Rodrigo Veras da Costa e Carlos Roberto Casela.
A ocorrência de doenças tem sido considerada, nos últimos anos, uma das principais causas limitantes à produtividade. Trabalhos de monitoramento realizados pela Embrapa Milho e Sorgo e pelo setor privado têm demonstrado que a mancha branca, a cercosporiose, a ferrugem polissora (foto acima), a ferrugem tropical, a ferrugem comum, os enfezamentos pálido e vermelho, as podridões do colmo e os grãos ardidos estão entre as principais doenças do milho no momento. De acordo com os fitopatologistas, notadamente a partir do final da década de 1990, relatos de perdas na produtividade devido ao ataque de patógenos têm sido frequentes nas principais regiões produtoras de milho do país. "Nesse contexto, vale destacar a severa epidemia de cercosporiose ocorrida na região Sudoeste de Goiás em 2000, na qual foram registradas perdas superiores a 80% na produtividade", destacam os pesquisadores.
As doenças podem ocorrer de forma epidêmica, podendo atingir até 100% das plantas na lavoura. Em áreas de plantio direto, os problemas poderão ser agravados, principalmente com cercosporiose, helmintospirose e podridões do colmo e das espigas. Nestas situações, reforçam os pesquisadores, é fundamental a escolha de cultivares tolerantes para evitar redução de produtividade. "A sanidade dos grãos também deve merecer atenção na escolha da cultivar. Tal característica é função, principalmente, da resistência genética da cultivar aos fungos que atacam o grão e está normalmente associada a um bom empalhamento", explicam José Carlos e Israel. Ainda segundo eles, uma baixa porcentagem de espigas doentes e de grãos ardidos são características que podem estar incorporadas ao insumo 'semente' e representam valor agregado, "pois melhor qualidade de grãos poderá significar maior preço no mercado".
Além das principais doenças citadas, os pesquisadores alertam que, nos últimos anos, doenças consideradas de menor importância têm ocorrido com elevada severidade em algumas regiões produtoras. É o caso da antracnose foliar e da mancha foliar de diplodia. Abaixo, conheça algumas das principais enfermidades, agrupadas de acordo com o órgão da planta infectado, formando os seguintes grupos: doenças foliares; podridões de colmo e das raízes; podridões de espigas e de grãos; e doenças sistêmicas. As informações são de autoria dos pesquisadores Luciano Viana Cota, Rodrigo Veras da Costa e Carlos Roberto Casela. A Embrapa Milho e Sorgo também disponibiliza em seu site uma base de dados sobre as principais doenças da cultura do milho, denominada Panorama Fitossanitário, com informações sobre identificação, controle, áreas de risco e publicações. Acesse
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A doença foi observada inicialmente no Sudoeste do estado de Goiás nos municípios de Rio Verde, Montividiu, Jataí e Santa Helena, no ano de 2000. Atualmente, a doença está presente em praticamente todas as áreas de plantio de milho no Centro Sul do Brasil. A doença ocorre com alta severidade em cultivares suscetíveis, podendo as perdas serem superiores a 80%.
A mancha branca é considerada, atualmente, uma das principais doenças da cultura do milho no Brasil, estando presente em praticamente todas as regiões de plantio de milho no país. As perdas na produção podem ser superiores a 60% em situações de ambiente favorável e de uso de cultivares suscetíveis.
No Brasil, foram determinadas perdas superiores a 40% na produção de milho devido à ocorrência de epidemias de ferrugem polissora. A doença está distribuída por toda a região Centro-Oeste, pelo Noroeste de Minas Gerais, por São Paulo e por parte do Paraná.
No Brasil, a doença tem ampla distribuição com severidade moderada, tendo maior severidade nos estados da região Sul.
A ferrugem tropical encontra-se distribuída nas regiões Centro-Oeste e Sudeste (Norte de São Paulo). A doença é mais severa em plantios contínuos de milho, principalmente em áreas irrigadas.
As maiores severidades desta enfermidade têm ocorrido em plantios de safrinha. Em situações favoráveis ao desenvolvimento da doença, as perdas na produção podem chegar a 50%, quando o ataque começa antes do período de floração.
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Com a ampla utilização do plantio direto, sem rotação de culturas, e o aumento das áreas de plantio do milho na safra e na safrinha, a antracnose tornou-se uma das doenças mais amplamente distribuídas nas regiões produtoras de milho do Brasil. A doença pode reduzir a produção do milho em até 40% em cultivares suscetíveis sob condições favoráveis de ambiente.
Mais de 40 espécies de 12 gêneros de nematóides têm sido citadas como parasitas de raízes de milho em todas as áreas do mundo onde este cereal é cultivado. Resultados de pesquisas demonstram que o controle químico de nematóides na cultura do milho permitiu o aumento da produção de grãos em 39% em área naturalmente infestada por Pratylenchus zeae e Helicotylenchus dihystera.
As podridões de colmo destacam-se, no mundo, entre as mais importantes doenças que atacam a cultura do milho por causarem reduções na produção e na qualidade de grãos e forragens. Sua ocorrência, no Brasil, tem aumentado significativamente nas últimas safras em todas as regiões de plantio. Os plantios sucessivos, a ampla adoção do sistema de plantio direto sem rotação de culturas e a utilização de genótipos suscetíveis favorecem a ocorrência da doença em função da elevada capacidade dos patógenos de sobreviverem no solo e em restos de cultura, resultando no rápido acúmulo de inóculo nas áreas de cultivo. Incidência de podridão de colmo acima de 70% e perdas de produtividade em torno de 50% têm sido relatadas em cultivares suscetíveis sob condições ambientais favoráveis ao desenvolvimento dos patógenos causadores de podridões de colmo.
Os enfezamentos do milho (doenças sistêmicas associadas a infecções dos tecidos do floema das plantas) são considerados doenças importantes para essa cultura no Brasil pelas perdas elevadas na produtividade e por sua ampla ocorrência nas principais regiões produtoras de milho. Os plantios tardios e de safrinha (iniciados a partir de meados de janeiro) contribuem para o aumento da incidência e das perdas causadas pelos enfezamentos devido ao aumento da população do inseto vetor nesta época. Esse fato pode ser agravado em sistemas de plantios sucessivos de milho.
A virose Rayado Fino, também denominada risca, pode reduzir a produção de grãos em até 30% e ocorre nas principais regiões produtoras de milho. Essa doença é transmitida e disseminada pela cigarrinha Dalbullus maidis.
O mosaico comum do milho ocorre, praticamente, em toda região onde se cultiva o milho. Calcula-se que essa doença pode causar uma redução na produção de 50%.
Guilherme Viana
Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas-MG)
/ (31) 3027-1223
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