Novas estirpes de Azospirillum brasilense

Por Solon Cordeiro de Araújo, Conselheiro da ANPII

01.08.2024 | 15:55 (UTC -3)
Larissa Simon e Solon Cordeiro de Araújo
Larissa Simon e Solon Cordeiro de Araújo

O Brasil, com seu imenso território, apresenta uma enorme diversidade de clima e solos, o que leva a uma diversidade de flora e fauna. Claro que nas culturas destinadas à alimentação, fibras e combustíveis, também temos diferentes aptidões para variados gêneros e espécies de plantas.

Esta diversidade também requer que tenhamos, nas tecnologias empregadas na agricultura, vários manejos e diversos tipos de insumos, que se adaptem com mais eficiência nos diferentes biomas.

Com os microrganismos utilizados na agricultura não é diferente. Temos que colocar à disposição do agricultor uma variada gama de produtos biológicos que venham a proporcionar as mais elevadas produtividades, aumentando o rendimento por parte dos agricultores.

No caso particular dos inoculantes à base de Azospirillum, utilizados inicialmente em gramíneas e logo se estendendo para a prática da coinoculação em soja, temos mais uma vez o efeito altamente positivo da associação entre a pesquisa oficial e as empresas produtoras de inoculantes na geração de produtos eficientes para o agricultor. As duas estirpes de Az. brasilense foram apresentadas pela Embrapa Soja e pela UFPR na RELARE de 2005, entraram em produção em 2009, com o lançamento do primeiro inoculante com as bactérias AbV5 e AbV6 no mercado brasileiro, produto desenvolvido por uma empresa privada. Os resultados nas lavouras se mostraram prontamente promissores e hoje já chegaram a uma elevada utilização por parte dos plantadores de milho e na inoculação na soja.

Mas, como dissemos no início, o Brasil é diverso demais e necessitamos de uma maior oferta de insumos. Visando aumentar a maior diversidade de cepas, a UFPR, através do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular, selecionou três novos materiais genéticos, com potencial dez vezes maior de produção de amônia, conforme testes feitos em laboratório.

Em entendimentos com os pesquisadores, a ANPII firmou um contrato para a aquisição das novas estirpes, denominadas HM 053 e HM 210, com a finalidade de desenvolver a formulação de um inoculante e realizar os testes de campo para determinar a eficiência agronômica do novo material, condição essencial para obter o registro no Ministério da Agricultura. Em consulta com o ministério, a associação foi autorizada a fazer o desenvolvimento de um produto base e realizar um teste de campo dentro do protocolo oficial e, estando o resultado conforme, as empresas associadas passariam a produzir o inoculante com estas novas estirpes.

O desenvolvimento do produto ocorreu de uma forma praticamente inédita no Brasil: foi constituída uma aliança estratégica tecnológica entre as empresas e um produto base foi desenvolvido em um trabalho conjunto entre os departamentos de P&D das nove empresas então associadas à ANPII. Foram formados dois grupos de trabalho, um relacionado ao P&D propriamente dito e outro para discussão dos aspectos regulatórios.

As empresas entenderam as grandes vantagens advindas da aliança, seja na parte de desenvolvimento, com a troca de informações que não representassem segredos industriais e, principalmente, pela diluição dos elevados custos dos testes de eficiência agronômica. Em vez de cada empresa arcar com estes custos, os mesmos foram diluídos entre as associadas.

Formulado um produto base, foram contratados os ensaios de campo para registro, entre diversas universidades e centros de pesquisa, para testar o produto, comparando-o com o produto já registrado e usado comercialmente, em quatro regiões edafo climáticas.

O primeiro teste, para verificar o efeito do novo produto na coinoculação da soja, mostrou excelentes resultados, comparáveis aos dos produtos já no mercado. Com isto, após diversos testes de análise do DNA das novas estirpes, mostrando, de forma cabal, sua diferenciação em relação às já existentes no mercado, o Mapa autorizou o registro.

As empresas estão fazendo seus registros, agora individualmente e, após esta fase, cessa a aliança e cada uma entra no mercado por si, com toda sua estrutura de marketing. Isto representa uma vantagem para o agricultor, pois em vez de ele ter apenas uma marca sendo oferecida, várias marcas, com a mesmas estirpes estarão à sua disposição simultaneamente.

Assim, dois aspectos devem ser ressaltados neste trabalho: um, que mostra que o trabalho cooperado entre empresas é possível e traz diversos bons resultados e, segundo, que novos materiais genéticos estão sendo colocados à disposição dos agricultores, ampliando seu direito à escolha.

Por Solon C. Araujo, Conselheiro da ANPII

Publicado na edição 295 da Revista Cultivar Grandes Culturas

Veja mais informações em: "Mapa registra duas novas estirpes do Azospirillum brasilense".

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