Manejo Integrado gera produtividade e sustentabilidade no campo
Por Gabriela Vieira, engenheira agrônoma especialista em Manejo Integrado de Pragas (MIP) e produtos biológicos, e Descascando a Ciência, empresa de comunicação
Nos últimos 25 anos, o Seminário de Planejamento Estratégico da CSMIA (Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas) da Abimaq se consolidou como espaço de reflexão e construção coletiva para o setor de máquinas agrícolas.
Um marco que representa a maturidade de um setor que acompanha de perto as transformações do agronegócio brasileiro e se adapta, continuamente, às novas exigências tecnológicas, econômicas e ambientais.
Se olharmos para trás, veremos que a mecanização agrícola foi decisiva para que o Brasil se consolidasse como potência agroalimentar mundial. Hoje, no entanto, vivemos um paradoxo: de um lado, a expansão da área cultivada e a defasagem da frota apontam para um mercado com forte potencial de crescimento. De outro, o alto custo do financiamento, a volatilidade internacional e a dependência de recursos públicos, como o Plano Safra, impõem limites à previsibilidade e ao investimento de longo prazo.
Para termos uma ideia, o faturamento de 2024 foi de R$ 62 bilhões e a projeção para 2025 é de R$ 68 bilhões, um crescimento de 10%. Até agosto, já registrávamos alta expressiva em relação ao ano anterior, mas a desaceleração no segundo semestre acendeu um alerta. Estamos há dois anos com reposição muito baixa da frota, e isso significa que, em algum momento, a demanda reprimida deverá explodir. Soma-se a isso o avanço da fronteira agrícola: somente em 2026, a Conab prevê aumento de 2,5 milhões de hectares, equivalente ao território de Alagoas.
Esse cenário exige repensar o modelo de financiamento. Em 2024/25, os financiamentos de máquinas agrícolas somaram R$ 27,6 bilhões no Banco Central, com metade das vendas atreladas ao crédito. Contudo, apenas 36% desses financiamentos contaram com juros equalizados, percentual bem inferior aos 60% de anos anteriores. Essa diferença mostra claramente que o crédito público, sozinho, já não é suficiente para sustentar o ritmo de modernização que o setor demanda.
É aqui que o mercado de capitais ganha protagonismo. Instrumentos como CPR (Cédula de Produto Rural), CRA (Certificado de Recebíveis do Agronegócio), LCA (Letra de Crédito do Agronegócio) e, mais recentemente, o Fiagro, cresceram mais de 300% entre 2022 e 2024. Eles representam uma fonte praticamente ilimitada de recursos, mas exigem contrapartidas importantes: governança, transparência e profissionalização das empresas. Trata-se de um caminho sem volta para a agroindústria brasileira, que precisará conciliar o crédito subsidiado com novas modalidades privadas de financiamento, criando modelos híbridos capazes de dar fôlego à inovação.
Mas falar em futuro do setor é também falar em tecnologia. O debate sobre inteligência artificial, conectividade e agricultura de precisão mostrou que o futuro já chegou – e não há tempo a perder. A IA, por exemplo, não deve ser encarada como substituição de mão de obra, mas como inteligência ampliada, capaz de potencializar processos produtivos, ampliar eficiência e abrir novas frentes de inovação. O mesmo vale para a digitalização no campo: sem conectividade, não há como avançar na agricultura 4.0, que integra sensores, dados climáticos, sistemas de irrigação e máquinas inteligentes.
Não podemos esquecer também da sustentabilidade, que se tornou exigência do mercado global. A recuperação de pastagens degradadas, o uso de biofertilizantes e a expansão dos biocombustíveis estão no radar de produtores e investidores. São tendências que exigem novas soluções em maquinário, logística e processamento, abrindo oportunidades para toda a cadeia industrial.
Projetar o futuro é parte essencial do nosso papel enquanto setor organizado. Para 2026, nossas pesquisas apontam crescimento modesto de 3,4%. Não é retração, mas tampouco um ciclo de expansão acelerada. É um número que reforça a necessidade de planejamento estratégico, disciplina financeira e cooperação entre os elos da cadeia. Margens apertadas, juros elevados e instabilidade internacional não podem nos paralisar; pelo contrário, devem nos estimular a inovar e encontrar caminhos alternativos.
A mecanização agrícola sempre esteve no centro da transformação do campo brasileiro. Agora, diante de um mundo mais competitivo e exigente, precisamos acelerar a transição para novos modelos de financiamento, investir de forma consistente em inovação tecnológica e adotar práticas sustentáveis que nos garantam protagonismo no longo prazo.
O desafio que se coloca diante de nós é claro: não planejar apenas a próxima safra, mas as próximas décadas. Esse é o compromisso que devemos assumir coletivamente para que a indústria brasileira de máquinas agrícolas continue sendo um dos motores do desenvolvimento nacional.
*Por Pedro Estevão Bastos, Diretor de relações institucionais na Jacto S/A, membro do Conselho Administrativo da Abimaq e presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas da Abimaq
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