Devido à crise logística desencadeada pela pandemia, com falta de contêineres e atrasos operacionais nos portos, e a proibição pela Lituânia do transporte em seu território de produtos da Bielorrússia, uma das maiores fontes mundiais de potássio, fundamental para os fertilizantes minerais, é crescente a preocupação relativa ao fornecimento do insumo à agricultura brasileira. O quadro pode agravar-se em decorrência das tensões entre a Rússia, outra grande produtora, e a Ucrânia. “Nesse cenário, os fertilizantes orgânicos, que potencializam e aumentam a eficiência no aproveitamento dos nutrientes contidos nos fertilizantes minerais, ganham importância ímpar no mercado”, salienta o engenheiro agrônomo Fernando Carvalho Oliveira, da Tera Ambiental.
A empresa, fabricante dos fertilizantes orgânicos Tera Nutrição Vegetal através da compostagem, em escala industrial, de resíduos orgânicos identifica em seu próprio desempenho essas tendências conjunturais. Nos últimos quatro anos, produziu e comercializou a totalidade de sua produção, ou seja, 196 mil toneladas de fertilizantes orgânicos compostos.
Os números estão em linha com os dados gerais do segmento. Estimativa da Associação Brasileira de Tecnologia em Nutrição Vegetal (Abisolo) é de que o mercado de fertilizantes especiais do Brasil tenha crescido 24% no ano passado, na comparação com 2020. E, nesse ano, as vendas dos fertilizantes orgânicos, cuja maior parte é obtida na compostagem de resíduos, já haviam se expandido em 44,5% na comparação com 2019, passando de R$ 231 milhões para R$ 334 milhões.
Considerando a dinâmica da agricultura brasileira, a demanda por fertilizantes em geral deverá continuar elevada, avalia Oliveira. O País importa cerca de 80% dos adubos de origem mineral, apresentando forte dependência externa. Assim, dado o cenário que tem dificultado as compras internacionais e o câmbio, com a moeda nacional desvalorizada, há espaço crescente para os fertilizantes orgânicos. Estes não substituem, mas potencializam os efeitos dos minerais, propiciando maior aproveitamento de seu uso.
O agrônomo salienta que os fertilizantes Tera Nutrição Vegetal utilizam matérias-primas de resíduos orgânicos urbanos, compostos por lodos de tratamento biológico de efluentes, restos de alimentos pré e pós-consumo e outros de origem industrial e agroindustrial. Pesquisa recente da Abisolo aponta que o segmento fabricante de fertilizantes orgânicos e condicionadores de solo no Brasil tem como matérias-primas predominantes os resíduos da atividade agropecuária, representando mais de 56%. Os tipos de resíduos utilizados pela Tera não representam mais do que 0,3% dos usados pelo setor.
“Isso aponta para um imenso potencial de crescimento na produção de fertilizantes orgânicos a partir do emprego de matérias-primas residuárias das atividades industriais e do saneamento urbano”, ressalta Oliveira, acrescentando: “Trata-se de um notório exemplo de economia circular, promovendo o tratamento de resíduos orgânicos diversos e reciclando nutrientes de planta e matéria orgânica, além de gerar empregos e impostos e evitar o aterramento de materiais com potencial de reaproveitamento na agricultura”.
De fato, considerando o imenso volume de resíduos orgânicos urbanos e aqueles gerados na agropecuária, é expressivo o potencial de crescimento da produção nacional de fertilizantes orgânicos. Isso, além de ampliar o abastecimento do mercado, contribuirá muito para reduzir o volume de lixo despejado diariamente nos aterros sanitários. Segundo dados do Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2020, a geração aumentou de 66,7 milhões de toneladas, em 2010, para 79,1 milhões, em 2019, com uma diferença de 12,4 milhões de toneladas. Cada brasileiro produz, em média, 379,2 quilos de lixo por ano, mais de um quilo diário.