Produtores de cana precisam estar bem preparados quando a chuva chegar ao Sudeste
Para reverter parcialmente o atual cenário de perda de produtividade na lavoura, o agricultor terá de investir agora em tecnologia para aplicação
A partir de 2021, o dia 23 de setembro passa a ser conhecido internacionalmente como o Dia da Bioproteção (Bioprotecion Day). A iniciativa, da Embrapa Soja (PR) e do CABI (Centre for Agricultural Bioscience International), tem como objetivo despertar a atenção do setor produtivo para a importância do controle biológico e do uso de bioinsumos na agricultura, além de transmitir informação técnica sobre a utilização correta dessas práticas. A primeira edição, realizada nesta quinta-feira de forma virtual, reuniu especialistas nacionais e internacionais para falar sobre a evolução, uso e mercado de bioprodutos e a sua relevância para a o futuro sustentável da agricultura brasileira.
O mês de setembro foi escolhido por marcar o início da safra agrícola de grãos e cereais no Brasil. Segundo o pesquisador da Embrapa Soja Adeney Bueno, um dos organizadores do evento, a conscientização do produtor agrícola a respeito da importância do uso correto de bioinsumos é crucial na construção de uma agricultura cada vez mais sustentável. Ele explica que a expectativa é que anualmente sejam realizados eventos nessa data no Brasil e no exterior em comemoração ao Dia da Bioproteção. “Além de seguras ao meio ambiente, essas práticas atendem também à demanda crescente do mercado consumidor, que busca cada vez mais alimentos produzidos com menor uso de agrotóxicos sintéticos”, complementou Bueno.
O diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa, Guy de Capdeville, ressaltou a importância de fomentar a adoção de práticas sustentáveis na agricultura para enfrentar o cenário que se apresenta para o futuro, com cerca de 10 bilhões de pessoas para alimentar até 2050, e considerando as mudanças climáticas que já são uma realidade no presente, com enchentes e secas prolongadas em várias regiões do globo. “A biodiversidade brasileira é uma fonte inesgotável para prospecção de novos agentes de controle biológico. Com o auxílio de tecnologias de ponta das áreas de biotecnologia, genômica e nanotecnologia, é possível caracterizá-los e disponibilizá-los ao setor produtivo para desenvolvimento de produtos biológicos”, pontuou.
Capdeville explicou ainda que a parceria com instituições nacionais e internacionais é fundamental para o avanço das ações de pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) nessas áreas, que estão entre as frentes mais importantes no que se refere à agricultura sustentável no Brasil. “Precisamos atuar juntos em um movimento único, harmônico e alinhado com os órgãos certificadores internacionais para fortalecer não só as ações relacionadas a controle biológico e bioinsumos, como também plataformas de carbono zero, sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), entre outras práticas fundamentais à sustentabilidade da agropecuária mundial”, concluiu.
O CEO do CABI, Daniel Elger, que também participou da abertura do evento, explicou que o Centro é uma organização sem fins lucrativos, que busca fornecer informações e utilizar conhecimentos científicos para resolver problemas na agricultura e no meio ambiente em nível mundial. Por isso, o CABI conta hoje com mais de 50 países membros, 11 centros de pesquisa na Ásia, África, Europa e Américas e cerca de 480 profissionais atuando em nível global.
O professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) José Roberto Parra apresentou a evolução do controle biológico no Brasil desde a década de 1960, quando começou a ser desenvolvido nos laboratórios e áreas experimentais da própria Universidade até os dias de hoje. Segundo Parra, a evolução é notória. O controle biológico praticado hoje no País é profissional, diferentemente do início, quando era bastante amador.
Essa informação foi endossada pela Diretora-Executiva de Biológicos da CropLife Brasil, Amália Borsari, que afirmou que os produtos biológicos vêm passando por transformações tecnológicas ao longo das últimas décadas. “Graças às modernas ferramentas de biotecnologia e genômica, entre outras, as soluções tecnológicas nessa área apresentam alta performance, o que aumenta o seu escopo de utilização. A ideia de utilização de biodefensivos apenas em sistemas orgânicos ficou no passado. Hoje, os produtos de base biológica estão adaptados a grandes commodities, como soja, cana e café, entre outras”, afirmou.
A pesquisadora da Embrapa Soja Claudine Seixas também reforçou o aporte tecnológico nas áreas de controle biológico e bioinsumos. A Unidade mantém há décadas coleções de microrganismos entomopatogênicos (específicos para controlar insetos) para controle de pragas, como fungos, vírus e bactérias. De tempos para cá, as técnicas de caracterização molecular vêm sendo aprimoradas com o uso de RNA interferente (RNAi) – mesma tecnologia usada no desenvolvimento das vacinas contra a Covid19. “Além disso, estamos trabalhando para aumentar o arcabouço tecnológico para o desenvolvimento de produtos multifuncionais”, complementou.
Parra explica que grande parte dessa evolução é explicada pelos investimentos em ciência e tecnologia, que levaram a conhecimentos, que envolvem desde a criação em massa de agentes de controle biológico nas instituições de pesquisa e ensino até procedimentos de caracterização e multiplicação, que resultam no desenvolvimento de bioprodutos.
O professor lembrou ainda que a agricultura 4.0 tem hoje forte influência no controle biológico, especialmente pela aplicação em grandes áreas com o uso de drones.
Ele lembra que alguns desafios ainda precisam ser vencidos, como uma legislação própria para o setor, protocolos mais rígidos de controle de qualidade e melhorias de logística para o armazenamento adequado dos produtos.
Parra aponta também mudanças culturais dos agricultores brasileiros, que hoje estão mais confiantes nas práticas de biocontrole. “Atualmente, o Brasil aumenta anualmente mais do que o dobro da utilização mundial, que é de 10 a 15%”, enfatizou.
“Temos hoje registrados no País mais de 400 produtos biológicos. O Brasil já é líder em agricultura tropical no mundo. Com investimentos em PD&I, brevemente seremos também o maior utilizador de controle biológico em regiões tropicais”, concluiu o professor.
Amália lembrou ainda que o País já está na terceira geração de produtos biológicos, com mais de 100 empresas com registros ativos de produtos. “Cada produto registrado traz junto com ele uma bagagem de tecnologias, entre as quais destacam-se biotecnologia, RNAi, inoculantes, extrato vegetal e peptídeos, entre outros. “O Brasil ocupa hoje cerca de 5% do mercado mundial, mas tem grande potencial de crescimento”, pontuou.
Receba por e-mail as últimas notícias sobre agricultura
Receba por e-mail as últimas notícias sobre agricultura