
O clorantraniliprole é um inseticida sistêmico e de contato pertencente à classe das diamidas antranílicas, representando um mecanismo de ação que atua especificamente nos receptores de rianodina dos insetos. Este princípio ativo oferece controle de lepidópteros e alguns coleópteros, apresentando alta seletividade para artrópodes e baixa toxicidade para mamíferos.
O clorantraniliprole foi desenvolvido pela DuPont e lançado comercialmente em 2007 sob o nome comercial Rynaxypyr. Representa a primeira molécula da classe das diamidas antranílicas, introduzindo um novo mecanismo de ação no mercado de inseticidas.
Nome comum (ISO): Clorantraniliprole (Chlorantraniliprole)
Nome químico oficial: 3-bromo-N-[4-cloro-2-metil-6-[(metilamino)carbonil]fenil]-1-(3-cloropiridin-2-il)-1H-pirazol-5-carboxamida
Fórmula química bruta: C₁₈H₁₄BrCl₂N₅O₂
Número CAS: 500008-45-7
Classe química: diamidas antranílicas
Grupo IRAC: Grupo 28 - moduladores dos receptores de rianodina
Modo de ação
O clorantraniliprole atua como agonista seletivo dos receptores de rianodina (RyR) presentes nas células musculares dos insetos. Estes receptores funcionam como canais de cálcio intracelulares responsáveis pela regulação da liberação de Ca²⁺ do retículo sarcoplasmático.
A ligação do princípio ativo aos receptores de rianodina provoca a abertura descontrolada destes canais, resultando na liberação excessiva de cálcio intracelular. Este desequilíbrio de cálcio compromete as contrações musculares normais, levando à paralisia muscular e eventual morte do inseto.
Sintomas característicos: os insetos expostos ao clorantraniliprole apresentam inicialmente redução da alimentação, seguida por letargia, paralisia muscular progressiva, regurgitação e contrações musculares irregulares. Os lepidópteros afetados demonstram movimentos descoordenados das mandíbulas e cessação da alimentação dentro das primeiras horas após a exposição.
Tempo para manifestação dos sintomas: os primeiros sintomas aparecem entre 1-4 horas após a exposição, com cessação completa da alimentação ocorrendo tipicamente dentro de 2-4 horas. A mortalidade geralmente ocorre entre 24-72 horas, dependendo da espécie, estágio de desenvolvimento e dose aplicada.
Espécies controladas com eficiência:
- Lepidópteros: Spodoptera frugiperda (lagarta-do-cartucho), Helicoverpa armigera (lagarta-da-maçã), Chrysodeixis includens (lagarta-falsa-medideira), Anticarsia gemmatalis (lagarta-da-soja), Heliothis virescens (lagarta-da-maçã-do-algodoeiro)
- Coleópteros: Diabrotica speciosa (vaquinha), Phyllophaga cuyabana (coró)
- Dípteros: algumas espécies de moscas minadoras
- Thysanoptera: certas espécies de tripes
Espécies parcialmente controladas:
- Lepidópteros de maior idade (4º e 5º ínstares)
- Plutella xylostella em populações com histórico de exposição
- Algumas espécies de Spodoptera spp. em estágios avançados de desenvolvimento
Espécies tolerantes ou resistentes:
- Hemípteros (percevejos, pulgões, cigarrinhas)
- Ácaros
- Lepidópteros com resistência desenvolvida aos receptores de rianodina
- Insetos com metabolismo detoxificante elevado
Recomendações técnicas de aplicação
Dose recomendada:
- Padrão: 10-20 g i.a./ha para a maioria das culturas
- Situações de alta pressão: 15-30 g i.a./ha
- Aplicação foliar: 5-15 mL/100L de calda
- Tratamento de sementes: 0,25-0,75 mL/kg de sementes
Momento ideal da aplicação: a aplicação deve ser realizada preferencialmente no início da infestação, quando as lagartas estão em estágios iniciais de desenvolvimento (1º a 3º ínstares). Para culturas como soja e milho, recomenda-se o monitoramento constante e aplicação quando atingir o nível de dano econômico estabelecido para cada praga.
Condições climáticas ideais:
- Temperatura: 15-30°C
- Umidade relativa: superior a 60%
- Velocidade do vento: menor que 10 km/h
- Ausência de chuva por pelo menos 2 horas após a aplicação
- Evitar aplicações durante as horas mais quentes do dia (10h-16h)
Compatibilidade e misturas
O clorantraniliprole apresenta boa compatibilidade física e química com a maioria dos fungicidas, herbicidas e outros inseticidas comumente utilizados. É compatível com adjuvantes como espalhantes adesivos e óleos minerais em concentrações recomendadas.
Misturas comuns e suas finalidades:
- Com fungicidas triazóis ou estrobilurinas para controle simultâneo de pragas e doenças
- Com herbicidas de pós-emergência em aplicações sequenciais
- Com inseticidas de diferentes grupos (organofosforados, piretroides) para ampliação do espectro e manejo de resistência
- Com fertilizantes foliares para otimização de aplicações
Misturas a serem evitadas:
- Produtos com pH extremamente alcalino (>9,0)
- Formulações com alta concentração de cobre
- Caldas com alta concentração salina
- Mistura com reguladores de crescimento sem testes prévios de compatibilidade
Resistência e manejo de resistência
Foram reportados casos de resistência em populações de Plutella xylostella (traça-das-crucíferas) em diferentes regiões do mundo, incluindo Filipinas, Tailândia e alguns estados americanos.
Populações de Tuta absoluta (traça-do-tomateiro) também apresentaram redução de sensibilidade em algumas regiões da América do Sul e Europa.
Estudos recentes indicam possível desenvolvimento de resistência em populações de Spodoptera frugiperda com histórico de pressão de seleção intensa.
Recomendações de rotação de mecanismos de ação:
- Alternar com inseticidas dos grupos IRAC 1A/1B (organofosforados/carbamatos)
- Utilizar produtos do grupo 3A (piretroides) em rotação
- Incorporar inseticidas do grupo 5 (espinosinas) no programa
- Considerar produtos do grupo 22A (oxadiazinas) como alternativa
Estratégias práticas para manejo da resistência:
- Implementar o conceito de "janela de aplicação" respeitando intervalos mínimos de 21 dias entre aplicações
- Utilizar doses plenas recomendadas, evitando subdosagens
- Realizar monitoramento constante das populações de pragas
- Adotar práticas de controle integrado incluindo controle biológico
- Preservar áreas de refúgio quando possível
- Implementar rotação de culturas para quebrar o ciclo das pragas
Eficácia agronômica
Condições que afetam a eficácia:
- Chuva: precipitações intensas dentro de 2-4 horas após a aplicação podem reduzir a eficácia devido à lavagem do produto antes da absorção completa
- Seca: condições de estresse hídrico severo podem limitar a absorção sistêmica, reduzindo a eficácia principalmente em aplicações via solo
- Temperatura: temperaturas elevadas (>35°C) podem acelerar a degradação do produto e reduzir sua persistência
- Umidade: baixa umidade relativa (<40%) pode comprometer a absorção foliar
Dentre as vantagens do clorantraniliprole, pode-se citar: excelente seletividade para insetos benéficos; longo período residual (7-14 dias); ação sistêmica e translaminar; baixa toxicidade para mamíferos; eficácia em baixas doses; e controle de pragas resistentes a outros grupos químicos.
Por outro lado, há limitações: espectro limitado principalmente a lepidópteros; custo maior se comparado a inseticidas convencionais; risco de desenvolvimento de resistência com uso intensivo; menor eficácia contra insetos sugadores.
Posicionamento estratégico em sistemas agrícolas:
- Soja: utilizar preferencialmente para controle de lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis) e lagarta-falsa-medideira (Chrysodeixis includens) no período reprodutivo, quando a proteção das vagens é crítica. Posicionar como ferramenta de rotação com outros grupos químicos.
- Milho: excelente opção para controle de lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda) em aplicações foliares ou tratamento de sementes. Particularmente eficaz em sistemas de produção onde há pressão de múltiplas espécies de lepidópteros.
- Algodão: ferramenta estratégica para controle de complexo de lagartas, especialmente Helicoverpa armigera e Heliothis virescens. Recomendado para aplicações durante o período de formação de botões florais e maçãs.
- Cana-de-açúcar: utilização específica para controle de brocas, principalmente Diatraea saccharalis, em programas integrados de manejo. Aplicação via pulverização aérea ou terrestre durante períodos críticos de infestação.