Artigo - Panorama do melhoramento do feijão-caupi no Brasil

01.12.2008 | 21:59 (UTC -3)

A cultura do feijão-caupi (Vigna unguiculata L. Walp.), por muito tempo, foi encarada como uma cultura de subsistência, em que agricultores de pequeno porte e, em minoria, médio porte, cultivavam a mesma em ambientes não adequados e, além disso, com utilização restrita de insumos tecnológicos. No entanto, o Programa de Melhoramento de Feijão-caupi da Embrapa Meio-Norte, nos últimos anos, tem buscado incessantemente atingir o produtor empresarial e os resultados começaram a aparecer.

O lançamento da primeira cultivar de porte semi-ereto no Brasil, BRS-Guariba (2004), foi o estopim para esta mudança, e um produto tipicamente nordestino, produzido sobretudo pelas regiões Norte e Nordeste, está sendo cultivado, também, em áreas extensas da região Centro-Oeste, principalmente nos estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Além dessas regiões, existem alguns cultivos em pequena escala nas regiões Sul e Sudeste, onde a cultura do feijão-caupi, muitas vezes foi tratada como “erva daninha”, principalmente quando aparecia em áreas de cultivo de soja.

A cultivar BRS Guariba permitiu o cultivo totalmente mecanizado e, consequentemente, muitos produtores de soja perceberam que poderiam adaptar todo o maquinário para o feijão-caupi e passaram a plantar esta cultura no período de safrinha, em função do ciclo curto. Embora a cultivar BRS Guariba tenha se adaptado bem às diferentes regiões, faz-se importante mencionar que esta foi lançada para a região Meio-Norte do Brasil (MA e PI).

No ano de 2007, foi lançada a cultivar BRS Novaera (porte semi-ereto) para os estados das regiões Norte (Rondônia, Amazonas, Roraima, Amapá, e Pará), Nordeste (Maranhão e Rio Grande do Norte) e Centro-Oeste (Mato Grosso do Sul). Esta cultivar, além do benefício do bom porte, apresenta um grão de excelente qualidade e que certamente será bem aceita comercialmente nos mercados interno e externo.

No ano de 2008, cinco novas cultivares de feijão-caupi foram registradas (BRS Xiquexique, BRS Tumucumaque, BRS Potengi, BRS Cauamé e BRS Pajeú) e uma delas já foi lançada, a cultivar BRS Xiquexique, a qual tem como principal destaque os seus altos teores de ferro e zinco no grão. No que diz respeito ao aspecto social, esta cultivar traz grandes contribuições, principalmente para as regiões mais pobres do país, onde existe um alto índice de crianças desnutridas e anêmicas. A inserção deste alimento nas merendas escolares seria de grande valia, pois além dessa riqueza em minerais, também é rico em proteínas e apresenta fibras de excelente qualidade.

Além das cultivares recentemente lançadas, existem outras com bom potencial produtivo e de excelente qualidade de grão, que podem ser consideradas na hora de implantar a lavoura, visando evitar o monocultivo. São elas: BRS Marataoã, BRS Paraguaçu, BRS Rouxinol, BRS Milênio, BRS Urubuquara, BR 17-Gurguéia e BR3 Tracuateua.

É Importante mencionar que além do mercado interno, as cultivares de feijão-caupi tem conquistado o mercado externo, principalmente as cultivares de grão branco. No entanto, o mercado externo, exige cultivares com grãos grandes e este tamanho figura como um dos principais fatores determinadores de preço. Em função disso, a Embrapa Meio-Norte tem focado o seu trabalhado na obtenção do grão com tamanho aceito externamente. O aumento exponencial das exportações de feijão-caupi justifica a necessidade de uma linha de pesquisa específica para atender a essa demanda. No ano de 2005, o Brasil exportou 1.379 toneladas, já no ano de 2006 foram exportadas 5.178 toneladas de grãos e no ano de 2007 o Brasil exportou 30.469 toneladas.

Outra linha de pesquisada priorizada pela Embrapa Meio-Norte é a obtenção de cultivares com grãos tipo fradinho, também conhecido como “black eye” nos Estados Unidos, e cultivares com grãos da subclasse verde, que apresentam tegumento e cotilédones verdes. Possivelmente, novas cultivares com essas característica serão lançadas no ano de 2009.

A Embrapa Meio-Norte, por meio do Programa de Melhoramento Genético de Feijão-caupi, tem conseguido atender às demandas dos diversos setores da cadeia produtiva, visto que são disponibilizadas cultivares adequadas para o pequeno, médio e grande agricultor.

Pesquisador da Embrapa Meio-Norte

kaesel@cpamn.embrapa.br

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