Manejo de plantas daninhas em macieira

Por Zilmar da Silva Souza (Epagri) e Marcelo Goulart Souza (Udesc)

02.08.2024 | 10:06 (UTC -3)

A ocorrência de plantas daninhas causa prejuízos econômicos nas mais diversas atividades agrícolas em todas as regiões de cultivo. São consideradas plantas daninhas todas as espécies que estejam ocorrendo espontaneamente em um local de atividade humana e estiverem causando interferência à essa atividade. As plantas daninhas são conhecidas por inço, mato, planta invasora, planta infestante, erva daninha, planta espontânea, planta ruderal e outras. Desse modo, estão presentes em todos os ambientes desde que haja um espaço ou áreas de solo descoberto com condições mínimas de sobrevivência.

O manejo de visa proporcionar um ambiente favorável à cultura e desfavorável às plantas daninhas. Nesse contexto, são necessárias a adoção de estratégias de controle e manejo visando reduzir a interferência nas culturas de interesse.

Métodos de controle

• Controle preventivo: consiste no uso de práticas e cuidados para prevenir ou evitar a introdução, o estabelecimento e a disseminação de determinadas espécies daninhas nos pomares e assim, eliminar ou minimizar problemas futuros.

• Controle cultural: utilização das práticas visando beneficiar a cultura e desfavorecer as plantas daninhas, reduzindo ou inibindo o seu desenvolvimento, como a definição do sistema de condução na implantação e uso de plantas de cobertura.

• Controle mecânico: redução do crescimento ou eliminação das plantas daninhas por efeito mecânico de corte ou arranquio com o uso de implementos que pode ser manual, costal motorizado ou roçadeira acoplada ao trator ou outras formas.

• Controle físico: utiliza práticas para impedir a germinação ou o crescimento das plantas daninhas, como a cobertura do solo de origem orgânica ou material plástico, eletricidade, entre outras.

• Controle biológico: controle por inimigos naturais, como fungos, bactérias, vírus, insetos, aves e outros seres, ou por produtos de seus metabolismos, que reduzem a população das plantas daninhas ou por alelopatia.

• Controle químico: uso de produtos químicos com ação herbicida capaz de matar as plantas daninhas alvo ou inibir a germinação das sementes ou crescimento, ou ainda matar alguns tipos de plantas (seletividade) sem causar injúrias às plantas de macieira.

• Controle integrado: consiste na combinação de dois ou mais métodos de controle visando o manejo de plantas daninhas.

Manejo integrado

O manejo integrado pode ser conceituado como o conjunto de práticas de manejo do solo e cultural que interferem negativamente no estabelecimento e competição das plantas daninhas com a macieira, podendo ser realizado por meios preventivos, mecânicos, químicos ou biológicos, considerando às condições ambientais predominantes no pomar.

As culturas perenes como a macieira são muito apropriadas para o manejo integrado numa expectativa de planejamento a médio e longo prazo, objetivando a eficiência de controle, facilitar o manejo, proporcionar alta produtividade e retorno econômico. Os métodos a serem utilizados precisam considerar as espécies de plantas daninhas presentes, a estrutura da propriedade, as características da área do pomar e os custos envolvidos.

O manejo integrado é utilizado nos pomares de macieira no sul do Brasil onde são realizadas roçadas mecânicas (método mecânico) nas entrelinhas do pomar e a aplicação de herbicidas (método químico) em ambos os lados na fileira de plantio, podendo ou não estar associados a outros métodos. Embora a grande maioria dos pomares adotem o manejo integrado, muitos pequenos e médios produtores utilizam apenas o método mecânico com roçadas periódicas nas entrelinhas e sob as plantas nas fileiras de plantio.

Na prática, nenhuma medida de controle deve ser usada de forma única e isolada, pois definitivamente não se sustentam a longo prazo. Um manejo eficiente precisa integrar diferentes métodos de controle, que devem ser escolhidos em função das condições de cada pomar. O uso contínuo do mesmo método irá favorecer a seleção de determinadas espécies de plantas daninhas, sendo que nesta dinâmica as espécies selecionadas irão predominar na área.

Manejo em pomares

A idade dos pomares precisa ser considerada na interferência por plantas daninhas.

• Pomares recém implantados ou em formação: em pomares novos a competição com as plantas daninhas é crítica e pode reduzir o crescimento e desenvolvimento das plantas novas, atrasar o início da idade produtiva, reduzir a produção inicial e trazer dificuldades para a realização dos tratos culturais.

• Pomares adultos ou em produção: em pomares adultos ou em produção as plantas daninhas praticamente não interferem na produtividade por competição, principalmente em porta-enxertos vigorosos. Entretanto, o controle é necessário, pois plantas daninhas não controladas e com crescimento excessivo prejudicam a efetividade dos tratamentos em operações fitossanitárias, adubações, raleio e colheita com perdas de produtividade e qualidade dos frutos.

Espécies de plantas daninhas

O conhecimento e características das principais espécies de plantas daninhas presentes nos pomares é importante, principalmente aquelas de difícil controle que irão nortear as decisões sobre quais medidas a serem adotadas.

As principais espécies presentes nos pomares de macieira, principalmente nas regiões de maior altitude são: azevém (Lolium multiflorum), trevo-branco (Trifolium repens), picão-preto (Bidens pilosa), picão-branco (Galinsoga parviflora), capim-lanudo (Holcus lanatus), tiririca-de-flor amarela (Hypoxis decumbens), capim-colchão (Digitaria horizontalis), capim-marmelada (Urochloa plantaginea), nabiça (Raphanus raphanistrum), guanxuma (Sida rhombifolia), labaça (Rumex obtusifolius), corda-de-viola (Ipomoea spp.), capim-quicuio (Pennisetum clandestinum), capim-pé-de-galinha (Eleusine indica), buva (Conyza spp.) e outras menos importantes.

Herbicidas registrados

Os herbicidas são substâncias químicas que interferem nos processos bioquímicos e fisiológicos das plantas daninhas causando a morte e, ou, impedindo o desenvolvimento, podendo ser capazes de selecionar determinadas espécies para controle. Na tabela abaixo, pode-se ver alguns produtos registrados para usa na cultura da macieira.

Os herbicidas são efetivos sob determinadas condições de aplicação especificados na bula.

Se possível, realizar uma única aplicação do mesmo mecanismo de ação por safra.

Verificar a dose a ser utilizada considerando as principais plantas daninhas no pomar.

Evitar que a calda herbicida entre em contato com as folhas da macieira. A cautela aumenta em plantas daninhas com crescimento excessivo (altas).

Utilizar de 100 a 450 L/ha de calda. Cada herbicida tem uma recomendação de volume de calda.

Pressão: 20 a 40 libras por polegada. Regular para a produção de gotas médias, grossas ou muito grossas em aplicações de herbicidas.

Bico ou pontas: tipo leque com jato plano ou similar, 11002, 8002, 11003 ou similares.

Evitar aplicar herbicidas em plantas daninhas em avançado desenvolvimento vegetativo. Quando mais novas as plantas daninhas maior é a sensibilidade aos herbicidas.

Utilizar sempre água limpa no preparo das caldas de pulverização.

Não aplicar em períodos de estiagem (seca), evitar os horários mais quentes do dia ou antes de chuvas.

A aplicação de herbicidas com ação de pré-emergência deve ser realizada 10 a 20 dias após a eliminação da vegetação com herbicidas de ação total (glifosato, glufosinato de amônio ou outros).

Em pomares com a presença de azevém ou buva com resistência ao glifosato, deve ser associado com outros herbicidas para controle dessas espécies.

Em pomares recém implantados a macieira é mais sensível, então tenha mais cuidados com deriva.

É importante que os equipamentos de aplicação estejam bem regulados para distribuição uniforme da calda.

Trabalhar sempre utilizando os equipamentos de proteção individual (EPI).

Resistência a herbicidas

A utilização de herbicidas é uma tecnologia fundamental no manejo e controle de plantas daninhas na agricultura, a qual deve ser preservada face aos crescentes casos de resistência observados em várias espécies de plantas daninhas em todo o mundo. Muitos casos também têm sido relatados no Brasil e na região Sul próximos das áreas de cultivo da macieira. Atualmente é conhecido a presença de azevém e buva com resistência ao glifosato em pomares de macieira.

Como medida preventiva é importante seguir a recomendação técnica de uso dos herbicidas relatada na bula dos produtos para evitar novos casos de resistência, como utilizar um mesmo produto ou mecanismo de ação apenas uma vez por safra, observar produtos, doses, espécies a serem controladas e a tecnologia de aplicação recomendada. Para o controle de azevém e buva com resistência ao glifosato é necessário manejar com a associação de herbicidas e outros métodos.

Por Zilmar da Silva Souza (Epagri) e Marcelo Goulart Souza (Udesc)

Artigo publicado na edição 145 da Revista Cultivar Hortaliças e Frutas

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