Método detecta resíduos de diferentes herbicidas em análise única
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A cultura da soja ocupa no Brasil uma área estimada em 36,9 milhões de hectares, sendo 12 milhões de hectares localizados na Região Sul (Conab, 2020), consolidando a importância da cultura para a agricultura brasileira. Essa importância eleva a necessidade de práticas de manejo que minimizem as perdas produtivas pela ocorrência de doenças. Entretanto, a campo ainda existem dúvidas na diagnose e identificação das doenças que estão presentes.
A mancha-parda, causada pelo fungo Septoria glycines, é a primeira doença a ser detectada na planta devido à sua capacidade de sobrevivência em restos culturais e de apresentar sintomas já na folha unifoliada (Figura 1). O crestamento foliar por cercospora, causado por Cercospora kikuchii, ocorre durante todo o ciclo (Figura 2). Esse patógeno apresenta alta capacidade de sobreviver em restos culturais e de ser transmitido via sementes, onde causa a mancha-púrpura (Figura 3).
Além das manchas foliares, outra doença que vem causando preocupação no campo é a antracnose, causada por Colletotrichum truncatum. Os sintomas se iniciam nas nervuras das folhas (Figura 4) e podem evoluir para os pecíolos e legumes (Figura 5), onde ocorrem os maiores danos à produtividade.
O oídio, causado por Microsphaera difusa, foi a doença que teve ocorrência mais pronunciada no Rio Grande do Sul na safra 2019/20, devido à escassez de chuvas, condição que é favorável a esse patógeno. Essa doença pode ser muito agressiva em algumas cultivares de soja, podendo causar a desfolha precoce da planta quando o ataque for severo (Figura 6).
A ferrugem-asiática, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, é a doença com maior potencial de dano à cultura da soja. Esse patógeno ataca as folhas (Figura 7), causando desfolha precoce (Figura 8) e prejudicando o enchimento dos grãos. Esse fato explica a preocupação que essa doença gera no produtor de soja.
Tanto a ferrugem-asiática como o oídio são causados por patógenos biotróficos, que necessitam de hospedeiro vivo para sobreviver na entressafra. Dessa forma, a presença de soja voluntária no campo é uma das formas mais efetivas para a manutenção desses patógenos no sistema de cultivo. Durante o período de inverno no Rio Grande do Sul, normalmente as plantas de soja não sobrevivem devido às temperaturas baixas. Entretanto, o inverno de 2020 tem apresentado períodos de temperatura acima da média e essa condição favorece o desenvolvimento de plantas voluntárias de soja. Na Figura 9, a presença de oídio nas folhas das plantas é visualmente detectada e em posterior análise laboratorial foram observados esporos ativos de Phakopsora pachyrhizi. Esse fato gera um alerta para a safra 2020/21, pois possivelmente haverá a presença desses fungos desde o início do período de semeadura da soja.
Nesse cenário de risco de ocorrência de doenças para a safra 2020/21, é fundamental o entendimento da dinâmica do complexo de doenças para o sucesso do manejo. Nesse sentido, cabe ressaltar que a grande maioria das áreas de soja no Brasil está em sistema de monocultivo e assim há um acúmulo de inóculo de patógenos necrotróficos nos restos culturais. Isso explica o fato de as manchas foliares e antracnose estarem causando o impacto produtivo, a ponto de gerar preocupação aos produtores. Esse grupo de fungos está presente no sistema de cultivo desde os estádios iniciais da cultura e dependendo das condições ambientais dessa fase, pode-se detectar sintomas dessas doenças nos primeiros 30 dias de vida da soja.
Os resultados obtidos nas safras de 2018/19 e 2019/20 evidenciam que o posicionamento do programa fungicida focado na ocorrência tardia da ferrugem-asiática permite que outras doenças se estabeleçam e causem perdas produtivas. Os patamares produtivos da safra 2018/19 foram maiores que na safra 2019/20 devido à seca severa que assolou o Rio Grande do Sul. Mesmo assim, foram observadas respostas significativas ao posicionamento dos fungicidas.
No experimento da safra 2018/19 (Figura 10) o objetivo foi mensurar o impacto produtivo da antecipação das aplicações para estádio vegetativo e da flexibilização dos intervalos entre aplicações. Os resultados demonstram que os programas fungicidas iniciados em estádio vegetativo apresentaram, em média, 6,4 sc/ha a mais que os programas iniciados em R1. Essa diferença provavelmente está relacionada à presença de manchas foliares nos tratamentos em que a aplicação ocorreu em R1, por volta dos 45 dias após a emergência da soja. Além disso, os dados evidenciam que a flexibilização do intervalo entre aplicações de 15 para 21 ou 25 dias resulta em perdas maiores quando a primeira aplicação ocorre mais tarde.
Dessa forma, se por algum motivo ocorrer no campo uma flexibilização do intervalo entre as aplicações, a presença de ingrediente ativo nas folhas do baixeiro proporcionada pela aplicação de vegetativo auxilia na proteção dos tecidos, evitando que a epidemia se estabeleça de forma agressiva. A deposição de ingrediente ativo nas folhas do baixeiro proporcionada pela aplicação de vegetativo tem impacto na epidemia das doenças, principalmente as manchas foliares, e na longevidade dessas folhas pelo efeito na fisiologia da planta. Sendo assim, a soma desses efeitos impacta a produtividade da soja.
Na safra 2019/20 esperava-se que as respostas produtivas não ocorressem devido à seca severa que assolou o Rio Grande do Sul, porém os dados mostram que mesmo com baixa pressão de doenças houve impacto produtivo pela proteção das plantas. A soja semeada em outubro ainda atingiu produtividades dentro da normalidade (Figura 11A). Já na segunda época de semeadura o estresse hídrico se agravou e a produtividade caiu consideravelmente (Figura 11B).
O objetivo desses ensaios foi verificar o efeito do momento do início do programa fungicida e diferentes períodos de proteção da soja, sendo 75 dias com cinco aplicações ou 60 dias com quatro, três e duas aplicações com diferentes intervalos. Para o experimento instalado na soja semeada em outubro (Figura 11A), a maior produtividade foi obtida com cinco aplicações, com 13,4 sc/ha a mais que a área não tratada. Cabe ressaltar que nessa época foi detectada a presença da ferrugem-asiática com severidade final de 35%. Isso pode explicar esse resultado.
Os programas com quatro e três aplicações não diferiram entre si, porém com quatro aplicações foram quase três sc/ha a mais que com três aplicações. Nesse caso, vale frisar que essa safra foi de baixa pressão e provavelmente em anos de disponibilidade hídrica dentro da normalidade, essa diferença deva ser maior. Quando realizadas apenas duas aplicações com intervalo de 30 dias, a produtividade não diferiu estatisticamente da testemunha, com atraso da primeira aplicação e um intervalo muito longo, houve possibilidade de infecção da planta pela doença.
Já o experimento instalado na soja semeada em novembro, a maior produtividade, 12,7 sc/ha maior que a área não tratada, foi obtida com quatro aplicações e não com cinco aplicações. Esse resultado pode ser explicado pela escassez de chuvas que resultou em menor pressão de doenças. Nessa época, os programas com três e duas aplicações não diferiram entre si, nem da parcela não tratada.
O que pode explicar esse resultado é o fato de as plantas terem sido submetidas a um estresse hídrico muito prolongado e quando o intervalo entre as aplicações foi maior que 15 dias o efeito do fungicida na fisiologia da planta ficou prejudicado. Entretanto, em muitas áreas no Rio Grande do Sul as aplicações não foram realizadas devido à seca, e é possível que isso tenha agravado a perda produtiva da soja.
Outro resultado que surpreendeu nessa safra foi a resposta positiva à adoção de multissítios nos programas fungicidas, que fica evidente na Figura 12. Os incrementos produtivos pela associação dos multissítios variaram de 272,6kgh/ha a 416kg/ha de soja, indicando a importância desse grupo de fungicidas no sistema produtivo.
É importante ressaltar que as cultivares modernas, com alto potencial produtivo, geram plantas cada vez mais sensíveis à interferência. Nesse sentido, os fungicidas sistêmicos e multissítios têm um papel fundamental na proteção da expressão desse potencial produtivo.
Mônica Paula Debortoli, Instituto Phytus
A cada nova edição, a Cultivar Grandes Culturas divulga uma série de conteúdos técnicos produzidos por pesquisadores renomados de todo o Brasil, que abordam as principais dificuldades e desafios encontrados no campo pelos produtores rurais. Através de pesquisas focadas no controle das principais pragas e doenças do cultivo de grandes culturas, a Revista auxilia o agricultor na busca por soluções de manejo que incrementem sua rentabilidade.
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