UPL apresenta pesquisas no 45º Congresso Brasileiro de Pesquisas Cafeeiras
Empresa levará especialistas ao plenário, em Poços de Caldas (MG), para fomentar o uso de soluções para saúde vegetal na cafeicultura.
Deixar o emprego de mais de dez anos em uma empresa multinacional foi o primeiro desafio que o engenheiro agrônomo Fabio Angelis enfrentou ao apostar no empreendedorismo, numa área de fronteira, como a fotônica. A inspiração veio do campo - a imagem do pequeno Robô Mirã I navegando pelas entrelinhas de uma plantação de milho, utilizando laser para analisar o solo, mexeu com a imaginação, com a rotina e mudou a vida do jovem do interior de São Paulo.
Nascia ali, em 2014, de uma demonstração no Simpósio Nacional de Instrumentação Agropecuária (Siagro) a ideia inovadora de transformar aquele protótipo de robô em uma tecnologia avançada e capaz de mudar o conceito de análise física e química de solo no País.
Cinco anos depois, o que era apenas uma prova de conceito, atende pelo nome de AGLIBS e será apresentada na nova edição do Siagro deste ano, que vai ocorrer de 3 a 5 de dezembro, na Embrapa Instrumentação (São Carlos – SP), promotora do evento.
A inovação é agora um equipamento que analisa mais de mil amostras de solos diariamente, com tecnologia de última geração, de forma rápida e sem deixar resíduos químicos no meio ambiente. À base de laser e inteligência artificial, o AGLIBS fornece dados de quantidade de carbono orgânico do solo, textura (teores de areia, silte e argila) e pH.
A tecnologia leva embarcada a espectroscopia de emissão óptica com plasma induzido por laser (LIBS), uma técnica que consegue detectar os elementos químicos presentes no solo. A leitura é feita após um disparo de laser que transforma uma parte do solo em plasma o qual emite uma luz que é captada por um espectrômetro.
Para alcançar o estágio atual, a caminhada atrás da inovação não foi tão simples e nem fácil, envolveu muito esforço e empenho pessoal. A estratégia do novato no mundo dos negócios e nos conceitos da aplicação da óptica e da fotônica na agricultura, foi buscar a experiência de quem já dominava a aplicação da técnica LIBS há duas décadas no País.
É o caso da pesquisadora da Embrapa Instrumentação (São Carlos – SP), Débora Milori, que usou a LIBS na versão preliminar do robô, apresentado por ela em 2014 e que atraiu a atenção do agrônomo.
Da vontade de empreender com o avanço da ciência no desenvolvimento da tecnologia surgiu o AGLIBS, um ano depois do Mirã ter inspirado o jovem de 33 anos. Esse é o primeiro resultado da parceria do ecossistema de inovação da Embrapa Instrumentação com uma startup voltada ao agronegócio (Agritech).
Da união nasceu a Agrorobótica, que Fábio Angelis criou junto a com a física Aida Bebeachibuli Magalhães. A startup nasceu paralelamente ao desenvolvimento da tecnologia. Enquanto as pesquisas avançavam no Laboratório de Óptica e Fotônica, da Embrapa Instrumentação, a empresa tomava corpo juridicamente.
Escalar a tecnologia é um desafio que coloca à prova toda startup, conhecido como o vale da morte, etapa em que as empresas enfrentam enorme risco de descontinuidade de suas operações. Atravessar esse vale é na visão do empreendedor a etapa que mais exigiu dispêndio de energia, foco e persistência.
“Chegamos muito perto de nos juntarmos aos 80% de empresas que não conseguem manter o negócio, muitas vezes por falta de recursos, e têm de encerrar as atividades”, relata. A falta de receita foi justamente um dos obstáculos que Angelis teve de vencer.
Durante quatros anos, a Agrorobótica bancou do próprio bolso os investimentos na empresa até chegar à fase atual. A tecnologia tem atraído a atenção de grandes empresas produtoras mundiais de grãos e fibras e se destacado entre os métodos convencionais de análise de solo – ampliou a quantidade de elementos analisados – passou dos três iniciais para nove e pretende ir além, analisar o máximo possível de propriedades físicas e químicas dos materiais.
“É preciso acreditar muito, porque os desafios são gigantescos. Deixar um bom emprego, apostar em um mercado tradicionalista, como a agricultura, sem apoio financeiro, exige fundamentalmente um bom equilíbrio psicológico para não desistir no meio do caminho”, diz.
Mesmo já tendo superado boa parte das dificuldades, o empresário disse que a expectativa agora é consolidar a entrada da tecnologia no mercado o mais rápido possível. “Desenvolvemos o AGLIBS 1.0, passamos este ano para um outro patamar, a 2.0. No próximo ano esperamos entrar com o AGLIBS 3.0”, adianta o agrônomo.
Fabio Angelis foi um dos empreendedores, que participou do seminário “Caminhos das Startups”, sediado pela Embrapa Instrumentação, na terça-feira (22), como parte da programação da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT).
A Embrapa Instrumentação tem atuado no ecossistema de inovação tanto gerando spin off, caso da Agrorobótica, como também fazendo parcerias para o desenvolvimento com empresas já estabelecidas, como a Fine Instrument Technology (FIT). A empresa que também participou do seminário utiliza o método de ressonância magnética nuclear desenvolvido pela Embrapa Instrumentação para análise de óleos e sementes.
“É de extrema importância que tenhamos uma ação muito forte na linha de empreendedorismo. Observamos que as universidades e os centros de pesquisas têm diversos trabalhos que podem contribuir com o setor produtivo e impactar de forma muito positiva o mercado”, disse a chefe-adjunta de Transferência de Tecnologia, Débora Milori.
A pesquisadora, que trabalha há quase 20 anos com a técnica LIBS, apresentou “As ações institucionais no ambiente de inovação de São Carlos”. “Precisamos ter empresas e startups que trabalhem com a pesquisa e viabilizem a inovação na iniciativa privada”, afirmou.
O evento foi promovido pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Ciência, Tecnologia e Inovação (SMMACTI) de São Carlos, em parceria com a Agência de Inovação da UFSCar, Centro Avançado EESC para Apoio à Inovação (EESCIn/USP), Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria (CeMEAI/USP), Embrapa Instrumentação e SEBRAE.
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