Artigo - Pastejo conjunto, vantagens e cuidados

02.12.2008 | 21:59 (UTC -3)

Ao pastejo simultâneo de mais de uma espécie de ruminante em uma mesma área chama-se pastejo combinado, pastejo múltiplo, pastejo misto ou pastejo conjunto. Essa é uma prática comum e por demais adequada às áreas de pastagens nativas do Nordeste, dada a diversidade da vegetação. Em pastagem nativa da Região de Mimoso, no Piauí, a Embrapa Meio-Norte realizou pesquisas para avaliar o pastejo conjunto de bovinos e ovinos, considerando seus efeitos sobre a pastagem e o desempenho dos animais. A região é caracterizada por vastos campos, ricos em leguminosas herbáceas na época das chuvas, várias delas popularmente conhecidas como ‘erva de ovelha’. Sabe-se que os ovinos são animais sociáveis, que preferem pastejar em grupo e em áreas abertas, de modo que eles possam enxergar uns aos outros. Portanto, a vegetação de mimoso é por demais adequada ao pastejo de ovinos.

Como vantagens do pastejo conjunto, citam-se: melhor aproveitamento da vegetação e controle de verminose. Em um trabalho realizado pela Embrapa Meio-Norte foi observado que o pastejo conjunto diminuiu a ocorrência de verminose. E qual a razão disso? Sabe-se que os vermes são seletivos, ou seja, aqueles que parasitam os bovinos não acometem os ovinos e vice-versa. Também é fato conhecido que a contaminação dos animais ocorre pela ingestão das formas jovens (larvas) dos vermes presentes no pasto. Assim, a ingestão, pelos bovinos, das larvas provenientes dos ovinos e vice-versa, resulta em redução da contaminação de cada animal. O uso de pastejo conjunto, portanto, constituiu uma maneira ecológica de controle da verminose.

Sobretudo nas áreas de pastagem nativa, dada a diversidade de plantas na sua constituição, o pastejo de uma área por mais de uma espécie animal proporciona melhor uso da pasto, já que diferentes espécies de animais têm preferências distintas. Sabe-se que bovinos preferem consumir gramíneas (capins), enquanto ovinos preferem as ervas tenras, incluindo-se as leguminosas tipo ’erva de ovelha’. De fato, foi observado que, em áreas sob pastejo exclusivo de bovinos, a ocorrência de leguminosas era maior que na área sob pastejo de ovinos, ocorrendo o inverso com a porcentagem de gramíneas. Portanto, o consumo preferencial de um tipo de planta estava prejudicando a sua permanência na pastagem. O pastejo conjunto, nesses casos, equilibra o consumo e contribui para a manutenção dos vários tipos de planta na pastagem.

Em relação ao comportamento dos animais, foi observado que, quando pastejando isoladamente, os bovinos passavam menos tempo na atividade de pastejo do que os ovinos. Esses, por serem mais seletivos, necessitam de mais tempo para buscar e selecionar a forragem a ser ingerida. Sabe-se que existe interação social entre as diferentes espécies de animais em pastejo, ocorrendo mudanças de hábitos de uma espécie em decorrência da presença de outra. Assim, foi constatado que os bovinos, quando pastejando conjuntamente com os ovinos, aumentaram o seu tempo na atividade de pastejo.

A região de mimoso é, por suas condições naturais, tradicionalmente explorada como pastagem nativa, tendo constituído, durante muitas décadas importante suporte forrageiro, sobretudo para bovinos e ovinos. Apesar da região adequar-se ao pastejo conjunto desses animais e das vantagens que o sistema proporciona, deve-se considerar que o pastejo conjunto, se realizado com carga animal elevada, é mais prejudicial que o pastejo de uma só espécie animal, pois a pressão de pastejo afetará uma maior diversidade de plantas. Assim, se o número de animais exceder o que a pastagem pode suportar, o pastejo conjunto, que deveria ser benéfico ao pecuarista, aos animais e ao meio-ambiente, além de perder sua utilidade, contribuirá para a mais rápida degradação das pastagens.

Pesquisadora de Embrapa Meio-Norte

sbona@cpamn.embrapa.br

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