Uso de graxas lubrificantes em máquinas agrícolas

É preciso conhecimentos específicos para escolha e não dispensa cuidados básicos para que aplicação traga resultados desejados e evite problemas

13.07.2020 | 20:59 (UTC -3)

A utilização de graxas em máquinas e equipamentos na propriedade, apesar de ser rotineira, exige conhecimentos específicos para a sua escolha e não dispensa cuidados básicos para que a sua aplicação traga os resultados desejados e evite problemas.

A graxa é um material formado por óleo mineral ou sintético, espessante e aditivos. A variação desses componentes vai determinar os diferentes tipos de produto. O óleo proporciona a lubrificação, o espessante a consistência e os aditivos proporcionam características adicionais ao produto. A graxa é constituída de 90% de óleo básico, podendo variar a proporção de óleo e sabão conforme a consistência desejada.

A principal vantagem da graxa é que ela não escorre do lugar em que é colocada, como acontece com os óleos lubrificantes. Nas máquinas e nos implementos agrícolas, a graxa é utilizada em diferentes locais, como em mancais de arado, grades, enxadas rotativas, estrias de acoplamento de cardã, cubos de roda, entre outros. Para uma apropriada lubrificação, a aplicação deve ocorrer regularmente e que não haja excesso ou falta de graxa.

Sempre devemos utilizar graxas lubrificantes recomendadas no manual do fabricante da máquina. Nestes, são informadas quais graxas são recomendadas e aprovadas para os seus produtos, bem como a forma de lubrificação e a frequência.

PRINCIPAIS TIPOS DE GRAXAS LUBRIFICANTES

O tipo e as características das graxas se devem ao agente espessante do qual ela é constituída. Os sabões metálicos, como os de cálcio, sódio e lítio, são os mais utilizados nas graxas convencionais. Atualmente, as graxas mais encontradas no mercado são:

Graxa de cálcio: indicada para uso em peças que operam em contato com água, aplicadas na lubrificação de mancais planos que trabalham em baixas velocidades, rolamentos, chassi de veículos e em bombas d’água. Possui elevado ponto de gota, boa resistência ao calor e ao trabalho.

Graxa de sódio: esta é fibrosa, solúvel em água e proporciona proteção contra a oxidação e a ferrugem, absorvendo a água das superfícies metálicas. Pode trabalhar em locais com temperatura de até 150°C, aplicada em mancais de rolamentos que trabalham a altas velocidades, juntas universais e, principalmente, em engrenagens.

Graxa de lítio: pode ser utilizada em múltiplas aplicações. Possui resistência à água, recomendada para trabalhos com temperaturas elevadas e, em alguns casos, pode substituir as graxas de cálcio e sódio. É de fácil aplicação por meio de pistolas e sistemas centralizados de lubrificação.

Os aditivos normalmente contidos nas graxas de lítio são os antioxidantes, de extrema pressão (EP), os anticorrosivos, os ampliadores de viscosidade e aderência.

No meio agrícola, geralmente é indicada a graxa de lítio devido à sua baixa solubilidade em água, capacidade de aderir às superfícies metálicas, suportar altas cargas e variações de temperatura (20°C a 250°C). Os graus de consistência mais utilizados são o dois e o três.

FUNÇÕES DA GRAXA

Para que uma graxa apresente bom desempenho, ela deve proteger contra a ferrugem e a corrosão; evitar que a poeira, água e outros contaminantes adentrem nas partes lubrificadas; não deve derramar ou gotejar; deve manter sua estrutura e consistência durante o período de utilização; permitir livre movimento das partes móveis a baixas temperaturas e poder ser bombeada facilmente nessas condições; possuir as características físicas desejáveis para fácil aplicação e mantê-las durante a armazenagem e tolerar certo grau de contaminação sem perda significativa de eficiência.

Para que a graxa apresente bom desempenho, ela deve proteger contra a ferrugem e a corrosão, evitando que outros contaminantes adentrem nas partes lubrificantes.
Para que a graxa apresente bom desempenho, ela deve proteger contra a ferrugem e a corrosão, evitando que outros contaminantes adentrem nas partes lubrificantes.

CARACTERÍSTICAS DE DESEMPENHO DAS GRAXAS LUBRIFICANTES

Uma das características de grande importância no desempenho das graxas lubrificantes é a consistência. Esta utiliza o padrão tabelado pela NLGI (National Lubricating Grease Institute). Esta característica indica o quanto a graxa é pastosa.

No Quadro 1 é apresentada a classificação das graxas segundo a NLGI, definindo a consistência trabalhada em 60 ciclos, que variam de 000 (muito macia) a 6 (muito consistente). A menor classificação 000 define uma graxa fluida, recomendada em sistemas centralizados, nos quais não se tem acesso ao rolamento. A graxa 000 é muito parecida com um óleo e possui o benefício de aumentar a resistência à quebra de película, além de eliminar vazamentos.

A segunda característica, de grande importância, é o ponto de gota. Esta é uma propriedade da graxa que indica a temperatura acima da qual uma graxa lubrificante passa de um estado viscoso ao líquido. Em outras palavras, é a temperatura na qual a graxa começa a fluir, sendo capaz de gotejar através do orifício. É uma característica importante para as máquinas e os equipamentos que apresentam componentes que atingem altas rotações e temperaturas (Quadro 2). O teste do ponto de gota é definido nos padrões ABNT MB-350, ASTM D-566 e D-2265.

PINOS GRAXEIROS

O pino graxeiro é um componente de lubrificação que se projeta a partir da superfície da caixa de mancal. Neste se faz o acoplamento da bomba de lubrificação (Figura 1). Na parte interna do pino graxeiro existe uma esfera comprimida por uma mola que retém a graxa no interior do componente.

Figura 1 – pino graxeiro. Fonte: (Adaptação de Tecem, 2016)
Figura 1 – pino graxeiro. Fonte: (Adaptação de Tecem, 2016)

Os pinos graxeiros são feitos para serem utilizados em qualquer ângulo facilitando a lubrificação. Têm diferentes padrões de roscas, bem como diferentes comprimentos (do corpo). Estes são classificados como: reto e curvo (DIN 71412), bola (DIN 3402), funil (DIN 3405), botão (DIN 3404) e pino graxeiro tipo pino ou baioneta (SAE J 534). Os pinos graxeiros tipo reto e curvo (DIN 71412) são os mais usados e conhecidos. Podem ser fabricados em aço carbono galvanizado, aço inoxidável e latão reto e curvo (Figura 2).

Figura 2 - Fonte: (Adaptação de Tecem, 2016)
Figura 2 - Fonte: (Adaptação de Tecem, 2016)

MÉTODOS DE LUBRIFICAÇÃO COM GRAXA LUBRIFICANTE

Manual com pincel ou espátula: aplica-se a graxa com o uso de um pincel ou espátula diretamente sobre a peça a ser lubrificada.

Manual com pistola ou bomba graxeira: a graxa é introduzida através do pino graxeiro com a utilização de uma bomba pneumática ou de uma bomba graxeira.

Copo Stauffer: o preenchimento do copo com graxa é realizado pelo orifício localizado na parte inferior do copo. Quando a tampa chegar ao fim do curso da rosca, o copo deverá ser preenchido novamente.

Os equipamentos utilizados para realizar as aplicações de graxa devem ser armazenados em um ambiente limpo, seco e protegido. Ao utilizá-los adote medidas de limpeza do conjunto aplicador. Todo o material usado para limpeza deve ser armazenado e descartado em recipientes devidamente identificados. Estes recipientes devem ser encaminhados para empresas credenciadas que farão o devido descarte.

ARMAZENAMENTO

O tempo máximo de armazenamento de graxas lubrificantes deve seguir as recomendações do fabricante do produto e, acima de tudo, tomando cuidado com a data de fabricação do mesmo.

É interessante que medidas de manejo sejam adotadas durante a manutenção de estoque, principalmente com relação à proteção contra o calor e o frio excessivos. Graxas armazenadas por muito tempo têm a tendência em separar a parte líquida da sólida.

As embalagens adequadamente fechadas farão o isolamento de agentes indesejados nos produtos. Recipientes de graxa, mangotes e tambores abertos são meios para entrada de contaminantes existentes no ar, com a poeira. Recomenda-se realizar a limpeza prévia das tampas antes de manipular os produtos.

Recipientes de maiores volumes, como baldes ou tambores, têm um risco ainda maior de contaminação, pois são utilizados por um maior período de tempo.

CUIDADOS

Antes de escolher ou aplicar a graxa em qualquer máquina ou equipamento é necessário observar alguns pontos fundamentais para que a utilização seja eficiente:

Utilize sempre a graxa recomendada pelo fabricante. As graxas não são todas iguais.

Para evitar a aplicação da graxa de forma errada, verifique a especificação no recipiente e no manual do fabricante.

Utilize o plano de lubrificação informado no manual de sua máquina, para lubrificações diárias, semanais e mensais.

Mantenha limpos as bombas de aplicação e os reservatórios de graxas, evitando o contato com a poeira e a água.

Antes da aplicação, limpe com um pano os pontos de lubrificação para evitar que a sujeira acumulada externamente entre no sistema.

Em caso da graxa retornar através da esfera de retenção, recomenda-se a substituição do pino graxeiro.

Deve-se aplicar graxa nova até que toda a graxa velha tenha sido expulsa do reservatório. Isto é percebido devido à diferença de coloração da graxa nova com a velha.

Após a aplicação, com um pano limpo, retire o excesso de graxa sobre o pino graxeiro, para evitar o acúmulo de resíduos e a contaminação ambiental.

Graxas armazenadas, por períodos acima de seis meses, podem causar problemas de aplicação.

Planeje a aquisição de graxa de acordo com o consumo médio anual da propriedade.

 

Jaqueline Ottonelli, Catize Brandelero, Valmir Werner, Eliana Andreia Vogt, Marcelo Alberto Hilgert, NEMA/CCR - UFSM


Artigo publicado na edição 167 da Cultivar Máquinas.

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