O tomate para processamento industrial tem, a cada ano, aumentado a sua importância no cenário da agricultura brasileira. No ano de 2004, foram produzidas 35 milhões de toneladas de tomate no mundo. O Brasil correspondeu com 3,7% desse total, tendo uma produção de 1,2 milhão de toneladas em aproximadamente 20 mil hectares, o que corresponde a uma produtividade média de 60 toneladas por hectare. Desse montante, os estados de Minas Gerais e Goiás representam 81%.
No entanto, como em toda espécie cultivada, fatores do meio são responsáveis por perdas significativas na produtividade final do tomateiro. Dentre esses, as plantas daninhas destacam-se como um dos principais.
Como método de controle desse fator, o uso de herbicidas destaca-se como uma alternativa eficiente e econômica, para reduzir a interferência imposta pelas plantas infestantes. O seu uso depende de vários fatores, como as características do produto e, principalmente, sua seletividade. Dentre os herbicidas utilizados na cultura do tomate, o metribuzin é o de maior utilização. Ele pode ser aplicado tanto em pré-emergência, quando de semeadura direta, como em pós-transplantio de mudas, sendo comumente utilizado, neste caso, entre as duas primeiras semanas após o transplantio das mudas.
No entanto, algumas diferenças quanto à tolerância de diferentes cultivares a este herbicida foram observadas. Por exemplo, cultivares mais precoces são mais sensíveis do que as tardias. Um outro comportamento também foi observado: dias nublados antes da aplicação podem fazer com que as plantas de tomate se tornem menos tolerantes a este herbicida.
A intensidade luminosa e a disponibilidade de água também têm grande influência sobre a tolerância da planta de tomate ao herbicida metribuzin. Para avaliação dos efeitos da luz e da água, foram conduzidos três experimentos no Laboratório de Biologia e Manejo de Plantas Daninhas do Departamento de Biologia Aplicada à Agropecuária da UNESP – Jaboticabal (SP). Para tal utilizaram-se duas cultivares de tomate industrial: HEINZ 9992 e Agrocica 45 (AG-45). A primeira, uma variedade híbrida, atualmente muito utilizada pelos produtores de tomate para processamento industrial; a segunda, uma variedade de polinização aberta amplamente cultivada no passado que, segundo relatos informais de técnicos e produtores, apresentava relativa tolerância ao metribuzin.
Sementes de plantas de tomate foram plantadas em vasos de dois litros de capacidade, num solo tipo Latossolo Vermelho Escuro (LE), e após a germinação foi realizado um desbaste, permanecendo a planta de maior vigor por vaso. As aplicações do herbicida metribuzin, nas dosagens de 0,5 e 1,0 l/ha, foram realizadas com pulverizador costal com pressão constante (CO2), munido de barra com quatro pontas tipo XR 110.02, com uma vazão de calda de 200 l/ha. Utilizou-se também um tratamento testemunha, em que as plantas de tomate não receberam aplicação do herbicida. No decorrer dos experimentos, foram realizadas aplicações de manutenção de fungicidas e inseticidas.
Os ensaios tiveram por objetivo avaliar se o aumento/redução de luz ou aumento/diminuição da disponibilidade de água interferem na tolerância das plantas de tomate das duas cultivares frente ao herbicida metribuzin. Nos ensaios 1 e 3, para avaliação de possíveis efeitos fitotóxicos do herbicida sobre as plantas de tomate, utilizou-se, aos 15 dias após aplicação do herbicida (15 DAA), a Escala de Fitotoxicidade da EWRC (1964), que determina diferentes notas visuais de fitotoxicidade de plantas: 1 (nula), 2 (fitointoxicação muito leve), 3 (fitointoxicação leve), 4 (fitointoxicação regular), 5 (fitointoxicação média), 6 (fitointoxicação quase forte), 7 (fitointoxicação forte), 8 (fitointoxicação muito forte), 9 (destruição total). No ensaio 2, realizou-se a medição da altura das plantas e o teor de clorofila das folhas aos 14 dias após a aplicação do herbicida (14 DAA).
No primeiro ensaio, as plantas de tomate foram submetidas a diferentes intensidades luminosas: 70% de sombreamento, 50% de sombreamento, 30% de sombreamento e 0% de sombreamento (100% de luminosidade). Essas diferentes luminosidades foram obtidas utilizando-se túneis cobertos com telas de poliolefinas (sombrite), conforme ilustrado na Figura 1
. Estas plantas foram expostas a essas diferentes intensidades luminosas por 13 dias. Após este período, realizou-se a aplicação do herbicida. Logo em seguida, as plantas voltaram para as respectivas intensidades luminosas (sob os túneis de sombrite).
No segundo ensaio (irradiância), um conjunto de plantas de tomate, após desenvolvimento inicial a pleno sol, foi transferido para um túnel com tela de recobrimento com 70% de interceptação da luz solar, e outro conjunto foi mantido em pleno sol. Decorridos 14 dias, os dois conjuntos foram submetidos à aplicação de metribuzin nas dosagens de 0,5 e 1,0 l/ha, além de plantas que não receberam aplicação do herbicida (testemunha). Após a aplicação, as plantas que permaneceram sobre o túnel foram transferidas para pleno sol (sombra-luz), enquanto a outra metade que permaneceu sob pleno sol foi transferida para o túnel (luz-sombra).
O Gráfico 2 mostra que, independentemente da cultivar, o aumento da interceptação dos raios solares provocou um aumento da sensibilidade das plantas de tomate ao metribuzin, sendo que as plantas submetidas a 70% de interceptação e sob dosagem de 1 l/ha de metribuzin apresentaram fitointoxicação forte (nota 7 pela Escala EWRC). Quando compararam-se as duas cultivares, observou-se que plantas da cultivar HEINZ 9992 mostraram maior sensibilidade ao herbicida, principalmente no tratamento com 70% de interceptação de luz. A Figura 2 mostra o estado das plantas da cultivar HEINZ 9992 sob os diferentes níveis de luminosidade.
A transição sombra-luz acentuou a toxicidade do metribuzin sobre plantas de tomate, principalmente, quando utilizado 1,0 l/ha do herbicida. Considerando-se altura e teor de clorofila, a cultivar Agocica 45 mostrou ser mais sensível ao metribuzin, quando submetida à esta mesma transição (sombra-luz). O Gráfico 2 mostra os resultados relativos à avaliação de fitotoxicidade aos 14 dias após a aplicação
.
Os resultados de intoxicação visual, juntamente com os das outras características avaliadas nas plantas de tomate, permitem inferir que seria necessária a luz solar plena, para ativar possíveis mecanismos de desintoxicação e/ou de metabolização do metribuzin nas plantas, para que o mesmo manifeste sua seletividade ao tomateiro.
No terceiro ensaio, plantas de tomate foram sujeitas a 30, 50 e 70% de saturação do solo por seis dias. Ao término deste período, foi realizada a aplicação do herbicida. Após a aplicação, as plantas voltaram a receber irrigação normalmente.
Com relação à disponibilidade de água, pode-se concluir que, independentemente da cultivar e da dosagem do herbicida utilizadas, as plantas submetidas à situação de apenas 30% de sua capacidade de campo foram mais tolerantes ao metribuzin (Gráfico 3), devendo-se principalmente ao fato de que as plantas submetidas à esta baixa disponibilidade de água não absorveram o herbicida em quantidade suficiente para causar fitotoxicidade.
Portanto, pode-se concluir que, bem mais que diferenças entre as cultivares estudadas, os diferentes fatores do meio, bem como a intensidade como estes se apresentam no ambiente de cultivo do tomateiro, são os responsáveis pelo aumento e/ou diminuição de fitotoxicidade do herbicida metribuzin sobre a cultura em questão. Pelo apontado no ensaio 1, deve-se atentar para o uso deste herbicida após longo período nublado, pois a sensibilidade, em razão de alguma função biológica, torna as plantas de tomate menos tolerantes ao metribuzin. Sob condições de longos dias de tempo nublado, a cultivar híbrida HEINZ 9992 mostrou-se mais suscetível à ação fitotóxica do metribuzin. Tal fato é confirmado pelo ensaio 2. Plantas de tomate que sofreram maior interceptação solar nos dias anteriores à aplicação de metribuzin apresentaram fitointoxicação mais acentuada do que aquelas plantas que permaneceram sob sol intenso dias antes da aplicação.
Outro fator estudado, a disponibilidade de água (ensaio 3), mostra que plantas com maior disponibilidade de água tenderam a apresentar maior fitointoxicação pelo herbicida, devendo-se, provavelmente, ao fato de que maior retenção de água no solo provoca um aumento do período de permanência do produto no solo a ser absorvido pela planta.
e
UNESP / Jaboticabal
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