Artigo: A oportunidade aliada à necessidade no agronegócio

13.04.2012 | 20:59 (UTC -3)
Alfredo do Nascimento Junior

O Brasil mantém a liderança nas exportações mundiais de carnes de frango e bovina e é o quarto maior produtor de carne suína, gerando receitas na ordem de 14 bilhões de dólares. Diante deste cenário, o aumento do custo da ração é o fato que mais preocupa o setor produtivo, devido ao valor de milho e farelo de soja, em patamares de preços históricos, não acompanhado pelos preços das carnes.

Os dados do IBGE permitem observar um crescimento de 12% do rebanho leiteiro entre 2004 e 2009, alcançando 22,4 milhões de cabeças no fim do período e um total de 1,3 milhão de estabelecimentos produtores de leite. O Brasil, sexto maior produtor mundial, tem aumentado sua produção de leite a um ritmo de + 4,5% ao ano no período 2006 – 2010, embora, com as novas estimativas, a taxa média anual deverá reduzir para + 1,7% ao ano entre 2011 e 2020, alcançando 34 bilhões de litros no final do período, de acordo com a CONAB.

A produção brasileira de carne e de leite tem como base alimentar o fornecimento de pasto, na forma de silagem ou feno, ou diretamente como pastagens cultivadas e naturais, altamente dependente da sazonalidade climática e temporal. As pastagens, em determinados períodos, denominados entressafras, disponibilizam quantidade de alimento inferior às necessidades dos animais, que poderiam ser contornadas através da suplementação com rações, feno ou silagem.

A estimativa do último levantamento da safra 2011/12 (CONAB, abril 2012), indica que a área cultivada é de 52,29 milhões de hectares, 4,8% maior que a área coberta no ano anterior. Dentre as culturas de verão, as safras de milho e de soja apresentaram crescimento, com destaque para o milho segunda safra ou "safrinha", com acréscimo de 20,1%, seguido da soja, com ganho de 3,4% e do milho primeira safra, com ganho de 8,4%. A produção estimada é de 159,20 milhões de toneladas, 2,2% inferior à obtida na safra 2010/11. Este resultado se deve às condições climáticas não favoráveis, principalmente no período entre novembro de 2011 e janeiro de 2012, que afetaram mais as lavouras de milho e de soja, sobretudo nos estados da região Sul, parte da Sudeste e no Sudoeste de Mato Grosso do Sul.

Nos estados do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina, do Paraná, de São Paulo e do Mato Grosso do Sul, a estimativa da safra 2011/12 em área plantada é de aproximadamente 22,9 milhões de hectares, ocupados pelas principais culturas (arroz, aveia, centeio, cevada, feijão, girassol, milho, soja, sorgo, trigo, triticale, etc.). Destes, 6,6 milhões de hectares são ocupados por milho e 11,5 milhões de hectares ocupados pela soja. Porém, apenas 2,37 milhões de hectares deverão ser utilizados com culturas de inverno para a produção de grãos (aveia, canola, centeio, cevada, trigo e triticale), evidenciando elevado déficit e, ao mesmo tempo, grande oportunidade. São 15,7 milhões de hectares no inverno, que poderiam ser utilizados com cereais de inverno para a produção de grãos e pasto para atender às necessidades alimentares da produção de carne e de leite, através de tecnologias geradas pelos preceitos da integração Lavoura-Pecuária.

O uso de cereais de inverno para cultivo poderiam atender diversas demandas: pastagem, silagem ou feno, grãos para rações, cobertura de solo e fixação de carbono, rotação de culturas, movimentação das estruturas físicas e humanas disponíveis nas propriedades rurais. A sustentabilidade ambiental e econômica da agricultura familiar e dos recursos naturais é possível integrando diferentes sistemas de produção de bovinos de leite e de corte, de ovinos, de equinos, de suínos e aves, com sistemas de produção de culturas anuais baseadas em cereais de inverno.

Os demais segmentos das cadeias produtivas primárias, além da porteira, poderiam se reestruturar, física e politicamente, para permitir a diversificação nas propriedades rurais, a exemplo do passado, não muito remoto. Está na hora de produzir com lucratividade, conciliar as demandas com as oportunidades, otimizando o tempo, o conhecimento científico, a infraestrutura instalada e a terra disponível, agregando valor ao trabalho e aos produtos que podem ser gerados, visando equilibrar as contas da agropecuária e, por que não, com grãos e plantas diretamente para a produção animal.

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