Utilização de silício aumenta produtividade comercial da batata

Pesquisas realizadas na Faculdade de Ciências Agronômicas - UNESP, campus de Botucatu, mostraram que o fornecimento de silício à cultura da batata promoveu redução de 63,2% no acamamento das plantas e aumentou a pro

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

A batata (Solanum tuberosum L.) é a quarta cultura na ordem de importância mundial, sendo cultivada em mais de 125 países e consumida por mais de um bilhão de pessoas. Sua eficiência produtiva garante um maior aproveitamento de áreas destinadas à produção de alimentos, característica que mostra a tendência do crescimento da cultura num cenário mundial de constante crescimento populacional.

Uma tecnologia promissora para a cultura da batata é a utilização de adubação silicatada. Pesquisas realizadas na Faculdade de Ciências Agronômicas - UNESP, campus de Botucatu, mostraram que o fornecimento de silício a cultura da batata, promoveu redução de 63,2% no acamamento das plantas e aumentou a produção total em 14,3% e a produção de tubérculos comerciais em 15,8%, conforme tabela.

Cultivo da batata - Acamamento (%) - Produção de batata (g planta-1) - Tubérculos comerciais (g planta-1)

Sem Si - 61 - 828 - 778

Com Si - 39 - 946 - 901

A adubação silicatada não é amplamente utilizada na agricultura brasileira, contrariamente ao que se nota em outros países, como no Japão. Isto, possivelmente, deve-se aos poucos dados experimentais obtidos no Brasil, em comparação a outros países.

O Si é um elemento que se concentra na epiderme das folhas formando uma barreira física à invasão de fungos nas células, dificultando também o ataque de insetos sugadores e mastigadores e diminuindo os danos causados às plantas. Em condições de ataque de pragas, a planta com Si terá seu tecido “mais duro” para o inseto mastigar ou sugar, preferindo esse uma planta com baixo teor do elemento. O mesmo raciocínio pode se usado para as doenças.

Outro benefício proporcionado à planta é a maior resistência ao acamamento, como visto na tabela. A melhoria da arquitetura da planta na cultura da batata pode possibilitar o adensamento promovendo incrementos na produtividade, como também pode evitar que as hastes toquem o solo e aumentar a aeração na cultura, diminuindo o potencial de ocorrência de doenças. Assim, o fornecimento de Si à cultura da batata pode reduzir o uso de defensivos agrícolas, proporcionando a obtenção de produto de maior qualidade, além de gerar menor impacto ambiental nos sistemas de produção da batata.

O efeito da proteção mecânica do Si nas plantas é atribuído, principalmente, a sua deposição/acúmulo na parede celular na forma de sílica amorfa. Outra hipótese relacionada com o controle de doenças seria a formação de fenóis favorecida pela absorção de Si. Compostos fenólicos e Si acumulam-se nos sítios de infecção, cuja causa ainda não está esclarecida. O Si pode formar complexos com os compostos fenólicos e elevar a síntese e mobilidade destes na planta. Uma rápida deposição de compostos fenólicos ou lignina nos sítios de infecção é um mecanismo de defesa contra a infecção por patógenos, e a presença de Si solúvel facilita este mecanismo de resistência.

Pesquisa estudando a aplicação foliar de Si na cultura da batata, cultivar ‘Atlantic’, demonstraram que tal prática, quando utilizada semanalmente, reduziu em até 50% a severidade da requeima (Phytophora infestans), em relação às plantas que não receberam Si, sendo essa doença considerada como uma das principais da cultura.

O acúmulo de sílica na folha também provoca redução na transpiração e faz com que a exigência de água pelas plantas seja menor, ou seja, a planta fica mais tolerante a veranicos e períodos de baixa disponibilidade hídrica, mantendo o processo de crescimento por um período maior, em relação às plantas que não receberam o elemento. Na cultura da batata tal efeito é importante, já que essa cultura é exigente em água e mais sensível ao estresse hídrico, comparada a outras culturas, pois possui um sistema radicular superficial e seu cultivo é freqüentemente realizado em solos de baixa a média capacidade de retenção de água. Os benefícios do Si são observados com maior freqüência em solos pobres no elemento e em anos com adversidades, como veranicos ou períodos secos prolongados. Sob tais condições, a planta bem nutrida com silício tolerará por um período maior a falta de água, pois usará melhor água absorvida e a perderá numa velocidade menor em relação a planta com baixo teor de silício. Na prática, o fornecimento de Si pode reduzir o consumo de água pela batata, evitando o desperdício desse recurso natural cada vez mais escasso.

Além disso, o silício acumulado na folha permite que esta fique mais ereta e com isso aumente a área de exposição à luz solar. Como conseqüência, há redução da queda de folhas, aumento na taxa fotossintética e da produtividade. Outro benefício proporcionado à planta é a redução do efeito da geada.

Uma grande variedade de materiais tem sido utilizada como fonte de Si para as plantas, como escórias de siderurgia, wollastonita, sub-produtos da produção de P elementar em fornos elétricos, metalissicato de Ca, metassilicato de sódio, cimento, termofosfato, silicato de Mg (serpentinitos) e silicato de Ca.

As escórias básicas de siderurgia podem ser utilizadas como corretivo do solo e fonte de Si e outros nutrientes. São constituídas principalmente de silicatos de Ca e Mg, podendo conter impurezas como P, S, Fe, Zn, Cu, B, Mo, Co e outros. Os silicatos comportam-se de maneira similar aos carbonatos (calcários) no solo e são capazes de elevar o pH, neutralizando o alumínio e outros elementos tóxicos às plantas. Em seu estado original, a escória é um material de composição química e granulometria bastante variável, em função do tipo de processo, do minério de Fe e do sistema de forno utilizado. Assim como para o calcário, a reatividade da escória varia conforme sua granulometria, dosagem utilizada, tipo de solo e tempo de contato entre a escória e o solo.

A solubilidade do Si, nos diferentes tipos de escórias é bastante variável. As escórias de alto forno, normalmente, apresentam maiores teores de Si, enquanto as escórias da produção de aço inox são as que apresentam o Si na forma mais solúvel. O produtor deve sempre adquirir produtos de firmas idôneas. No caso de dúvidas, realizar consulta técnica antes de adquirir o produto.

Os países onde a adubação silicata é utilizada mais intensivamente são: Japão, EUA, África do Sul e China. Os principiais resultados obtidos até o momento envolvem as culturas do arroz, cana-de-açúcar, pastagens e milho, que são plantas que acumulam maiores quantidades de Si nos tecidos. Nos últimos anos têm sido realizadas pesquisas também com cultura não gramíneas, tais como: soja, feijão, eucaliptos e batata, com resultados promissores, indicando que tal técnica pode ser interessante para aumentar a produtividade e melhorar a qualidade dos produtos agrícolas.

A Faculdade de Ciências Agronômicas da Unesp/Botucatu sedia, nos dias 19 e 20 de junho, o “IV Simpósio de Silício na Agricultura”. Pela primeira vez, o evento será realizado no Estado de São Paulo e contará com a presença de palestrantes internacionais e apresentações das pesquisas científicas mais recentes na área.

O Simpósio vai possibilitar o encontro entre produtores, pesquisadores, profissionais, estudantes e empresários para discutir temas como as interações do silício com as plantas, suas doenças e pragas, movimentação no solo e na planta, atuação fisiológica e sanitária em diversas culturas da área agrícola e florestal, até as formas de produção de fertilizantes, legislação e comercialização.

Mais informações:

(14) 3882-6300 – Paula, Priscila ou Fábio

Departamento de Produção Vegetal – Faculdade de Ciências Agronômicas/UNESP

Caixa Postal 237, CEP 18603-970, Botucatu, SP. E-mail: crusciol@fca.unesp.br / soratto@fca.unesp.br

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