Manejo do percevejinho Lygaeidae em soja
Inseto demanda investigação para identificar potencial de danos na cultura e estratégias corretas de manejo
Apostar no rebroto de arroz irrigado para produzir grãos novamente na mesma planta e alcançar uma segunda safra surge como alternativa para maximizar rendimentos e diminuir a ociosidade de máquinas agrícolas.
Como alternativa de obtenção de maiores lucros e redução da ociosidade das colhedoras arrozeiras, alguns produtores adotam o sistema de colheita do rebroto do arroz irrigado nas áreas sistematizadas. Trata-se de realizar duas colheitas de uma mesma planta, ou seja, após realizar a colheita principal, são aplicadas algumas técnicas de manejo bastante simples que possibilitam produzir grãos novamente na mesma planta, acrescentando uma segunda safra à lavoura, embora com produtividade inferior à colheita principal. As técnicas de manejo para colheita do rebroto do arroz irrigado começam no momento da semeadura da colheita principal, que deve ser realizada precocemente para que no momento do desenvolvimento do rebroto ainda existam condições de clima favoráveis, como temperaturas na faixa de 25°C e luminosidade adequada. Para isso, na região da Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul, por exemplo, recomenda-se que a semeadura seja realizada até o final de setembro.
Um dos aspectos fundamentais refere-se ao ponto de colheita na primeira safra ou colheita principal. Recomenda-se que a colheita seja realizada com umidade do grão entre 22% e 25% para evitar que as plantas parem sua atividade metabólica e não tenham mais condições de se recuperar e produzir novamente. Também é indicado que a altura de corte da plataforma da colhedora seja imediatamente abaixo das panículas, para a manutenção de boa parte da área foliar das plantas ainda em condições fisiológicas e fotossinteticamente ativas para o desenvolvimento dos grãos da segunda safra.
Outro ponto crucial diz respeito ao teor de umidade do solo no momento da colheita. É favorável que a colheita principal seja realizada com o solo o mais seco possível, o que reduz os danos que os pneus ocasionam na estrutura do solo e às plantas. Entretanto, sabe-se da dificuldade em drenar a umidade para melhorar a consistência do solo completamente no momento da colheita devido às chuvas e a declividade zero em áreas sistematizadas ou a ineficiência dos sistemas de irrigação e drenagem utilizados em algumas áreas e aos possíveis danos causados à maquina quando as taipas encontram-se demasiadamente secas. Quando o cultivo é realizado em áreas sistematizadas o manejo da agua após a colheita é mais fácil, pois é possível encher os quadros de água com facilidade e assim obter a lamina de irrigação necessária para o cultivo do rebroto do arroz.
Diante das dificuldades em relação à umidade do solo, a alternativa para reduzir os danos nas plantas é evitar o tráfego de tratores dentro dos talhões, o que tende a proporcionar maior índice de rebrote da lavoura. De acordo com Bisognin et al. (2015), uma forma de reduzir o tráfego dos tratores dentro dos talhões é a utilização do circuito “vai e vem” (alternado) e o planejamento do momento das descargas dos grãos das colhedoras. Neste sistema, é possível determinar um ponto fixo para descarga dos grãos, sendo realizado sempre nas extremidades dos talhões, próximo a estradas, beiras de cercas ou canais de irrigação, eliminando os rastros ocasionados pelos tratores no meio do talhão onde somente a colhedora causará danos na cultura.
O cultivo do rebroto do arroz irrigado pode ser uma atividade lucrativa por necessitar de baixo investimento e ser desenvolvida em curto espaço de tempo, podendo produzir de 1000kg/ha a 1750kg/ha em um período de 70 dias, dependendo do clima e do solo. Experimentos realizados em Santa Catarina registraram uma produtividade de 2750kg/ha, sendo baixa em relação à colheita principal, porém devido ao baixo investimento torna-se rentável (Planeta Arroz, 2016).
A granja Bock no município de Alegrete, no Rio Grande do Sul, por exemplo, adota esta técnica há quatro anos em uma área sistematizada de aproximadamente 50 hectares. Na Safra 2014/15, a propriedade cultivou a variedade BRS IRGA 409, realizando uma aplicação de ureia a cinco dias da colheita principal na dose de 50 kg/ha. A produtividade de arroz irrigado do rebroto foi de 1000 kg/ ha, com 59% de grãos inteiros. O custo de produção médio calculado pelo agricultor foi de 100 kg/ ha de arroz em casca, divididos entre ureia, combustíveis e manutenções preventivas das colhedoras, o que garantiu uma margem de lucro de 90%. Segundo o produtor, na colheita principal a margem de lucro não ultrapassa os 35%. No tocante a redução da ociosidade, cabe ressaltar que o produtor realiza a colheita principal nesta área da propriedade em cerca de 90 horas. Com a colheita do rebroto do arroz, o emprego da colhedora aumentou para 150 horas.
Ao realizar um comparativo das duas últimas safras de rebroto na propriedade consegue-se visualizar uma baixa significativa na produção devido a safra 2015/16, ter sido um ano climaticamente atípico, com grandes perdas nas lavouras arrozeiras no estado do Rio Grande do Sul. Na área analisada nesta safra ocorreu excesso de precipitação pluviométrica. A colheita principal teve uma grande baixa e consequentemente a colheita do rebroto também, conforme mostra a figura 1.
Na região da Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul, a técnica de colher o rebroto do arroz irrigado ainda é algo inovador. Trata-se de uma iniciativa econômica que pode alavancar a produção neste período, pois outras atividades não teriam a mesma lucratividade que o rebroto. Fica evidenciado, ainda, que o cultivo do rebroto do arroz irrigado é uma excelente forma de reduzir a ociosidade das máquinas utilizadas na lavoura arrozeira, que normalmente são dimensionadas para grandes picos de trabalho ao longo da safra e permanecem inativas durante o restante do ano. Um dos grandes entraves à maior aceitação da técnica refere-se às áreas que são arrendadas, onde normalmente após a colheita implanta-se uma pastagem cultivada, utilizada pelo proprietário da área no período da entressafra. Nesse caso cabe a locador e locatário entrarem em acordo, sempre com vistas ao aumento do rendimento técnico e financeiro da lavoura arrozeira.
Com uma produção anual entre 11 e 13 milhões de toneladas de arroz nas últimas safras, o Brasil participa com 79,3 % da produção do Mercosul, seguido pelo Uruguai, Argentina e, por último, o Paraguai, que já representa mais de 2,5 % do total produzido pelo bloco. O Rio Grande do Sul se destaca como o maior produtor nacional, sendo responsável por mais de 61% do total produzido no Brasil, seguido por Santa Catarina com produção de 8% a 9 %. Esse grande volume produzido nos dois estados do Sul, totalizando aproximadamente 70 %, é considerado estabilizador para o mercado brasileiro e garante o suprimento desse cereal à população brasileira (SOSBAI, 2010).
A Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul é uma grande produtora de arroz irrigado com aproximadamente 333.680 hectares cultivados, com uma produtividade média de 7827kg/ha, sendo uma das mais altas do estado. O arroz é uma cultura anual, pode ser cultivado em sistema com nivelamento da superfície (Sistematizado) que necessita de nivelamento do solo, plantio, tratos culturais e colheita; ou em sistema com superfície do solo desnivelada (em taipa), que demanda um grande número de operações agrícolas: preparo primário e secundário do solo, nivelamento das curvas de nível, entaipamento do solo, plantio, tratos culturais, colheita. No entanto, independentemente do sistema de cultivo, a colheita do arroz irrigado pouco se diferencia.
Sabe-se que os custos de aquisição das máquinas agrícolas são elevados, com juros de pelo menos 8,5% ao ano, o que se torna um alto investimento que deve ser pago em prazos de 8 anos a 10 anos. Entretanto, nem todas as máquinas são utilizadas durante todo o ano. As colhedoras, por exemplo, operam geralmente nos meses de fevereiro a abril, com ciclo médio de colheita de um mês, ficando ociosas no restante do tempo. Este fato é potencializado quando não há um planejamento da mecanização, onde o número de máquinas é superior ao necessário.
Rômulo Bock, Bruno Pilecco Bisognin, Vilnei de Oliveira Dias Dias, Lamap-Unipampa Alegrete
Artigo publicado na edição 211 da Cultivar Grandes Culturas.
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