Importância dos investimentos em P&D para o mercado de nutrição vegetal
Por Carlos Landerdahl, diretor comercial e de marketing da Ubyfol
Em um dos primeiros dias de inverno, com temperatura amena e algumas nuvens, a equipe da Revista Cultivar Máquinas foi até uma área agrícola, no município de Ipiranga (PR), para testar o rolo de facas Cultro TC, da Horsch. Essa cidade, que fica próxima a Ponta Grossa, está inserida em uma região eminentemente agrícola e com tradição no desenvolvimento dos primeiros passos do plantio direto no Brasil.
O equipamento que testamos chegou ao Brasil no ano passado, iniciou etapas de avaliação e demonstrações para clientes e está em plena comercialização. Fabricado na Alemanha, onde tem grande aceitação, o Cultro TC chega ao país como uma alternativa de mercado, para a substituição dos rolos de facas tradicionais, oferecendo a vantagem de ser um equipamento mais simples, mais leve e de fácil transporte e operação, principalmente pela agilidade oferecida nas manobras. O rolo de facas é um equipamento muito útil para aqueles agricultores que mantêm cobertura de restos vegetais sobre a superfície do solo, mas que, ao mesmo tempo, desejam que estes não dificultem a entrada das semeadoras, evitando pelo corte da palha, o embuchamento. Enquanto os concorrentes baseiam a operação de corte apenas pelo peso sobre as facas, o Cultro TC oferece a vantagem de ser leve e o corte ser feito pela tecnologia de posicionamento de facas sobre o rolo, a concentração de peso no local realmente importante e a velocidade empregada na operação. Não há necessidade de lastragem com água nem de equipamentos auxiliares para a montagem dos rolos.
O objetivo principal deste tipo de equipamento ao inserir-se em um sistema complexo de manejo de resíduos vegetais é a formação de mulching, pelo processamento (assentar e picar) da palhada, das plantas de cobertura. Para muitos produtores que utilizam o plantio direto sobre a palha, essas operações são fundamentais e muito importantes, pois definem a qualidade da semeadura e, portanto, da formação do estande de plantas, o controle de invasoras, a redução drástica da erosão e a elevação da produtividade das áreas.
Uma vez montado o equipamento, a operação é feita apenas pelo ajuste do sistema hidráulico de três pontos, nos modelos menores, e das válvulas de controle de remoto (VCRs) nos modelos maiores. Atualmente, o fabricante está trazendo para o país seis modelos TC, que compreendem larguras de trabalho que vão de 2,90 metros até os equipamentos maiores de 18,20 metros. Nos modelos Cultro 3 TC de 2,90 metros de largura de trabalho até o 9 TC, de 8,90 metros, o acoplamento ao trator é pelo sistema hidráulico de três pontos. Os dois modelos maiores, 12 TC e 18 TC, com 12,20 e 18,20 metros de largura, respectivamente, são acoplados à barra de tração e controlados pelas válvulas de controle remoto.
Na Alemanha, onde se originou e disseminou o uso desse equipamento, é costumeiro o uso de dois implementos no mesmo trator, com o acoplamento de um dos modelos menores Cultro 3, 5 e 6 TC no sistema hidráulico frontal do trator e outro equipamento na parte traseira, como o Joker RT, por exemplo, fazendo em uma mesma operação o corte da palhada e o acondicionamento da camada superficial do solo, possibilitando a entrada da semeadora. Nas versões de acoplamento frontal, o fabricante colocou um capô, para proteção contra o arremesso de pedras contra o trator.
O chassi tem esperas para acoplamento de seções complementares, como o rolo condicionador, e uma estrutura de dentes flexíveis. Estes complementos servem, principalmente, para aquelas situações onde, depois de picada, a palha deve ser acomodada formando uma camada estreita e deitada sobre o solo.
Em todos os modelos, o equipamento sempre terá uma largura de transporte inferior a três metros, o que possibilita o deslocamento autônomo, sem a necessidade de uso de caminhões especiais e dificuldades de acomodação na carroceria, como ocorre com os modelos de rolo de facas tradicionais. Alguns destes modelos do mercado exigem uso de guinchos e montagem no campo dos módulos, assim como enchimento e esvaziamento dos rolos, antes e depois do trabalho.
O equipamento que testamos, de nove metros de largura, tem uma estrutura central onde são presos, à frente o suporte do engate ao trator, atrás o suporte para os acessórios e na parte inferior o suporte para os rolos. Neste último suporte se prende uma estrutura em forma de V invertido, onde se acoplam os rolos, um à frente do outro, por isso a designação de rolo de facas em tandem. Na união entre o chassi e o suporte em V invertido o fabricante projetou e incorporou alguns mancais de amortecimento de borracha, de forma que a união não é rígida e pode absorver impactos em condições dinâmicas. É possível, usando regulagem de engate, dar mais pressão aos rolos da frente ou de trás. Na parte frontal do chassi há um local específico para a colocação de pesos, para a lastragem. No modelo que testamos havia dez pesos em cada lado.
Todos os seis modelos do Cultro TC são formados pela adição de rolos de mesmo tamanho, ou seja, três metros. Desta forma, o primeiro modelo tem apenas um rolo e o maior tem seis rolos, indo de uma largura de três até 18 metros. No modelo que testamos, o rolo central é preso diretamente no chassi e os dois laterais presos nas asas que se recolhem para o transporte.
Cada rolo tem um diâmetro de 300 mm, com seis facas presas ao rolo por quatro parafusos. As facas são colocadas na diagonal da borda do rolo, proporcionando maior pressão de corte a cada momento em que o peso incide sobre a lâmina ao entrar em contato com a palha. Para quem leu e acompanhou o test drive que fizemos com o Joker RT, da Horsch, para a edição 236 de maio deste ano, o sistema de rolos de facas é igual nos dois equipamentos.
Para a articulação no transporte, foram colocados dois cilindros hidráulicos transversalmente, que, controlados pelas VCRs, fazem, no caso do Cultro 9 TC, com que as duas seções se fechem sobre a do meio, colocando-se na posição vertical, chegando esta largura de transporte a 2,98 metros.
Trabalhar nas condições oferecidas pela fazenda e com esse equipamento foi uma das melhores experiências nestes tantos anos de test drive para a Revista Cultivar Máquinas. Vimos o equipamento funcionando em uma condição muito adequada, com uma massa vegetal muito homogênea e pudemos fazer a variação de velocidades de deslocamento para visualizar o efeito.
Engatamos o equipamento a um trator da marca Case, modelo 340, que tem um motor de seis cilindros e 8.700 cm3 de volume deslocado, proporcionando potência nominal de 340 cv e torque máximo de 1.671 Nm a 1.400 rpm. O trator estava configurado com rodado duplo tanto no eixo dianteiro como no traseiro. A sua transmissão tipo full powershift de 18 marchas à frente e quatro à ré nos proporcionou realizar o teste com variação de velocidade de deslocamento desde os 12, 14, 16, 18, 20, 22 e 24 km/h.
Como este é um equipamento que melhor desempenho apresenta nas altas velocidades, fizemos um escalonamento, e a cada trajeto variamos 2 km/h para encontrar a melhor situação. A operação era de deitar e picar uma cobertura verde de aveia-preta com aproximadamente 70 a 80 cm de altura.
Inicialmente, marcamos a linha base A-B e com o auxílio do piloto automático do trator, fizemos percursos longos de aproximadamente 800 metros, em um sistema de vai e vem, cada um com a variação crescente de velocidade operacional.
Como resultado, avaliamos o tamanho e a porcentagem do picado. Vimos que a ação do rolo é de deitar a cultura e depois, pela ação das lâminas (facas), fazer o corte em um tamanho médio de 14 cm, que é geometricamente a distância entre as facas projetada no plano do solo. Verificamos que, à medida que a velocidade crescia, a qualidade do picado ia aumentando, até encontrar boas condições ao redor dos 20 km/h. A partir dessa velocidade, o desempenho se estabilizava e talvez a decisão do usuário deve ser de estabelecer um equilíbrio entre a vantagem de uma alta capacidade operacional (hectares/hora) e o consumo de combustível (litros/hectare), considerando, é claro, as condições de relevo da área.
Antes de iniciar o trabalho, o equipamento deve ter a sua parte central apoiada no solo, com os pistões as duas asas devem ser niveladas e o sistema hidráulico colocado em flutuação. Pequenas correções podem ser feitas a partir da visualização dos resultados. Vimos que, pela forma de trabalho do equipamento, o peso da estrutura e o lastro metálico adicional incidem sobre os rolos, estabelecendo a pressão de corte, no entanto o efeito velocidade é fundamental para melhorar a ação do equipamento.
Como regra geral, baseados na avaliação que fizemos, concluímos que é muito importante deixar o equipamento em flutuação no sistema hidráulico, para que os rolos reproduzam o microrrelevo do terreno, copiando-o e, consequentemente, mantendo constantemente a pressão decorrente do peso do equipamento. Com isso, as câmaras de ar cheias de nitrogênio absorverão os picos de pressão, decorrentes dos movimentos bruscos, evitando os choques por pressurização hidráulica.
Durante os testes, o produtor nos informou que já havia utilizado esse equipamento sobre resteva do milho, e a impressão que havia ficado para ele e a equipe da fazenda é de que o Cultro TC é uma máquina simples e robusta, e que o fato de ela ter sido utilizada em outras regiões do Brasil sem problemas, dá confiança ao cliente.
O local do nosso teste foi a Fazenda Suruvi, pertencente ao Grupo K2–Agro da Família Kossatz, tendo como patriarca o médico Celso Macedo Kossatz, pessoa muito conhecida na região. De descendência alemã, a família iniciou sua trajetória na agricultura quando o pai do senhor Celso decidiu adquirir terras na região como investimento.
Embora a sede administrativa do Grupo seja na cidade de Ponta Grossa, as áreas rurais utilizadas para produção se distribuem em 12 fazendas, com quatro módulos principais em Ponta Grossa, Tibagi, Ipiranga e recentemente no estado de Roraima. A nossa avaliação foi em uma das fazendas do município de Ipiranga, com aproximadamente 1.400 hectares. Os solos da região são predominantemente de textura média a argilosa. A família é uma referência no uso de tecnologia, utilizando intensamente os conceitos e recursos da agricultura de precisão, manejo localizado, compostagem, adubação orgânica, entre outros processos.
No verão se produzem soja (70%) e milho (30%) e na safrinha o feijão, após a cultura do milho, e o trigo, após a colheita milho. O plantio da soja, que é a principal cultura, é feito pós-trigo (40%) e pós-aveia (60%).
Para conhecer o trabalho realizado na fazenda e fazer os testes com a máquina, fomos recebidos pelo engenheiro agrônomo Cássio de Oliveira Kossatz. Formado pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, ele aproveitou para viajar e morar nos Estados Unidos e conhecer a agricultura norte-americana, trazendo novos conhecimentos. Atualmente exercendo a função de diretor de agricultura das fazendas do grupo, nos contou da complexidade que é realizar agricultura de alta produtividade com as dificuldades atuais. Por isso, ele se apoia em processos gerenciais, entre os quais a contratação de um consultor agronômico que lhe proporciona apoio nas decisões. Por ser jovem, nos contou que já pegou o plantio direto consolidado na região e aproveitou experiências de outros produtores e dos órgãos de pesquisa e assistência técnica.
Nas áreas do grupo não se utiliza outro sistema que não seja o plantio direto, que, por convicção, sempre é feito com máquinas semeadoras com sulcadores de discos duplos, evitando os sulcadores fixos, como facões e hastes. Em alguns casos específicos se realiza a escarificação, quando necessário, principalmente para correções físicas localizadas. Mas para ele a operação com máquinas na condição adequada de umidade do solo é a melhor receita. No mais, um manejo com muita massa e vigorosa emissão de raízes é o mais importante para um sucesso da principal operação que é a semeadura.
Atualmente, a empresa está abrindo nova área de produção na região do Bonfim, em Roraima, próximo à Guiana, com distância de pouco mais de 100 km da capital Boa Vista. Relataram-nos as dificuldades em enfrentar uma nova realidade, com adequação da área de plantio, dificuldades na drenagem e janelas de plantio muito curtas em função do regime de chuvas da região.
A família é cliente Horsch, tendo adquirido recentemente uma semeadora de precisão, modelo Maestro Kompass de 18 linhas. Na propriedade, possuem um rolo de facas de outra marca e nos relataram as dificuldades com o modelo que utilizam, principalmente em operações de enchimento dos tambores com água e a problemática que é transportar e manobrar este equipamento.
Estiveram conosco durante todo os procedimentos de avaliação do Cultro TC alguns colaboradores da Horsch, entre os quais o senhor Edir Nisczak, do marketing da Horsch, e Itamar Ferreira, que é consultor técnico de pós-venda da marca. Também esteve no campo, apoiando a avaliação, o senhor Roberto Simionato, que é gerente regional de vendas para os estados do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo, atuando principalmente junto ao concessionário regional, que é a empresa Bouwman Livestock & Agriculture e que possui lojas no estado do Paraná, em Castro e Guarapuava.
Pela fazenda tivemos apoio do coordenador Rodolfo Rodrigues Ferreira e de Luís Carlos de Almeida, que é um dos operadores de máquinas da empresa.
Ao final do teste, retiramos algumas conclusões sobre o trabalho do equipamento, nas condições em que pudemos testar. Segundo considerações do próprio cliente, o Cultro TC é uma máquina simples, porém muito útil para quem utiliza plantas de cobertura, e necessita picar os restos para a posterior entrada da máquina semeadora. É bastante positiva a avaliação, principalmente se formos considerar a experiência do produtor com rolos de facas convencionais, formados por pesados tambores com água.
De resto, pudemos concluir que a velocidade de deslocamento é fator primordial para o corte da vegetação. A forma de trabalho dos rolos e a disposição das lâminas, ao redor dele, induzem ao trabalho de alta velocidade, que acaba por favorecer o aumento da capacidade operacional, com muitos hectares realizados ao final da jornada de trabalho.
Também é importante considerar que o rolo de facas em si é fundamental para o manejo da palhada, por exemplo da aveia e do milho, e para o estabelecimento da cobertura outonal, o que favorece altas produtividades, economia de combustível e conservação da camada superficial do solo contra a erosão.
O caráter inovador do equipamento, com a diminuição do peso e consequente facilidade de transporte e operação, deve ser ressaltado como uma inovação, em termos de implemento de manejo da palhada e apoio ao trabalho de semeadura.
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