Cigarrinha-africana (Leptodelphax maculigera) encontrada em plantação de milho no Brasil
Por Eduardo Engel, Esalq/USP; Mauricio Pasini, Intagro CP&T
Safra após safra, o Brasil tem consolidado sua posição como um dos principais produtores e exportadores de commodities agrícolas. Segundo dados da Embrapa, somos os maiores produtores globais de soja, açúcar, café e laranja. No cenário global, o Brasil ocupa a quarta posição como produtor de grãos, representando 7,8% da produção, atrás apenas dos Estados Unidos, China e Índia. Para alcançar tal nível de excelência na produção agropecuária, uma série de tecnologias foram e têm sido desenvolvidas e adotadas pelo setor.
Dentre as tecnologias, podemos destacar o manejo de microrganismos na agricultura por meio da utilização dos bioinsumos. É sabido que a interação entre microrganismos e as raízes das plantas, começou há milhões de anos e evoluiu ao longo do tempo. Por se tratar de um processo contínuo e dinâmico, novas descobertas e compreensões vem surgindo constantemente à medida que a pesquisa avança. A complexidade e diversidade dessas interações, continuam sendo objeto de estudo e exploração na área da ciência do solo e da microbiologia agrícola, resultando em tecnologias provenientes de produtos biológicos, as quais tem experimentado um crescimento expressivo, de aproximadamente 40% ao ano desde 2018 segundo a Abisolo.
Nesse contexto, os agentes biológicos podem incluir insetos, ácaros, nematoides, microrganismos vivos de origem natural (como fungos, bactérias, vírus e protozoários), semioquímicos (feromônios e aleloquímicos) ou produtos bioquímicos (hormônios, reguladores de crescimento e enzimas). Essas abordagens visam controlar de forma eficaz as pragas e doenças, minimizando o uso de defensivos agrícolas convencionais e seus impactos ambientais negativos. Além disso, os bioinsumos desempenham um papel importante na fertilidade do solo e nutrição das plantas. Eles mobilizam os nutrientes essenciais, melhoram a absorção de nutrientes presentes no solo e estimulam o crescimento das plantas. Dentre os bioinsumos, destacam-se os inoculantes, biofertilizantes e bioestimulantes para o solo.
Os inoculantes são uma tecnologia consolidada, amplamente utilizada no cultivo da soja e, mais recentemente, em outras culturas (milho, cana de açúcar pastagens). Esses produtos atuam por meio da associação simbiótica de microrganismos com as raízes das plantas, potencializando o processo natural de fixação biológica de nitrogênio (FBN) proveniente da atmosfera e convertendo-o em uma forma absorvível pelas plantas. Esse processo resulta na redução do consumo de fertilizantes nitrogenados, chegando até mesmo a zerar sua utilização em certos casos, como no cultivo da soja.
Categoria relevante dentro dos bioinsumos são os bioestimulantes, os quais potencializam os processos fisiológicos das plantas, resultando em maior produtividade. Esses produtos atuam no equilíbrio hormonal e na divisão celular das plantas, fortalecendo seu sistema de defesa e aumentando sua resistência, inclusive em períodos de escassez de água, graças ao aprimoramento da capacidade de absorção de água e nutrientes.
Os biofertilizantes, por sua vez, promovem o aumento de microrganismos benéficos no solo, proporcionando estabilidade e melhorando sua capacidade de sustentar o potencial produtivo das culturas. Esses bioinsumos auxiliam no desenvolvimento de um ambiente propício ao crescimento das plantas, favorecendo a absorção de nutrientes e melhorando a saúde do solo de forma sustentável.
A “saúde ou qualidade do solo”, é outra área de tendência no agronegócio, embora seja relativamente recente, tendo surgido no início da década de 1990. O funcionamento do solo está intrinsecamente ligado aos seus aspectos químicos, físicos e biológicos, sendo a componente biológica responsável pela ação das demais. Dentre os parâmetros utilizados para caracterizar a componente biológica e avaliar sua saúde/qualidade, destacam-se as análises da biomassa microbiana e da atividade enzimática. A biomassa microbiana do solo, avalia a quantidade de microrganismos presentes e é expressa em termos de miligramas de carbono, nitrogênio e/ou fósforo nos microrganismos por quilograma de solo, compreendendo a parte viva e mais ativa da matéria orgânica do solo, sendo constituída principalmente por fungos, bactérias e actinomicetos.
As enzimas atuam no solo como catalisadoras de reações metabólicas intracelulares que ocorrem nos seres vivos, sendo que as enzimas extracelulares desempenham um papel fundamental, participando de várias reações que resultam na decomposição de resíduos orgânicos (como ligninases, celulases, proteases, glucosidases e galactosidases), ciclagem de nutrientes (como fosfatases, amidases, ureases e sulfatases) e formação da matéria orgânica e estrutura do solo. Portanto, a análise de atividade enzimática pode funcionar como indicador altamente sensível, especialmente para β-glicosidase e arilsulfatase, o que tem sido comprovado no contexto do Cerrado. Essas avaliações da biomassa microbiana e da atividade enzimática fornecem informações valiosas sobre a saúde e a qualidade do solo, permitindo uma compreensão mais completa dos processos biológicos que nele ocorrem.
Outra tendência do agronegócio é o uso de tecnologias de precisão na agricultura, ferramentas avançadas como sensores remotos, monitoramento por satélite e agricultura de precisão, permitem uma gestão mais eficiente dos recursos agrícolas, como água, fertilizantes e defensivos. Possibilitam otimizar a produção, reduzir os custos e minimizar os impactos negativos ao meio ambiente. Ainda vale mencionar o avanço da agricultura digital, que engloba o uso de plataformas tecnológicas, análise de dados e inteligência artificial na tomada de decisões agrícolas, ferramentas que proporcionam uma gestão mais assertiva, permitindo aos produtores uma maior precisão na aplicação de insumos, monitoramento das lavouras e previsão de safras. Atualmente, pode-se afirmar que a AP está presente em praticamente 100% das atividades agrícolas, abrangendo a aplicação de corretivos e fertilizantes em taxa variável, com o objetivo de otimizar o uso de insumos, os sistemas de plantio para garantir um espaçamento uniforme entre as linhas de plantas, as pulverizações para evitar sobreposição de defensivos e as colheitadeiras para gerar mapas de produtividade, entre outros
Além disso, a utilização de drones na agricultura tem se expandido juntamente com a agricultura de precisão, de forma a desempenhar um papel fundamental ao fornecer dados aéreos e imagens de alta resolução, que auxiliam no mapeamento e monitoramento das áreas agrícolas. Com a combinação da agricultura de precisão e o uso de drones, os produtores têm acesso a um conjunto valioso de ferramentas para otimizar a produção agrícola. Essas tecnologias possibilitam, redução nos impactos ambientais e aumento na rentabilidade das atividades agrícolas e gestão mais eficiente dos recursos, como por exemplo dos fertilizantes para a nutrição das plantas.
No âmbito da nutrição das plantas, temos observado um aumento significativo na adoção de fertilizantes especiais, que são produtos que incorporam tecnologias destinadas a aumentar a eficiência no fornecimento de nutrientes para as plantas. Essas tecnologias incluem técnicas de liberação controlada, inibidores de enzimas, bioestimulantes, indutores de resistência, substâncias húmicas, entre outros. De acordo com a Abisolo, o consumo de fertilizantes especiais teve um crescimento de 57,9% na safra 20/21 e de 37% na safra 21/22. É importante destacar que a maior utilização ocorreu por meio da aplicação no solo, com um aumento de 62%. Esse aumento na demanda está diretamente relacionado ao aumento dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento, que se intensificaram a partir de 2020.
Cabe comentar que uma inovação tecnológica na agricultura tem que ser respaldada por resultados científicos de pesquisas, sendo apoiada pelos especialistas e consultores do agronegócio, de maneira a oferecer benefícios técnicos, operacionais, econômicos e ambientais de forma sustentável.
O agronegócio brasileiro tem investido nesses seguimentos de inovações para poder levar aos produtores as melhores soluções que contemplam essas tecnologias abordadas. Nesse sentido, a holding brasileira Essere Group através de suas unidades de negócios: Bionat, Kimberlit, Loyder e Floema tem contribuído para essas inovações, através do seu Know-how pautado pelo desenvolvimento, produção e comercialização de novas tecnologias.
Por Pedro Henrique de Cerqueira Luz, Agrarias/USP - Agro-PH Consultoria
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