O agronegócio brasileiro na disputa pelo capital estrangeiro
Por Renato Campos, diretor da Motocana
Já está consagrado que o uso de inoculantes na soja é uma das tecnologias mais vencedoras da agricultura brasileira. A utilização de inoculantes em milho, trigo e outras gramíneas e na coinoculação da soja também está ganhando terreno. Tudo isto e mais os novos inoculantes para solubilização de nutrientes, mitigação dos efeitos de stress hídrico e para aumentar o crescimento das raízes, através da produção de hormônios, leva o Brasil ao mais elevado patamar na utilização de insumos biológicos na agricultura.
Se adicionarmos a isto tudo o uso cada vez maior de defensivos biológicos, sucesso no controle de diversas pragas, vamos aumentar em muito o espectro de utilização dos produtos biológicos.
E este aumento exponencial no uso destas tecnologias biológicas ocorreu por diversos fatores: a descoberta pela pesquisa dos microrganismos mais adequados, a evolução tecnológica e de gestão das empresas produtoras para atender qualitativa e quantitativamente à necessidade dos agricultores, na nossa dinâmica agricultura e da existência de uma legislação adequada, que assegure a qualidade necessária para uma elevada produtividade.
E aí apareceu um grande gargalo, ameaçando a eficácia da tecnologia do uso de biológicos na agricultura. A pseudo produção de insumos biológicos na própria fazenda, chamada de “on farm”, parece, à primeira vista, uma boa ideia. Ou melhor, é uma boa ideia. Somente que, para uma boa ideia dar certo, tem que ser bem aplicada, bem desenvolvida. E, infelizmente, não é isto que ocorreu, de modo geral, no Brasil.
Para que um microrganismo exerça seu papel, seja na agricultura ou em qualquer outra atividade humana, necessita que o produto que ele vai gerar, atenda a determinados parâmetros, para que se obtenham os efeitos desejados, no aumento da produtividade e da rentabilidade do agricultor, alvo de todos os insumos utilizados em qualquer processo produtivo. Não basta estar presente, diluído no microbioma com milhões de outros microrganismos. É necessária uma concentração adequada, uma condição fisiológica que o torne competitivo e resistente às adversidades muitas vezes encontradas nos solos, nas sementes, no clima.
Por tudo isto, a produção destes microrganismos para seu uso na agricultura, reúne uma série de técnicas de microbiologia industrial com um bom grau de sofisticação tecnológica, seja em equipamentos, seja em processos e, muito importante, em pessoal altamente qualificado.
Claro que há a possibilidade de se produzir inoculantes seja em uma grande capital, seja em uma fazenda, seja no meio da selva. Mas desde que se levem em conta os fatores necessários para produzir e não para fazer um arremedo de produção. O que se tem visto pelo Brasil afora são algumas poucas organizações agrícolas que instalaram pequenas, mas eficazes, fábricas para produzir inoculantes e uma gama de produtos biológicos para uso próprio. Não se sabe se pela quantidade produzida é uma atividade rentável ou não. Mas cada uma faz o que desejar com seu dinheiro. Do ponto de vista de qualidade, uma pequena fábrica, bem instalada e administrada, pode produzir inoculantes tão bons quanto qualquer outra empresa.
Mas o que muitas vezes se vê são instalações rústicas, sem nenhuma condição de higiene, sem esterilização dos meios de cultura, dos equipamentos, do ar injetado, muitas vezes com tudo feito a céu aberto, com “esterilização” feita por meio de água sanitária que desinfesta parcialmente, mas está a quilômetros de gerar um produto sequer razoável. Podemos afirmar, sem a menor sombra de dúvida, que é impossível produzir algo que preste nestas condições.
E circulam vídeos na internet “ensinando a produzir” desta forma.
O agricultor brasileiro já abandonou a enxada, o arado de aiveca puxado por bois e há gente querendo que nossa agricultura passe a usar produtos absolutamente inadequados, voltando para métodos primitivos.
A Embrapa tem analisado dezenas de amostras destes pseudo insumos, produzidos de forma inadequada. Os resultados têm sido os piores possíveis: zero das bactérias que se deseja reproduzir e presença de bactérias com potencial nocividade para homens e animais.
É hora de conscientização, seja dos próprios agricultores, dos órgãos de extensão, dos consultores, trabalhando para que não tenhamos um retrocesso em nossas práticas agrícolas.
Por Solon C. Araujo, conselheiro da ANPII
Artigo publicado na edição 298 da Revista Cultivar Grandes Culturas
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