Como lidar com as novas espécies de mosca branca no tomate

​Estudos apontam identificação das espécies New World 1 e New World 2 da praga no Brasil, causadora de inúmeros prejuízos na cultura

12.06.2020 | 20:59 (UTC -3)

Estudos recentes apontam a identificação das espécies de mosca branca New World 1 e New World 2  no Brasil. Com fortes indícios de que são nativos das Américas, esses insetos se encontram disseminados por diversas localidades dos estados de São Paulo e de Alagoas. Problema se soma ao biótipo B, causador de inúmeros prejuízos em cultivos comerciais, como lavouras de batata e de tomate. 

Um estudo recente demonstrou que há pelo menos três espécies de mosca branca no Brasil: Middle East-Asia Minor 1 - MEAM1 (nova classificação), conhecida também como biótipo B, New World 1 (NW1) e New Wolrd 2 (NW2). A espécie MEAM1 foi introduzida no Brasil na década de 90, possivelmente pelo intercâmbio de plantas ornamentais colonizadas pelo inseto e atualmente encontra-se disseminada em praticamente todas as regiões agrícolas do país, causando grandes perdas relacionadas ao inseto. Toda a pesquisa sobre mosca- branca feita no país sempre levou em consideração somente essa espécie.

As espécies NW1 e NW2, ao que tudo indica, são nativas das Américas. A NW 2 é frequentemente localizada em amendoim-bravo (Euphorbia heterophylla), planta daninha muito comum no campo e que geralmente se encontra infectada por begomovírus. Trata-se do primeiro registro de sua existência no Brasil. Também encontrada na Argentina, está presente em diversas localidades de São Paulo e também em Alagoas.

A espécie New World 1 foi encontrada, colonizando jiló (Solanum gilo) e corda-de-viola (Ipomoea sp.), somente nas regiões de Registro, Iguape e Ilha Comprida, em São Paulo. Estima-se que a espécie não desapareceu em virtude do relativo isolamento geográfico dessas localidades em relação a outras áreas agrícolas paulistas. É possível que New World 1 seja a espécie que existia no Brasil antes da entrada do Biótipo B. Porém, como não há material preservado dessa época, isto é só uma suposição. Em Alagoas, curiosamente esta espécie foi encontrada em plantas de tomateiro.

A descoberta destas duas espécies no Brasil causou surpresa, pois se acreditava que, depois da introdução no país do Biótipo B de mosca branca (MEAM1), as espécies previamente existentes teriam sido substituídas ou até mesmo extintas.  Apesar das espécies NW1 e NW2 serem encontradas em menor  de indivíduos comparados a espécie MEAM1, vários trabalhos estão em andamento para estudar o seu papel como transmissoras de vírus, uma vez que estas espécies são encontradas com maior freqüência em plantas daninhas e poderiam transmitir os vírus de plantas daninhas para plantas cultivadas, contribuindo na epidemiologia das doenças transmitidas por mosca branca.  As plantas daninhas são um importante reservatório de vírus na natureza e muitas vezes atuam como fonte de inoculo dos vírus encontrados em plantas cultivadas. 

Figura 1: Diferentes fases do ciclo de vida da Bemisia tabaci: adulto (A), ovo (B) a ninfa (C e D). Observe um invólucro translúcido de onde emergiu o adulto (D).
Figura 1: Diferentes fases do ciclo de vida da Bemisia tabaci: adulto (A), ovo (B) a ninfa (C e D). Observe um invólucro translúcido de onde emergiu o adulto (D).

Como manejar

Infelizmente pelo ciclo biológico rápido da mosca branca e sua alta capacidade reprodutiva, o seu controle fica bastante comprometido na presença de grandes populações do inseto. O monitoramento constante da população e controle logo após sua chegada na área de plantio, utilizando inseticidas recomendados e registrados que atuem em todas as fases do inseto podem garantir o sucesso do controle. Além disso deve-se alternar inseticidas de grupos químicos diferentes, diminuindo o risco de surgimento de populações do inseto resistentes. Evitar plantios escalonados da cultura (novos plantios ao lado de plantio mais velhos), eliminar plantas daninhas dentro e em volta da cultura, hospedeiras de moscas-brancas e fontes de vírus, nunca abandonar a cultura no final do ciclo e preferencialmente destruir todo o resto após a colheita final, são exemplos de medidas a serem adotadas em um programa de manejo contra a mosca branca e para combater os vírus transmitidos pelo inseto.  

É importante monitorar as espécies de mosca branca nas diferentes regiões do Brasil, pois a Europa tem grandes problemas relacionados a espécie de mosca branca conhecida como MED, que tem por característica adquirir rapidamente resistência aos principais inseticidas utilizados na agricultura. Esta espécie ainda não foi relatada no Brasil e espera-se que nem venha a ser encontrada em solo brasileiro, pois poderia ocasionar ainda maiores perdas relacionadas a este inseto no país. 

Distribuição e ataque 

Bemisia tabaci (Hemiptera: Aleyrodidae) também conhecida como mosca-branca, é considerada hoje uma das principais pragas da agricultura. Nestes últimos anos tem sido observado grande aumento populacional deste inseto em diferentes sistemas agrícolas. Este fato tem deixado os produtores preocupados não somente devido ao potencial de dano dessa praga, mas principalmente à dificuldade e ao custo elevado de controle. O aumento das populações de moscas-brancas aparenta estar relacionado à presença de culturas hospedeiras durante todo o ano e também ao uso indiscriminado de inseticidas não seletivos nos sistemas de produção.

No Brasil, seus principais alvos são o tomate, o feijão, o melão e a batata. Além dessas culturas, também a soja, a abóbora, a melancia, hortaliças diversas e plantas ornamentais têm sido afetadas. Na maioria dessas culturas, a alta infestação de mosca-branca, pode acarretar danos diretos e indiretos. Os danos diretos às plantas ocorrem devido à sua alimentação (sucção de seiva e injeção de toxinas), redução do vigor das plantas e indução de anomalias fisiológicas, como amadurecimento irregular dos frutos e prateamento de folhas de aboboreira. A mosca branca também deposita sobre folhas grande quantidade de secreção açucarada, o que prejudica os processos fisiológicos da planta e favorece a ocorrência de fumagina. 

No entanto, sua ação insidiosa se deve ao fato da mosca branca ser capaz de transmitir mais de 200 espécies de vírus, grande parte com significativo impacto econômico na produção de hortaliças. Esses vírus são pertencentes a diferentes gêneros como os Begomovirus (família Geminiviridae), Crinivirus (Closteroviridae), Carlavirus (Betaflexiviridae) e Ipomovirus (Potyviridae). Os begomovírus e os crinivirus são considerados atualmente os mais importantes limitadores da produção de tomate, além de sua incidência ter sido verificada também em culturas como pimentão e batata. 

Moscas-brancas são insetos sugadores que se alimentam do floema das plantas, tanto na fase imatura (ninfas) como na fase adulta. Estes insetos medem cerca de 1 milímetro a 2 milímetros, os adultos têm o dorso amarelo pálido e asas brancas. Embora denominado de mosca-branca, não é uma mosca, ou seja, não se trata de um díptero. Como suas asas cobrem quase todo o corpo, o branco se torna a cor predominante, daí a denominação que lhe foi atribuída. 

A exemplo de outros insetos, seu ciclo de vida compreende quatro fases (ovo, ninfa, pupa e adulto) e sofre influência das condições climáticas e ambientais, principalmente da temperatura, da umidade relativa do ar e da maior ou menor abundância e suscetibilidade das plantas hospedeiras. Sob condições que lhe são favoráveis, com temperatura em torno de 28° C e umidade relativa do ar de 70%, a espécie MEAM1, pode ter de 11 a 15 gerações por ano (cada fêmea colocando de 100 a 300 ovos durante o seu ciclo de vida). 

A mosca branca é encontrada nos trópicos e subtrópicos de todos os continentes. Acredita-se que tenha surgido na Ásia e se espalhado pela Europa, África e Américas por ação do homem, mediante a disseminação de material vegetal contaminado. B. tabaci é um complexo de diferentes espécies, morfologicamente indistinguíveis. Há pelo menos 29 espécies descritas no mundo. Para diferenciá-las são utilizadas técnicas moleculares, como o sequenciamento do gene mitocondrial do cytochroma oxidase I (mtCOI) do inseto e comparação com sequencias de mtCOI conhecidas.


Kelly Cristina Gonçales Rocha, Julio Massaharu Marubayashi, Valdir A. Yuki, Marcelo Agenor Pavan, Renate Krause Sakate, Unesp/IAC


Artigo publicado na edição 80 da Cultivar Hortaliças e Frutas

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