Como funcionam as tecnologias para controle de emissão de poluentes no agro
Como as principais tecnologias para controle de emissão de gases poluentes no mercado agrícola brasileiro funcionam e auxiliam na redução da poluição dos motores a diesel
A broca-do-rizoma da bananeira, inseto cujo nome científico é Cosmopolites sordidus, é conhecida como a principal praga da bananeira. Conforme o próprio nome já sugere, trata-se de um inseto cosmopolita, pois se encontra em praticamente todas as regiões onde se cultiva a bananeira. As características de ataque representam uma ameaça ao bananicultor, pois sua presença apenas é notada quando o prejuízo econômico já está consumado.
O inseto apresenta quatro fases no seu desenvolvimento: ovo, larva, pupa e adulto. O ovo é colocado em um orifício na base da planta. Após um período de aproximadamente sete dias, a larva eclode e começa a alimentação. É nessa fase de larva que ocorrem os danos. A larva se alimenta do rizoma, abrindo galerias tanto na parte interna como na periferia. Essas galerias enfraquecem a planta, afetam a emissão de raízes, prejudicando a absorção de água e nutrientes. As galerias feitas pela larva da broca favorecem a penetração de micro-organismos patogênicos à planta. O período de desenvolvimento larval dura aproximadamente 30 dias a 45 dias. Ao final desse período, forma-se a pupa, estágio no qual não ocorre mais a alimentação. Geralmente, a pupa é encontrada na periferia do rizoma. A fase pupal é de aproximadamente sete dias, sendo que após esse período, emerge o adulto, besouro de cor preta e com aproximadamente 1cm de comprimento. Na Austrália, o adulto da broca foi associado como vetor do agente causal da murcha de fusarium (mal-do-Panamá) raça 4 tropical.
A variação de tempo que ocorre durante o desenvolvimento do inseto é decorrente das condições climáticas e da cultivar. No caso da broca-do-rizoma da bananeira, as cultivares que apresentam maior suscetibilidade à praga são as que pertencem ao subgrupo Terra, chamadas de bananas-compridas ou bananas-da-terra. Essas cultivares são conhecidas, internacionalmente, pelo nome de plátanos. Os plátanos apresentam alta concentração de amido e são consumidos preferencialmente cozidos, assados, fritos ou como farinha. Representam uma importante fonte de carboidratos para países da África (Uganda, Gana e Camarões) e da América do Sul (Brasil, Colômbia, Peru e Equador).
O maior produtor mundial de plátanos é a República Democrática do Congo, com 4,8 milhões de toneladas em uma área de 1,1 milhão de hectares. No Brasil estima-se que a produção seja de 620 mil toneladas, o que corresponde a aproximadamente 1,7% da produção mundial de plátanos. A produção, no Brasil, concentra-se no Nordeste e no Centro-Oeste.
Em plátanos, é muito frequente observar o tombamento de plantas infestadas pela broca-do-rizoma, principalmente naquelas que apresentam cacho. Esse efeito é intensificado pela característica de afloramento do rizoma que esses genótipos apresentam.
Como os danos são provocados pelas larvas, para saber se a praga está presente na área e qual sua população, o ideal seria observar a presença das larvas no rizoma. Porém, o rizoma é um local de difícil acesso, cuja manipulação inadequada pode até prejudicar as plantas. Dessa forma, até o momento, a observação da presença das larvas nas plantas é inviabilizada. Na França, contudo, existem estudos que demonstram a possibilidade de detectar a presença de larvas nas bananeiras com base na sua atividade. Como esse método não invasivo de detecção da larva ainda não está disponível, o monitoramento da praga é realizado pela avaliação e quantificação do número de adultos.
O monitoramento de adultos da broca-do-rizoma da bananeira é facilitado, pois nesse estágio de desenvolvimento, apresentam vida livre e não se encontram no interior do rizoma. Os adultos têm hábito noturno e se abrigam, durante o dia, entre as bainhas foliares das plantas ou nos restos culturais das plantas colhidas.
Os adultos são atraídos pelos odores das plantas, que são mais atrativos em plantas após o florescimento. Assim, com base nesse conhecimento, diversos tipos de armadilhas confeccionadas com partes das plantas colhidas foram desenvolvidos com o objetivo não somente do monitoramento, mas também de controle de adultos. Essas armadilhas são feitas com pedaços de pseudocaule ou rizoma de plantas recém-colhidas, no máximo com até 15 dias após a colheita. As armadilhas atualmente mais empregadas são as do tipo “telha” e “queijo”. Todavia, a captura de adultos de C. sordidus nessas armadilhas apresenta uma baixa eficiência, o que pode comprometer a tomada de decisão devido à baixa sensibilidade em atrair adultos da broca. Além disso, pode limitar os resultados de controle, que somente são atingidos a longo prazo.
Assim, a equipe da Embrapa Mandioca e Fruticultura realizou um experimento para testar um novo modelo de armadilha vegetal, denominado “cunha”. Essa armadilha foi comparada com as de tipo queijo e telha modificada, no monitoramento de C. sordidus.
O experimento foi conduzido em cinco áreas produtoras de plátano cultivar Terra, localizadas no município de Tancredo Neves, Bahia, situado a 13°23.793" de Latitude Sul, 039°19'945" de Longitude Oeste, a 122m acima do nível do mar.
Esse trabalho fez parte de uma dissertação do mestrado profissional em Defesa Agropecuária, programa de pós-graduação conjunto entre a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia e a Embrapa Mandioca e Fruticultura.
As armadilhas foram confeccionadas com material de plantas recém-colhidas. Para obtenção da armadilha tipo “queijo”, cortou-se o pseudocaule a aproximadamente 30cm a 50cm do nível do solo. Efetuou-se um outro corte à metade dessa altura para possibilitar a abertura e entrada dos insetos. Esse corte não foi total, deixando um elo entre as partes obtidas pelo corte.
A armadilha tipo “telha modificada” ou “sanduíche” foi obtida a partir da metade de um pedaço de pseudocaule de aproximadamente 60cm de comprimento, partido ao meio no sentido longitudinal. Os pedaços de pseudocaule resultantes foram sobrepostos e colocados próximos da base da planta na touceira. Quanto à armadilha tipo “cunha”, realizou-se inicialmente um corte no pseudocaule para rebaixamento de sua altura a 50cm. Posteriormente, foram efetuados dois cortes no pseudocaule a aproximadamente 15cm do nível do solo, no formato de V horizontal, de modo que o corte superior formasse um ângulo de 45 graus em relação à superfície do corte inferior, feito paralelamente ao nível do solo ou ligeiramente inclinado de modo a dificultar a saída involuntária da cunha quando ocorre a perda de umidade.
As armadilhas foram distribuídas a cada 15 dias no período de dezembro de 2014 a fevereiro de 2015, coincidindo com a época de pico das colheitas para que houvesse número suficiente de armadilhas. Vinte armadilhas de cada tipo foram utilizadas em cada área, totalizando 100 armadilhas distribuídas aleatoriamente em cinco hectares do plantio. Para avaliar a eficiência das armadilhas, a contagem do número de insetos/armadilhas foi efetuada semanalmente, comparando-se, dessa forma, as médias de coleta de insetos proporcionadas por cada armadilha. As coletas dos insetos foram realizadas a cada semana, sendo a primeira e a segunda coleta realizadas aos sete e 14 dias após a distribuição das armadilhas. Após a segunda coleta, as armadilhas foram desmontadas ou destruídas para que não servissem de refúgio para os insetos, sendo feitas novas armadilhas para substituir as antigas. A cada nova distribuição de armadilhas, adotou-se o mesmo procedimento para as contagens e as coletas dos insetos anteriormente mencionados.
Nesse trabalho, verificou-se que as armadilhas tipo “cunha” atraíram mais insetos (total de 3.011) que as do tipo “queijo” (total de 2.214) e “telha modificada” (total de 2.234) (Tabela 1). Esses valores determinaram que a captura das armadilhas tipo “cunha” contribuiu com aproximadamente 40% do total de insetos atraídos.
Considerando as médias de insetos capturados, o valor foi maior na armadilha tipo “cunha” (201) do que os valores registrados para “telha modificada” (149) e “queijo” (148) (Figura 6).
Com base nos resultados obtidos, constatou-se que a armadilha tipo “cunha” é mais eficiente que as demais, pois contribui para a maior captura e/ou permanência dos insetos. Essa maior atratividade das armadilhas tipo “cunha” pode ser atribuída à sua maior durabilidade em relação às demais, visto que os números de adultos capturados foram mais altos na segunda semana de coleta. Assim, as armadilhas tipo “cunha” permaneceram mais tempo com condições favoráveis à captura de adultos da broca-do-rizoma.
Já com relação à armadilha tipo “telha modificada”, sua atratividade foi similar à do tipo “queijo”, denotando sua superioridade em relação à “telha” convencional, visto que a atratividade da armadilha tipo “queijo” é aproximadamente dez vezes maior que a “telha” convencional.
Dessa forma, considerando a alta suscetibilidade dos plátanos à broca-do-rizoma da bananeira, recomenda-se que o produtor aproveite o momento da colheita para realizar a confecção da armadilha tipo “cunha”. À semelhança das instruções disponíveis nos sistemas de produção de plátanos e banana, no monitoramento da praga, deve-se fazer a distribuição quinzenal de armadilhas tipo “cunha” à proporção de 20 armadilhas/ha seguida de duas avaliações semanais para contagem do número de adultos presentes na área.
A maior atratividade da armadilha tipo “cunha” em relação às armadilhas tradicionalmente utilizadas também justifica o seu uso no controle de C. sordidus, seja em cultivos orgânicos ou convencionais. Em cultivos orgânicos, pode ser utilizada em associação com o controle biológico.
Em virtude de sua maior durabilidade e eficiência, a armadilha tipo “cunha” pode ser aplicada também à pesquisa, em estudos de resistência de plantas a insetos, com o objetivo de avaliar a atratividade de genótipos de bananeira a C. sordidus. Esses resultados podem ser úteis em apoio a programas de melhoramento genético da bananeira.
A facilidade e a rapidez de confecção da armadilha tipo “cunha” em plátanos são outras características que favorecem sua utilização em comparação com as outras armadilhas avaliadas.
Marilene Fancelli, Juliana Silva Queiroz, Maurício Antonio Coelho Filho, Carlos Alberto da Silva Ledo e César Guillén Sánchez, Embrapa mandioca e fruticultura
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