Condições climáticas na interferência da deriva de pulverizadores
Condições de umidade e pressão do ar interferem na evaporação e deriva das gotas da pulverização de defensivos, exigindo cuidados ao pulverizar
Folhas, espigas, colo e colmo das plantas de milho estão entre os alvos da lagarta-do-cartucho, Spodoptera frugiperda, uma das principais pragas da cultura, responsável por danos de até 60%. Para conter os prejuízos deste inseto são necessárias medidas integradas, adotadas ao longo de todo o ano, que incluem dessecação antes da semeadura, tratamento de sementes com inseticidas e o emprego de tecnologia Bt.
O milho é uma das culturas mais importantes no mundo. Para obtenção de elevadas produtividades, faz-se necessário a proteção das plantas contra o ataque de pragas. Comparativamente a outras culturas, a população de plantas no milho é menor, fazendo com que a perda de área foliar ou de plantas, em decorrência de erros do manejo fitossanitário, tenha maior impacto na produtividade de grãos (Cruz et al., 2010).
Como uma das principais pragas do milho tem-se a lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda). Os seus danos podem chegar a até 60%, dependendo do híbrido, época de semeadura e estádio de desenvolvimento da cultura, sendo que o florescimento é o período crítico (Cruz el al., 2010; Carvalho, 1970). O período larval da lagarta do cartucho varia de 12 dias a 30 dias, de acordo com a temperatura, sendo nesse período que ocorrem os danos às plantas de milho. A coloração da lagarta pode oscilar de cinza a marrom até verde, possuindo seis ínstares, podendo atingir 50 mm no último (Gallo et al., 2002; Avila & Papa, 2015).
A lagarta do cartucho é um inseto polífago e possui estádio de adaptação em diversos hospedeiros alternativos. No sorgo granífero e no selvagem o nível é alto e intermediário em culturas como soja, trigo, capim braquiária e caruru-de-porco. Com isso a incidência desta praga em lavouras de milho é elevada (Boregas et al., 2013; Cruz, 2010).
A lagarta tem preferência por atacar folhas novas, raspando-as, provocando o primeiro sintoma conhecido como “folha raspada”. Quando a lagarta ocorre dentro da espiga em formação são gerados danos diretos, como o consumo de massa em si, e indiretos, na facilitação da entrada de bactérias e fungos, prejudicando a qualidade do grão e a silagem. Em situações como alta infestação, pode haver danos no colo das plantas, colmo e espigas. Outros fatores como períodos de estiagem, temperaturas acima de 25°C, áreas de cultivo contínuo de milho, milho safrinha e semeadura tardia favorecem o aumento da população desta praga (Avila & Papa, 2015).
Para que o manejo da lagarta do cartucho seja eficiente, as ações devem ser realizadas todo o ano. É recomendável a dessecação antecipada 30 dias antes da semeadura, eliminando a presença de massa verde (plantas daninhas e culturas antecessoras), que servem de hospedeiras para a praga. Em um período próximo a semeadura deve-se realizar uma nova dessecação com o objetivo de eliminar as plantas daninhas que não foram afetadas pelo primeiro manejo. No controle cultural, práticas como evitar a semeadura próximas de plantas hospedeiras, controlar plantas hospedeiras no interior e bordas, semeaduras no sentido contrário da direção do vento e evitar semeaduras escalonadas na mesma área ou áreas próximas, diminuem a pressão do inseto (Sarmento, 2002).
No controle biológico, entomopatógenos, baculovírus, inoculações da vespinha Trichogramma e a preservação de inimigos naturais como a tesourinha (Doru luteipes), podem controlar eficientemente a campo. O fator abiótico mais importante no controle da lagarta do cartucho é o regime de chuvas. Quando as chuvas são fortes e frequentes, a lagarta é naturalmente controlada, diretamente pela chuva e indiretamente via inimigos naturais, como doenças (Sarmento, 2002; Bianco, 1997).
Alternativamente o manejo da lagarta do cartucho e de outros lepidópteros pode se dar pelo emprego de milhos Bts. Esses possuem proteínas que são provenientes da bactéria Bacillus thuringienses, que atuam em todo o ciclo da cultura (Gallo et al., 2002; Santos et al., 2012). Porém, devem ser respeitadas duas regras legais impostas pela CTNBio: uma referente as áreas de refúgio, que exige 10% da área cultivada com híbridos de milho não Bt e distantes no máximo 800 metros da lavoura Bt, e a outra evitar a contaminação de lavouras de vizinhos não Bt, por meio da polinização (Embrapa, 2011).
Híbridos Bts e convencionais, não dispensam o uso de tratamento de sementes que deve ser de amplo espectro, proporcionando eficiência no controle de pragas iniciais. Porém, o efeito residual do tratamento de sementes varia de 15 dias a 20 dias após emergência, o que coincide com as denominadas pragas iniciais (Embrapa, 2011).
Após o efeito do tratamento de sementes é necessário o monitoramento semanal da lagarta do cartucho. Como esta praga não se distribui uniformemente nas áreas, pode ser usado o acompanhamento tanto visual do ataque de plantas como o uso de armadilhas de feromônios para justificar uma situação de controle. O nível de ação, para a lagarta do cartucho, é atingido quando 20% das plantas de milho apresentarem o nível 3 da escala de Davis. Em regiões com histórico de pressão do inseto, recomenda-se como parâmetro o nível de 10% de plantas atacadas (Grützmacher et al., 2000; Cultivar, 2013; Rosa, 2011; Davis et al., 1992). O controle da lagarta do cartucho deve ser justificável, isto é, a partir de um monitoramento rígido e não com o uso de aplicações pré-agendadas, por exemplo.
No caso da necessidade de controle químico, há 155 produtos registrados para o controle da lagarta do cartucho, pertencentes aos grupos químicos carbamato, organofosforado, piretróide, neonicotinóide, espinosina, benzoiluréia, oxadiazina, diamida, clorpenapir e diacilhidrazina e biológicos (Agrofit, 2016). É preferível o uso de inseticidas seletivos para a preservação de inimigos naturais. Também se deve rotacionar os ingredientes ativos de modo a evitar a resistência da praga (Bianco, 1997).
Na safra de 2014/2015, 60% das sementes disponíveis no mercado foram transgênicas, resistentes a insetos da ordem lepidóptera e/ou com resistência a herbicidas (Cruz et al., 2014). Dessa porcentagem, verificaram-se cinco eventos transgênicos para o controle de lepidópteros no mercado: o evento MON 89034 (toxina Cry1A.105/Cry2Ab2), marca VT PRO; o evento TC 1507 (toxina Bt Cry 1F), marca Herculex I; o evento MON 810 (toxina Bt Cry 1Ab), marca YieldGard; o evento Bt11 (toxina Bt Cry 1Ab), marca Agrisure TL; e o evento MIR162 (toxina Bt VIP3Aa20), marca TL Viptera (EMBRAPA, 2014; Cruz et al., 2014).
Foram realizados dois experimentos na área experimental do departamento de fitotecnia da UFSM. Foram realizadas estimativas visuais de 10 plantas ao acaso nas três fileiras centrais da parcela do experimento I e em uma fileira no experimento II, com o auxílio da escala visual de danos ocasionados por S. frugiperda, que varia de 1 a 9 (Davis et al., 1992). Dessa forma, objetivou-se com esse trabalho avaliar a presença da lagarta Spodoptera frugiperda em híbridos de milho por meio da escala de Davis.
A semeadura foi realizada diretamente sobre palhada de trigo na densidade de 6 sementes/m². O delineamento experimental utilizado foi de blocos completamente casualizados, com três repetições, nos dois experimentos.
Os tratamentos no experimento I foram constituídos de 20 híbridos comerciais de milho, com semeadura realizada no dia 19/10/2015. Destes 20, dois são (híbridos convencionais), 11 (VT PRO), dois (Herculex), quatro (Herculex + YieldGard) e um (YieldGard). Foram realizadas duas aplicações de inseticidas: a primeira em V5, (Tiametoxan + Lambda-cialotrina) e a segunda em V6 (Lambda-cialotrina +Chlorantraniliprole) + (Lufenurom).
No experimento II, os tratamentos foram constituídos de 10 híbridos comerciais e a semeadura realizada no dia 17/12/2015. Neste experimento foram utilizadas as seguintes tecnologias de híbridos: dois convencionais, dois TL Viptera, três VT PRO, um Herculex, um Herculex + YieldGard e um Agrisure TL. Foi realizada uma aplicação de inseticida (Acefato) em V5.
Os danos em ocorrência da lagarta do cartucho foram avaliados nos estágios fenológicos V4 (4 folhas completamente desenvolvidas) e V8 (8 folhas completamente desenvolvidas), em ambos os experimentos. Foram realizadas estimativas visuais de 10 plantas ao acaso nas três fileiras centrais da parcela do experimento I e em uma fileira no experimento II, com o auxílio da escala visual de danos ocasionados por S. frugiperda, que varia de 0 a 9 (Davis et al., 1992).
No experimento I, no estágio V4, os maiores danos foram observados nos híbridos convencionais e nos que possuem a tecnologia herculex + YieldGard, YieldGard e Herculex, com a exceção do P 3456 H (Tabela 1). Na avaliação feita no estágio V8 foi possível observar que os híbridos da tecnologia VT PRO, mostraram-se superiores às demais tecnologias (Tabela 1). Deve ser ressaltado que em alguns híbridos, que não atingiram nota 3 em V4 e V8, talvez não seria necessário a aplicação de inseticida, pois não atingiram o nível de controle da lagarta-do-cartucho (Tabela 1). Já híbridos como BG 7046 e P2530 demonstraram que duas aplicações de inseticida, 34 DAS E 40 DAS, não foram suficientes para o controle da lagarta. Nesse caso, seria necessário mais aplicações, onerando os custos de produção, pois o nível de controle segundo Davis et al. (1992), é a nota 3.
Moraes et al. (2015), demonstraram que híbridos convencionais apresentam maiores danos quando comparados com suas versões transgênicas em dois locais distintos, Campinas e Mococa e também que diferentes toxinas Bts exibem danos variados pelo ataque de S. frugiperda. Além disso, a demonstração de Moraes et al. (2015) verificou que o evento Maximus Viptera obteve uma das menores notas de dano e possuiu a maior produtividade comparados com outros 9 híbridos. Nesse trabalho de Moraes et al. (2015), as menores notas obtidas foram nas tecnologias Herculex e TL Viptera, entretanto o único híbrido com a tecnologia VT PRO, não atingiu o nível de controle, o que condiz com a maioria dos híbridos deste trabalho. Martin et al. (2015) ao avaliar os danos causados em diferente híbridos de milho pela lagarta-do-cartucho, observaram que híbridos transgênicos foram menos atacados e que a tecnologia TL Viptera apresentou menores danos em Santa Maria, Rio Grande do Sul.
No experimento II a avaliação em V4, as cultivares não atingiram o nível de controle necessário. Porém, em V8, os únicos híbridos com danos menores foram Defender VIP e Status VIP. Os demais mostraram que uma aplicação de inseticida aos 34 DAS não foi o suficiente para o controle da lagarta, e para ter evitado isso teria que ter havido uma medida de controle antes dos altos valores atingidos em V8. O que pode explicar o alto dano no experimento II ocasionado pela lagarta-do-cartucho é a semeadura tardia, expondo a uma maior pressão do inseto (Avila & Papa, 2015). O baixo dano da tecnologia TL Viptera nesse experimento é compatível com resultados de Martin et al. (2015), e Moraes et al. (2015).
Anderson da Costa Rossatto, Guilherme Bergeijer Rosa, Vinícius dos Santos Cunha, Thomas Newton Martin, UFSM
Artigo publicado na edição 205 da Cultivar Grandes Culturas.
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