Déficit em produtos químicos soma US$ 30,4 bilhões em 2020

Números superam a projeção da Abiquim. Apesar dos efeitos da pandemia 2020 teve recorde de 51,5 milhões de toneladas importadas

27.01.2021 | 20:59 (UTC -3)
Ricardo Ueno

O Brasil importou US$ 41,4 bilhões em produtos químicos em 2020, valor total pago pela aquisição das mais de 51,5 milhões de toneladas, recorde em volume importado pelo País ao longo de toda a série histórica de acompanhamento da balança comercial setorial pela Associação Brasileira da Indústria Química – Abiquim (desde 1989).

Na comparação com os resultados de 2019 foi registrada uma redução de 6,3% no valor monetário das importações, mas uma significativa elevação de 8,2% nas quantidades físicas adquiridas, em especial tendo em vista as graves conjunturas econômicas global e nacional decorrentes da pandemia de Covid-19. Quando comparadas com as 37,5 milhões de toneladas de 2013, ano em que foi registrado o maior déficit no histórico da balança comercial de produtos químicos, de US$ 32 bilhões, observa-se um aumento de 37,5%, sobretudo em produtos químicos orgânicos e para o agronegócio, para os quais o Brasil tem domínio técnico e expertise empresarial de produção e poderiam ser fabricados no País, diminuindo a dependência externa em cadeias estratégicas, caso as condições de competitividade em fatores de produção como energia, gás-natural e logística, fossem favoráveis para a atração de investimentos. Entre os grupos acompanhados, os intermediários para fertilizantes foram perceptivelmente o principal item da pauta de importação do setor com compras de praticamente US$ 7,2 bilhões, em 2020, equivalentes a 61,7% (31,8 milhões de toneladas) das 51,5 milhões de toneladas em compras externas de produtos químicos.

As exportações brasileiras de produtos químicos, por sua vez, de US$ 10,9 bilhões, em 2020, tiveram uma sensível redução de 13,6% na comparação com o ano anterior, considerando uma movimentação de 14,7 milhões de toneladas para os mercados de destino, com reduções consideráveis nas quantidades exportadas de gases industriais (37,1%), de produtos orgânicos (8%), de resinas e elastômeros (13,3%) e de químicos diversos (2,2%), todos esses grupos de mercadorias centrais no enfrentamento da pandemia, refletindo e comprovando o firme compromisso da indústria química brasileira em priorizar a manutenção de suprimento no mercado interno tanto nos momentos mais críticos da Covid-19 quanto também agora no movimento de retomada da economia.

O déficit na balança comercial de produtos químicos totalizou US$ 30,4 bilhões em 2020 – superando recentes estimativas da própria Abiquim – fazendo com que pela quarta vez em toda a história da balança setorial em produtos químicos tal indicador superasse a marca dos U$ 30 bilhões (anteriormente foram os anos de 2013, US$ 32 bilhões, de 2014, US$ 31,2 bilhões, e de 2019, US$ 31,6 bilhões). Particularmente preocupante, em 2020, foi o agravamento do resultado desfavorável com países asiáticos (particularmente China e Índia), que, somados, passaram da representação de 20% (1/5) do total do déficit, em 2013, para praticamente 35% (1/3) do total, no ano passado. Avaliando-se as trocas comerciais com os principais blocos econômicos regionais, em 2020, o Brasil foi superavitário apenas em relação aos países vizinhos e históricos parceiros comerciais, do Mercosul e da Aladi (Associação Latino-Americana de Integração), respectivamente saldos comerciais de US$ 1 bilhão e de US$ 276 milhões. Entretanto, foram novamente registrados resultados estruturais negativos expressivos em relação à União Europeia e ao Nafta (América do Norte), que somados ultrapassaram um déficit agregado de US$ 14,8 bilhões, além do mencionado crescente desbalanceamento com a Ásia (déficit com essa região se amplia de US$ 4,3 bilhões, em 2010, para US$ 10 bilhões, em 2020).

Para o presidente-executivo da Abiquim, Ciro Marino, o ano de 2020 será lembrado com um momento em que todos, em especial a indústria química, concentraram seus esforços no enfrentamento dos desafios sanitários, econômicos e sociais impostos pela pandemia, garantindo pleno abastecimento para as diversas cadeias de valor e evitando o caos na vida diária das pessoas. “Toda a indústria, particularmente a de transformação, teve, tem e continuará tendo papel decisivo no enfrentamento da pandemia e na transformação do movimento de retomada econômica em um sustentável ciclo de recuperação e crescimento, salvando vidas, trazendo ainda mais inovação e soluções baseadas em ciência e gerando empregos e renda. É exatamente por isso tudo que a indústria brasileira, sobretudo a química, é um ativo estratégico para o Brasil e deve ser amparada por políticas públicas consistentes, perenes e de Estado, especialmente em matérias econômicas e comerciais, elaboradas a partir de uma visão que garanta segurança jurídica capaz de assegurar um ambiente de negócios que lhe dê condições de demonstrar toda a sua já comprovada competitividade da porta para dentro. É fundamental resolver as limitações que o Custo Brasil apresenta para o exercício pleno de seu potencial produtivo”, destaca Marino.

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