Segurança no armazenamento de grãos
A segurança é fundamental para manter o bom funcionamento e a eficiência das empresas de armazenamento de grãos
Depois de Plantio Direto, o Controle de Tráfego de Máquinas é um dos passos importantes dentro da lavoura, pois melhora o gerenciamento das passadas com diminuição do consumo de combustível e do tempo necessário para a execução dos trabalhos.
Nas décadas de 1980/1990, o sistema de cultivo Plantio Direto evoluiu rapidamente no Brasil, muito influenciado pela necessidade de minimizar a erosão. Não sem menos importância, buscava-se aumentar a disponibilidade de água, nutrientes e matéria orgânica com o uso de cobertura do solo, tendo como resultado o aumento da eficiência do uso das máquinas, do trabalho no campo e, por fim, da produtividade agrícola. Desta forma, deixamos de revolver o solo para, apenas, dessecar a vegetação existente na lavoura e fazer o controle de plantas invasoras durante o desenvolvimento das culturas com o uso de herbicidas pós-emergentes.
Sem perceber, estávamos mudando do modelo de agricultura mecânica, ainda hoje utilizada em muitos países, especialmente os de clima frio, para o modelo químico de produção agrícola. Com isso, deixamos de utilizar arados e grades e diminuímos o uso de subsoladores. Houve a necessidade de adequarmos as máquinas, com destaque para as semeadoras que ficaram mais robustas e ganharam um disco de corte de palha frontal maior que nas convencionais para iniciar o processo de abertura do sulco sem que o solo tivesse sido mobilizado antes da semeadura. Outros avanços decorrentes desta mudança foram a melhoria na eficiência da pulverização, com a utilização de pulverizadores autopropelidos e aéreos, e o gerenciamento de suas passadas utilizando sistema global de navegação por satélite, com localização em tempo real, precisão e acurácia. Associado à evolução das máquinas e dos navegadores, buscou-se melhorar os sistemas de produção agrícola, com destaque para o manejo da palhada, a rotação de culturas e a genética.
Enquanto utilizávamos a agricultura mecânica, o solo era revolvido a cada cultivo a uma profundidade de 15cm a 25cm, o que promovia a descompactação nesta camada, ficando a preocupação com a compactação apenas na profundidade imediatamente abaixo, o chamado pé de arado, mitigado pelo uso de subsoladores até a profundidade de aproximadamente 30cm. Tanto no modelo mecânico quanto no químico, as máquinas trafegavam em toda a lavoura sem controle, o chamado tráfego aleatório. No Plantio Direto, sem o revolvimento e a subsolagem, acabou surgindo problemas de compactação da camada superficial, especialmente em solos argilosos, o que, em parte, deve-se ao peso elevado das máquinas e ao seu tráfego aleatório, sem considerar a umidade e a capacidade de suporte de carga do solo.
Neste período, o peso total dos tratores passou de 2.600kg para 12.000kg, aproximadamente, o que gerou o aumento do peso por eixo em mais de 4,5 vezes. Sem considerar a distribuição e a transferência de peso que ocorre durante a tração, passamos de 650kg para 4.000kg por eixo. É ainda mais dramático quando se observam colhedoras de grãos com mais de 20.000kg e adicionando a carga de 10.000kg, podem ultrapassar os 30.000kg. Isto tudo trouxe consequências na compactação do solo em profundidades maiores, ou seja, entre 40cm-60cm, o que é pouco estudado e até mesmo desconhecido, portanto desconsiderado. Para a redução da compactação superficial do solo foi aumentada a área de contato pneu-solo e adotados alguns avanços na tecnologia dos pneus. Quanto à utilização de rodados mais eficientes, ainda estamos na fase de transição dos pneus convencionais para os radiais com ganhos na eficiência de tração e diminuição da compactação. Entretanto, ainda podemos melhorar esses aspectos com a utilização de pneus de baixa pressão e alta flutuação, semiesteiras e esteiras, preferencialmente de borracha.
Em solos arenosos, o efeito da organização do tráfego nas lavouras pode não ser tão facilmente percebido devido à baixa suscetibilidade deste a compactação. Mesmo assim, o controle do trânsito dentro da lavoura melhora o gerenciamento das passadas com diminuição do consumo de combustível e do tempo necessário para a execução dos trabalhos. Há que se chamar a atenção para apossibilidade de existência de camadas argilosas subsuperficiais nestes tipos de solo que podem sofrer o mesmo efeito de compactação profunda que os argilosos devido ao peso e ao tráfego aleatório das máquinas, mesmo em condições de solo superficial mais adequadas para o trânsito de máquinas.
Várias tentativas têm sido feitas visando diminuir e controlar o tráfego na lavoura com a modificação, a configuração ou o gerenciamento das máquinas, tanto empíricas quando de pesquisa ou de desenvolvimento. Cita-se a construção de tratores agrícolas do tipo barra porta-ferramentas com bitola, podendo chegar a 10m, onde são colocados os kits para realizar diferentes atividades. Este teria maior dimensão lateral ao invés de longitudinal, como são fabricados atualmente. Entretanto, até o momento, a melhor alternativa visualizada continua sendo a utilização das máquinas como são com alguns ajustes para a sua adequação, sem necessidade de grandes investimentos para alterar a sua configuração.
O Controle de Tráfego de Máquinas (CTF) consiste em disciplinar e controlar as passadas das máquinas com a criação de caminhos específicos ou carreadores permanentes para a circulação das máquinas dentro da lavoura, utilizando um sistema global de navegação por satélite (GNSS). Neste caso, as máquinas trafegam nesses caminhos durante os cultivos ano após ano, mantendo a maior área possível isenta de tráfego. As áreas onde não há passagem de rodados, não sofrem o efeito da compactação do solo, o que aumenta a disponibilidade de água e facilita a semeadura e a penetração das raízes para a exploração de água e nutrientes em áreas mais profundas. Já nos caminhos onde as máquinas “pisoteiam” ocorre o inverso, há compactação do solo e isto aumenta a capacidade de tração e facilita o tráfego, sendo benéfico, principalmente com umidade de solo elevada. Com isso, a pulverização e a colheita podem ser feitas com o solo mais úmido, desde que as condições das plantas e ambientais estejam adequadas para a realização da atividade pretendida.
O custo de aquisição de equipamentos de navegação por satélite tem diminuído, a exemplo de outros eletrônicos e a popularização do seu uso, como no caso de aplicativos para transporte individual de pessoas, podem contribuir para o maior acesso a este método de trabalho em vários tipos de cultivo e tamanho de propriedade. Já é sabido que o CTF contribui para o gerenciamento geral da propriedade, organiza as atividades dentro da lavoura, melhora as características do solo, promovendo maior disponibilidade de água e de nutrientes, evita a compactação do solo e aumenta a produtividade. Devido a melhorar as condições de tráfego pela remoção parcial do off road das máquinas, exige menos potência total por hectare trabalhado, menor consumo de combustível e menos máquinas por propriedade. A logística utilizada para gerenciar o tráfego dentro da lavoura diminui a distância total percorrida pelas máquinas para efetuar o mesmo trabalho e evita o repasse, tornando verdadeira a frase “uma vez feito, está feito!”.
Para o caso específico da utilização do CTF em lavouras de grãos, há a necessidade de ajuste das máquinas agrícolas, especialmente da bitola e o alongamento do tubo de descarga das colhedoras. Devido à bitola das colhedoras normalmente ser de 3m, sugere-se esta como padrão, sendo medida de centro a centro dos rodados. Para os tratores, o eixo traseiro normalmente permite o ajuste e para o dianteiro há duas possíveis soluções: alguns fabricantes têm um eixo com bitola de 3m ou a colocação de alongadores dos eixos normais semelhantes a luvas com flange. Já para o alongamento do tubo de descarga, o ideal é que os fabricantes de máquinas façam o dimensionamento, com a indicação do material e as dimensões adequadas para as suas máquinas e o modelo de tráfego adotado.
Antes de iniciar o CTF deve-se avaliar as condições das lavouras e as características das máquinas de cada propriedade para definir a bitola e o arranjo das passadas, sempre múltiplo de três. Como exemplo, caso a maior barra do pulverizador aceitável para as condições do terreno seja de 30m, a semeadora e a colhedora de grãos devem ter 10m de largura de trabalho. Neste caso, a semeadora de grãos graúdos poderia ter as linhas espaçadas em 0,50m ou 0,45m e na posição onde passam os rodados 0,75m. Utilizando tratores com rodados de 0,60m de largura evita-se o “pisoteio” de linhas. Para o cultivo de grãos miúdos, até o momento semeia-se toda a área e “pisoteiam-se” os caminhos. Entretanto, estes poderiam ser mantidos com algum tipo de cobertura, sem que sejam semeados. Como exposto, uma passada do pulverizador cobre três passadas das outras máquinas, todas com bitola padronizada.
Como dito anteriormente: seria o controle de tráfego o próximo passo do Plantio Direto? A tendência mundial para a adoção dessa metodologia de trabalho no campo parece estar clara. As vantagens ainda estão pouco comprovadas pela pesquisa, a literatura ainda é incipiente e a sua adoção é pouco disseminada, especialmente nas Américas. Contudo, o seu conceito e a visualização da praticidade do uso após a sua implantação deverão transpor os obstáculos atualmente existentes, a exemplo dos vividos no período de implantação do sistema de cultivo Plantio Direto. Os grandes favorecidos com a adoção parecem ser os agricultores, os consumidores e o meio ambiente.
Francisco Faggion, UNB
Artigo publicado na edição 182 da Cultivar Máquinas, mês março, ano 2018.
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