Pesquisas apontam que árvores no campo reduzem doenças nas lavoura
Pesquisas realizadas pela Embrapa, UFPR e Iapar comprovam que a ILPF reduz doenças nas lavouras
O Brasil é o maior produtor mundial de soja, e isto é possível devido à grande área cultivada e às altas produtividades. A produtividade média de soja no Brasil é de 3,3t/ha (Figura 1a). Em comparação, a produtividade média de soja nos Estados Unidos, Argentina e China, os maiores produtores mundiais, foi de 3,4t/ha, 3,1t/ha e 1,7t/ha, respectivamente. Contudo, os eventos de secas e de altas temperaturas têm sido os maiores limitantes para a obtenção de altas produtividades no Brasil, e tendem a se tornar mais frequentes e intensos com as mudanças climáticas.
Historicamente, a maioria dos eventos climáticos extremos é causada pelo efeito do fenômeno El Niño Oscilação Sul (Enos). O Enos é um fenômeno oceânico atmosférico, caracterizado por anomalias da temperatura da superfície do Oceano Pacífico. Quando a temperatura é 0,5°C maior que a média, tem-se a fase quente, ou El Niño; e quando a temperatura é 0,5°C menor que a média, tem-se a fase fria, ou La Niña. Durante a fase La Niña, há uma possibilidade maior de ocorrência de secas e de altas temperaturas no Sul do Brasil, e o contrário ocorre durante a fase El Niño.
A safra de 2012 ocorreu durante a fase La Niña e foi desastrosa no Sul do Brasil. A produtividade média nacional caiu 10% em relação à média histórica, e 16% comparada à de 2011 (Figura 1a, círculo vermelho destaca 2012), equivalendo a uma perda de dez milhões de toneladas de soja. Esta queda de produtividade foi devido a uma intensa seca durante os meses de novembro e dezembro de 2011, seguida de altas temperaturas em janeiro e fevereiro de 2012, ocorridas na região Sul do Brasil (Figura 1d, 1e e 1f). Nesta região, a redução de produtividade foi superior a 20% (Figura 1b). No Oeste do Rio Grande do Sul e no Paraná, a perda de produtividade chegou a 90%, em algumas regiões (Figura 1c).
Recentes estudos indicam a escolha da data de semeadura como uma potencial estratégia para a redução dos efeitos dos eventos climáticos extremos. Assim, utilizou-se o modelo de simulação de crescimento de cultura (DSSAT-CROPGRO), para simular a fenologia e a produtividade de soja em diferentes localidades no Sul do Brasil, e determinar em número médio a ocorrência de eventos de seca (sete dias consecutivos sem precipitação) durante as fases vegetativa e reprodutiva da cultura. Para isso, foi utilizada uma série diária histórica de chuva, radiação solar, temperatura máxima e mínima de 56 anos (1961-2016).
Os resultados indicam que os impactos das fases dos Enos na produtividade da soja no Sul do Brasil variam de acordo com a localidade, e podem ser divididos em três grupos (Figura 2a):
I) Grupo I (Sul do Rio Grande do Sul): os impactos da fase El Niño no Sul do Brasil tendem a ser benéficos à produtividade de soja em todas as datas de semeadura; o oposto ocorre durante a fase La Niña. Neste grupo, a ocorrência de eventos de seca nas fases vegetativa e reprodutiva é mais frequente durante a fase La Niña, independentemente da data de semeadura (Figura 2b). A perda de produtividade média durante o La Niña, neste grupo, supera 1.000kg/ha (Figura 2e).
II) Grupo 2 (Norte do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e parte da região Sul do Paraná): as fases El Niño e La Niña tendem a impactar positivamente a produtividade de soja; geralmente, os anos com produtividade abaixo da média ocorrem durante a fase neutra (Figura 2f), uma vez que a ocorrência de eventos de seca nas fases vegetativa e reprodutiva é mais frequente nesta fase (Figura 2c).
III) Grupo 3 (Paraná em geral): os impactos positivos e negativos das fases do fenômeno Enos variam de acordo com a data de semeadura; isso se dá, pois a frequência de ocorrência de eventos de seca durante as fases reprodutiva e vegetativa durante as diferentes fases do Enos também varia de acordo com a data de semeadura (Figura 2d). Por exemplo, nota-se que a frequência de eventos de seca durante a fase reprodutiva (fase mais sensível ao déficit hídrico) aumenta quando ocorre a antecipação da data de semeadura da soja para setembro e início de outubro durante a fase La Niña. A antecipação do plantio da soja durante a fase La Niña e Neutro pode gerar perda de até 500kg/ha (Figura 2g). Por outro lado, a antecipação da semeadura da soja é favorecida pela fase El Niño. A fase El Niño pode ter efeito negativo na produtividade de soja, caso a semeadura seja realizada a partir da metade do mês de novembro, devido à maior ocorrência de eventos de seca no período reprodutivo da cultura (Figura 2d).
A ocorrência de eventos de seca durante as fases reprodutiva e vegetativa da soja varia de acordo com a região, a data de semeadura e a fase do Enos. Assim, uma maneira interessante de se minimizar os impactos das fases dos Enos é através da escolha da data de semeadura. Contudo, vale a pena ressaltar que a ocorrência de eventos de seca não está relacionada somente às fases do fenômeno Enos. Assim, outras alternativas, como a adoção da irrigação quando possível, o plantio direto para auxliar na manutenção da umidade do solo, a melhoria do perfil do solo em profundidade para possibilitar o melhor crescimento das raízes e a adoção de cultivares resistentes às secas, devem ser consideradas para minimizar os efeitos do fenômeno Enos, a variabilidade climática e os eventos climáticos extremos.
Rogério de Souza Nóia Júnior, Universidade da Flórida; Mauricio Alex Zientarski Karrei, Universidade da Flórida; Clyde William Fraisse, Universidade da Flórida, EnsoAg LLC; Bruno Fardim Christo, Agroconsult
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