Condições climáticas voltam a favorecer a cultura do café

Início da estação chuvosa neste ano poderá ocorrer em setembro; ótima notícia para os cafeicultores que enfrentam uma seca prolongada

16.07.2021 | 20:59 (UTC -3)
Mariana Vilela Penaforte de Assis/Epamig

Seca poderá ter fim a com a chegada das primeiras chuvas a partir de setembro. Porém, as chuvas desejadas pelos agricultores poderão ocorrer somente a partir de outubro. O prognóstico foi elaborado pelos pesquisadores Williams Ferreira, da Embrapa Café e Marcelo Ribeiro, da EPAMIG.

O clima

A falta de chuva nos últimos meses revela-se na seca observada na Figura 1. Também foram registradas baixas temperaturas noturnas na região Sul do Brasil, no sul de Mato Grosso do Sul, em São Paulo e em Minas Gerais, provocando geadas em algumas áreas mais elevadas desses estados.

Figura 1. Condições de seca no Brasil. Adaptado a partir das análises do monitoramento da seca nos últimos dez dias, realizadas nos dados da base CHIRPS (Climate Hazards Group InfraRed Precipitation with Station data). Fonte: https://www.usda.gov/
Figura 1. Condições de seca no Brasil. Adaptado a partir das análises do monitoramento da seca nos últimos dez dias, realizadas nos dados da base CHIRPS (Climate Hazards Group InfraRed Precipitation with Station data). Fonte: https://www.usda.gov/

Prognóstico para a chuva nos próximos três meses

A tendência é de continuidade do tempo seco ao longo do mês de agosto na maior parte do Brasil. Considerando-se as mudanças ocorridas nos componentes atmosféricos e oceânicos nos últimos meses, o último La Niña, que ocorreu neste ano, não deverá influenciar o início da estação chuvosa, que poderá ter início a partir da segunda quinzena de setembro. A probabilidade é do retorno da chuva com volumes dentro, ou pouco acima da média do período, em uma faixa que atravessa o Brasil e tem início a partir do estado do Amazonas, passando pela porção sul do Pará e norte do Mato Grosso; pelo Tocantins, norte de Goiás e oeste da Bahia, incluindo a região do Matopiba; pelas mesorregiões norte e leste de Minas Gerais e pelos estados do Espírito Santo e do Rio de Janeiro.

Os volumes de chuva expressivos para a agricultura, no entanto, são esperados somente a partir de outubro, quando as chuvas podem ocorrer acima da média em Minas Gerais, nas mesorregiões Norte, Oeste, Central mineira, Metropolitana de Belo Horizonte e na região das Matas de Minas. Entretanto, nos estados do Sul do Brasil, bem como em Mato Grosso do Sul e São Paulo, ainda poderá prevalecer o tempo seco.

Prognóstico para a temperatura nos próximos três meses

Em agosto e setembro as temperaturas poderão ocorrer acima da média do período, principalmente nos estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, São Paulo e Minas Gerais, sendo que nesse último as mesorregiões do Sul de Minas e da Zona da Mata deverão apresentar temperaturas dentro da média do período. Em outubro as temperaturas estarão mais próximas da média do mês na maior parte do Brasil, com exceção dos estados do Pará, Maranhão, Piauí e Ceará que poderão continuar apresentando temperaturas acima da média para o mês.

As próximas semanas

Nas próximas duas semanas é esperada a ocorrência de chuvas nos estados do Paraná e do Rio Grande do Sul, sendo, contudo, o volume de chuvas abaixo do esperado para o período. Deverá chover também mais ao norte do Amazonas e do Pará, sendo que nesses estados o volume poderá ficar um pouco acima da média para o período. Nos demais estados do Brasil permanece o tempo seco.

O fenômeno El Niño Oscilação Sul (ENOS)

As atuais condições das principais variáveis atmosféricas são consistentes com as condições ENOS-neutras. De acordo com a previsão do CPC/IRI (Fonte: https://iri.columbia.edu), a condição de neutralidade deverá persistir pelo menos até outubro, com incertezas em relação ao final desse ano. Entretanto, considerando o comportamento atual das variáveis oceânicas e atmosféricas, bem como o fato de que há registros da ocorrência de eventos La Niña em verões sucessivos, existe a possibilidade de que um novo fenômeno La Niña volte a ocorrer a partir de outubro, ou novembro, podendo se estender pelo verão do próximo ano.

O café

Devido ao baixo volume de chuvas na florada do ano passado, a produção atual têm apresentado elevado percentual de grãos mocas, bem como rendimento abaixo do desejado, em função da falta de chuvas no início deste ano. A pouca chuva no final do ano passado bem como nesse ano se traduzem na seca hoje observada, com previsão para se estender até agosto, poderá prejudicar não só a safra 2021, mas também a 2022. Desde o início, e durante todo o seu período de desenvolvimento vegetativo, a safra atual vem sendo prejudicada pela seca.

Mais recentemente, tem havido registros de que algumas lavouras vêm apresentando queda de folhas devido à ocorrência de pragas e doenças, fato esse que poderá comprometer a próxima safra. Porém, ainda é cedo para mais estimativas, devendo-se aguardaras próximas floradas. Outro fato importante foi a geada ocorrida no início de julho na região Mogiana de São Paulo e em alguns municípios do sul de Minas. A ocorrência poderá comprometer a próxima safra, nas poucas lavouras atingidas.

Segundo o Escritório Carvalhaes, em ano de baixa produção por causa da seca, os cafeicultores devem aguardar preços mais altos que os atuais, principalmente, para os cafés de melhor qualidade, que têm variado entre R$880 e R$940 a saca de 60 quilos. Na visão da empresa, além da redução nos estoques que estão baixíssimos, praticamente zerados, os fundamentos de alta de preços continuam robustos.

Prognóstico

A análise e o prognóstico climático aqui apresentados foram elaborados com base na estatística e no histórico da ocorrência de fenômenos climáticos globais, principalmente, daqueles atuantes na América do Sul. Considerou-se também as informações disponibilizadas livremente pelo NOAA; Instituto Internacional de Pesquisas sobre Clima e Sociedade — IRI; Met Office Hadley Centre; Centro Europeu de Previsão de Tempo de Médio Prazo — ECMWF; Boletim Climático da Amazônia elaborado pela Divisão de Meteorologia (Divmet) do Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam) e com base nos dados climáticos disponibilizados pelo Inmet (5º Disme)/CPTEC-Inpe.

O prognóstico climático faz referência a fenômenos da natureza que apresentam características caóticas e são passíveis de mudanças drásticas. Desta forma, a EPAMIG e a Embrapa Café não se responsabilizam por qualquer dano e, ou, prejuízo que o usuário possa sofrer, ou vir a causar a terceiros, pelo uso indevido das informações contidas na presente matéria. Portanto, é de total responsabilidade do usuário (leitor) o uso das informações aqui disponibilizadas.

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