Ainda sobre a produção de biológicos on farm
Por Solon C. Araujo, conselheiro da ANPII
Como saber se uma máquina agrícola tem qualidade? Esta pergunta pode ser respondida de diversas maneiras, mas sempre chegando a um tempo diferente de resposta. Se a pressa for pequena, pode-se optar por usar primeiro a máquina e ao longo do tempo concluir sobre sua qualidade. O problema envolvido nesta alternativa é que o processo é demorado e caro, pois se a máquina ao final do seu uso tiver mau desempenho, o produtor terá gasto muito dinheiro para chegar a esta conclusão. Para que outros produtores rurais possam aproveitar a sua má experiência, dependerá da comunicação entre eles, o que também não é tão fácil, formando então um conceito geral do modelo e da marca.
A segunda forma é confiar na informação técnica e no marketing publicitário das empresas e depender da confiabilidade da informação. Em geral, a maioria das empresas é criteriosa e fornece informações fidedignas ao mercado consumidor. No entanto há claros casos de superdimensionamento de valores. A terceira alternativa é a intervenção do poder público na informação técnica, oficializando um sistema de avaliação, homologação e certificação de máquinas, com base em um padrão mundial que proporcione a comparação entre os modelos.
Neste sentido, diversos foram os países que adotaram este sistema de avaliação de qualidade ao longo dos anos. Os Estados Unidos da América desde o início do século XX adotou um sistema de avaliação e informação dos compradores de tratores agrícolas. O Brasil, por meio do Decreto nº 47.473 de 1959, instituiu o Plano Nacional da Indústria de Tratores Agrícolas e previu que cada fabricante se obrigaria a enviar, para avaliação, um trator fabricado no País. Este sistema que funcionou satisfatoriamente até 1990 foi extinto pelo governo federal e após isto, nunca mais se retomou tal iniciativa.
Com muitas mudanças, ao longo do tempo o sistema mundial migrou das avaliações feitas, em cada país, por critérios próprios e com normas técnicas particulares, para a adoção de padrão mundial, primeiro ISO e mais recentemente, os Códigos OECD.
Estes códigos foram desenvolvidos a partir das metodologias já existentes pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD), uma organização econômica intergovernamental com 38 países membros, fundada em 1961 para estimular o progresso econômico e o comércio mundial. A sede da OECD fica em Paris e foi fundada por Estados Unidos, França, Reino Unido e Alemanha. O Brasil aderiu ao sistema em 06 de setembro de 2019.
Entre muitas ações da OECD, a que mais interessa ao ramo da mecanização agrícola foi a criação do Programa de Tratores Agrícolas. Neste programa, a OECD disponibiliza dez códigos, sendo o primeiro um texto geral explicativo, outro que trata da avaliação de qualidade e rendimento dos tratores e oito códigos referentes à segurança e ergonomia, especificamente das estruturas de proteção ao capotamento (ROPS) e queda de objetos (FOPS). Atualmente, são 30 Estações acreditadas pela OECD em todo mundo para avaliar os tratores e mais de 3.000 modelos de tratores certificados (dado de 2021).
O Código 2, referente à avaliação do desempenho dos tratores, é um protocolo que contém metodologia de avaliação do motor pela tomada de potência (TDP), potência hidráulica, consumo de combustível, manobrabilidade, centro de gravidade, frenagem, ruído externo e um ensaio de pista, para a medida da potência em tração e do consumo de combustível.
Os relatórios das avaliações de todos os tratores que passam pelas estações oficiais de ensaio, distribuídas pelo mundo, são disponibilizados em formato padrão e podem ser consultados por qualquer pessoa na página Web dos laboratórios e na base de dados da OECD.
Para realizar a comparação entre os modelos de grandes tratores oferecidos no mercado Brasileiro recorremos ao Laboratório de testes de tratores de Nebraska (Nebraska Tractor Test Laboratory - NTTL), nos EUA, que está ligado ao Instituto de Agricultura e Recursos Naturais, da Universidade de Nebraska, em Lincoln. No site desta instituição se pode realizar o download dos relatórios de ensaios, buscando por fabricante, marca, modelo e tipo de chassi. Tivemos o cuidado de verificar quais os tratores ensaiados que estão ou estiveram em oferta no mercado brasileiro entre 2022 e 2024, ordenando-os por potência máxima do motor e pelo tipo de chassi, isto é, tração dianteira auxiliar (TDA), esteiras individuais e 4x4 integral articulado. Em seguida organizamos duplas de comparação, pela igualdade ou semelhança do valor de potência máxima do motor.
Utilizamos dois parâmetros para inferir eficiência do motor e dois para a transmissão de potência. Para diferenciar os motores utilizamos a quantidade de potência produzida por cilindro (cv/cilindro) e a relação peso/potência (kgf/cv). Para demonstrar a eficiência na transmissão de potência às rodas adotamos o coeficiente dinâmico de tração (kN/kg) e a eficiência em tração (%) em pista de concreto.
Assim, aplicando estes critérios conseguimos emparelhar seis duplas para as comparações entre modelos similares. Confira o comparativo nas páginas a seguir:
José Fernando Schlosser,
Marcelo Silveira de Farias,
Gilvan Moisés Bertollo,
Henrique Eguilhor Rodrigues,
Agrotec Lab - Universidade Federal de Santa Maria - UFSM
Alexandre Russini,
Universidade Federal do Pampa - Unipampa
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