Acefato

28.05.2025 | 08:34 (UTC -3)

O acefato representa um dos organofosforados mais amplamente utilizados na agricultura brasileira, constituindo uma ferramenta fundamental no manejo integrado de pragas em culturas de importância econômica. Sua ação sistêmica e amplo espectro de controle o posicionam como produto estratégico para o controle de complexos entomológicos diversos, desde percevejos sugadores até lagartas desfolhadoras.

Nome químico oficial: O-(S)-1-acetoxyethyl O,O-dimethyl phosphorothioate ou N-acetil-O-metil-fosforamidotioato de O,S-dimetila

Número CAS: 30560-19-1

Fórmula química: C₄H₁₀NO₃PS (massa molecular: 183,16 g/mol)

Sinônimos comuns: conhecido apenas como "acefato" no meio técnico agrícola.

Classe química: organofosforado sistêmico, pertencente ao grupo dos fosforamidatos.

Ano de lançamento e histórico: o acefato foi desenvolvido e registrado como inseticida na década de 1970, estabelecendo-se rapidamente como uma ferramenta importante no manejo integrado de pragas. Sua formulação como pó solúvel permitiu ampla adoção em culturas de importância econômica, sendo considerado pelos agrônomos como um produto "coringa" devido ao seu amplo espectro de ação.

Modo de ação

Mecanismo bioquímico específico: o acefato atua como inibidor da acetilcolinesterase (AChE), enzima essencial para o funcionamento do sistema nervoso dos insetos. Uma vez absorvido, o princípio ativo se liga irreversivelmente ao sítio ativo da enzima, impedindo a hidrólise da acetilcolina nos terminais sinápticos. Isso resulta no acúmulo de acetilcolina nas sinapses colinérgicas, causando hiperexcitação do sistema nervoso.

Grupo IRAC: pertence ao Grupo 1B do IRAC (Insecticide Resistance Action Committee) - Inibidores da acetilcolinesterase (organofosforados).

Sintomas característicos da ação: os insetos afetados apresentam inicialmente hiperexcitação, seguida de tremores, paralisia progressiva e morte. Os sintomas incluem movimentos descoordenados, contrações musculares involuntárias e perda da capacidade de alimentação.

Tempo para manifestação dos sintomas: os primeiros sintomas aparecem entre 2 a 6 horas após a exposição, com a morte dos insetos ocorrendo tipicamente entre 12 a 48 horas, dependendo da dose e da espécie-alvo.

Espectro de controle

Espécies geralmente controladas com eficiência:

  • Lepidópteros: Spodoptera frugiperda (lagarta-do-cartucho), Helicoverpa armigera (lagarta-da-maçã), Chrysodeixis includens (lagarta-falsa-medideira)
  • Hemípteros: Nezara viridula (percevejo-verde), Euschistus heros (percevejo-marrom), Piezodorus guildinii (percevejo-pequeno)
  • Coleópteros: Diabrotica speciosa (vaquinha), Cerotoma tingomarianus (vaquinha-do-feijoeiro)
  • Ácaros: Tetranychus urticae (ácaro-rajado), Polyphagotarsonemus latus (ácaro-branco)

Espécies parcialmente controladas:

  • Aphis gossypii (pulgão-do-algodoeiro) - eficácia moderada
  • Bemisia tabaci (mosca-branca) - controle variável conforme população
  • Frankliniella occidentalis (tripes) - eficácia dependente do estágio de desenvolvimento

Espécies tolerantes ou resistentes:

  • Populações de percevejos com histórico de exposição contínua a organofosforados
  • Algumas linhagens de Spodoptera frugiperda em regiões de uso intensivo
  • Populações de ácaro-rajado (T. urticae) com resistência cruzada

Recomendações técnicas de aplicação

Dose recomendada:

  • Intervalo padrão: 500 a 1.000 g de produto comercial por hectare (375 a 750 g i.a./ha)
  • Situações especiais: em infestações severas ou espécies menos sensíveis, pode-se utilizar até 1.200 g p.c./ha, respeitando sempre o limite máximo registrado para cada cultura

Momento ideal da aplicação:

  • Aplicar no início da infestação, quando as pragas estão nos primeiros instares
  • Para percevejos: desde o aparecimento das primeiras ninfas até adultos jovens
  • Para lagartas: preferencialmente nos primeiros e segundos instares
  • Evitar aplicações em estágios avançados de desenvolvimento das pragas

Condições climáticas ideais:

  • Temperatura: entre 20°C e 30°C
  • Umidade relativa: superior a 55%
  • Vento: velocidade máxima de 10 km/h
  • Horário: preferência para aplicações no início da manhã (6h às 10h) ou final da tarde (16h às 18h)
  • Evitar aplicações sob condições de estresse hídrico severo das plantas

Compatibilidade e misturas

O acefato apresenta boa compatibilidade física e química com a maioria dos fungicidas e herbicidas comumente utilizados. É compatível com formulações de glifosato, 2,4-D, atrazina e triazóis.

Misturas comuns:

  • Acefato + lambda-cialotrina: ampliação do espectro e redução da dose de aplicação
  • Acefato + imidacloprido: controle de complexo de pragas sugadoras
  • Acefato + tebuconazol: controle simultâneo de pragas e doenças fúngicas
  • Acefato + espalhante adesivo: melhoria da aderência e cobertura

Misturas a serem evitadas:

  • Produtos fortemente alcalinos (pH > 8,5)
  • Formulações contendo cobre em alta concentração
  • Óleos minerais pesados (risco de fitotoxidez)

Resistência e manejo de resistência

Há relatos de resistência em populações de Nezara viridula e Euschistus heros em regiões do Cerrado brasileiro, especialmente onde houve uso contínuo de organofosforados por múltiplas safras consecutivas. Casos de resistência cruzada com carbamatos também foram documentados.

Recomendações de rotação de mecanismos de ação:

  • Alternar com inseticidas do Grupo 3A (piretroides)
  • Utilizar produtos do Grupo 4A (neonicotinóides) em rotação
  • Incluir inseticidas biológicos (Grupos 11A, 11B) no programa de rotação
  • Implementar janelas de refúgio utilizando outras táticas de controle

Estratégias práticas para manejo da resistência:

  • Limitar o uso a no máximo duas aplicações por safra
  • Respeitar intervalo mínimo de 21 dias entre aplicações
  • Monitorar constantemente a eficácia através de bioensaios
  • Implementar manejo integrado com controle biológico
  • Utilizar doses recomendadas sem subdosagem

Eficácia agronômica

Condições que afetam a eficácia:

  • Chuva: precipitações nas primeiras 4 horas reduzem significativamente a eficácia
  • Seca: condições de estresse hídrico podem reduzir a absorção sistêmica
  • Temperatura: acima de 35°C podem causar volatilização e reduzir eficácia
  • Umidade: baixa umidade relativa (<40%) compromete a atividade do produto

Dentre as vantagens do acefato, são usualmente citadas: amplo espectro de ação; ação sistêmica proporcionando controle duradouro; boa seletividade quando usado adequadamente; custo-benefício favorável; facilidade de aplicação e mistura.

Por outro lado, há limitações como: potencial de desenvolvimento de resistência; sua toxicidade para mamíferos requer cuidados especiais; período de carência relativamente longo; sensibilidade a condições climáticas adversas.

Posicionamento estratégico em sistemas agrícolas

Soja: posicionar preferencialmente no controle de percevejos a partir do estágio R1-R2, quando a cultura é mais sensível ao ataque. Fundamental na estratégia de manejo de Euschistus heros e Nezara viridula.

Milho: utilizar no controle de Spodoptera frugiperda em estágios iniciais da cultura (V4-V8), sempre em rotação com outros mecanismos de ação para preservar a eficácia.

Algodão: ferramenta para manejo de complexo de pragas, especialmente no controle de Aphis gossypii e lagartas desfolhadoras durante o desenvolvimento vegetativo.

Cana-de-açúcar: aplicação direcionada para controle de Migdolus fryanus (broca-da-cana) e outras pragas de solo, aproveitando a ação sistêmica do produto.

Feijão: posicionamento estratégico no controle de vaquinhas (Diabrotica spp.) e percevejos, especialmente em sistemas de cultivo adensado onde o controle biológico natural é limitado.

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