Sistemas silvipastoris para o Brasil pecuário

Dentre os sistemas específicos que configuram os chamados SAFs, a forma silvipastoril decorre da natureza de seus componentes fundamentais – pastagem-animal-árvores - e da forma de utilização dos recursos disponíve

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

Sistemas e técnicas de manejo que incluam como prática o uso de árvores em consórcio e associação com cultivos agrícolas e criação animal devem ser pensados prioritariamente em termos de integração das atividades na propriedade rural.

Genericamente denominados de sistemas agroflorestais (SAFs), são apontados como opções preferenciais de uso das terras pelo alto potencial que oferecem para aumentar o nível de rendimento em relação aos aspectos agronômicos, sociais, econômicos e ecológicos. Esses sistemas mostram o grau de integração mais íntimo entre as atividades florestais e agropecuárias.

Em regiões tidas como “desenvolvidas”, os SAFs tendem a oferecer alternativas às questões ecológicas, econômicas e sociais. Como é o caso da região Sul do Brasil, que retrata um quadro bastante similar ao vivido por alguns países desenvolvidos onde, agricultura e recursos naturais estão sob crescente pressão para a implementação de práticas que promovam o bom uso da terra e sejam ambientalmente sadias.

Dentre os sistemas específicos que configuram os chamados SAFs, a forma silvipastoril decorre da natureza de seus componentes fundamentais – pastagem-animal-árvores - e da forma de utilização dos recursos disponíveis, onde os componentes são intencionalmente utilizados em associação simultânea numa mesma área.

A sustentabilidade da produção animal de grande porte é ameaçada pela característica intrínseca aos sistemas de produção baseados num reduzidíssimo número de forrageiras, invariavelmente em monocultivos, que trazem em si mesmos a degradação. A degradação decorre da instabilidade desses sistemas produtivos, onde os fatores desfavoráveis são, principalmente, de caráter biótico como ocorrência de pragas e doenças, manejo inadequado, concorrência de plantas indesejáveis e físico-químicos como mineralização da matéria orgânica e erosão do solo, lixiviação e alterações de microclimas.

Nas áreas de pastagens, os sistemas silvipastoris podem trazer aumentos consideráveis de circulação de riqueza, isto é, podem favorecer a industrialização regional através da disponibilidade de matéria-prima em maior quantidade e diversidade promovendo aumento na oferta de emprego direto e indireto via incremento de cadeias produtivas. Tais sistemas poderão produzir madeiras de variadas espécies com custos competitivos pois neles a colheita é mais fácil e, ainda, pode-se agregar valor pelo fato da madeira ser produzida em condições ambientalmente adequadas.

Tanto a madeira quanto o leite, a carne e o couro, produzidos em sistema silvipastoril, atendem melhor aos princípios preconizados pelos mecanismos da certificação de origem sustentável e de suas cadeias de custódia pois consideram aspectos ambientais, sociais e econômicos.

Nos sistemas silvipastoris, a presença de árvores pode conservar e melhorar a qualidade do solo por favorecer o controle da erosão, a ciclagem de nutrientes e a adição de matéria orgânica; utilizar a radiação solar mais eficientemente do que em pastagens em monocultivos e capturar nutrientes e umidade do solo em diferentes profundidades, diminuindo então a dependência de entradas externas de nutrientes ou estabelecendo uma relação benefício/custo mais positivas.

As áreas de pastagem terão sua produção e sustentabilidade favorecidas pela melhoria ambiental e economia de recursos, decorrentes do aumento da vida útil dos pastos fator que influencia no cálculo dos custos. Os sistemas silvipastoris podem ter sua adoção fundamentada, em diversos objetivos, variando da conservação do solo, melhoria das condições ambientais (proteção contra geadas, ventos frios, granizo, tempestades, altas temperaturas) e, portanto, melhoria da saúde dos animais e proteção das pastagens, até a disponibilidade de madeira na propriedade rural para os diferentes usos, a renda adicional em madeiras comerciais e, inclusive, o aspecto cênico (manejo da paisagem). A tendência de mercados para produtos ambientalmente adequados abre uma oportunidade para a produção animal a pasto, como estratégia para o mercado de produto “orgânico”, em um sistema capaz de contribuir para a fixação de gás carbônico (CO2), com menor emissão de óxido nitroso (N2O) e, assim, contrabalancear a emissão de gás metano (CH4) pelos ruminantes, todos importantes gases componentes do efeito-estufa; fatos que podem compor elementos de marketing ambiental para o sistema silvipastoril.

A necessidade das cadeias produtivas da pecuária de identificar e desenvolver oportunidade de mercado, assim como de desenvolver opções em sistemas de produção integrados que suplementem a atividade na propriedade, pode ser contemplada pela adoção de sistema silvipastoril.

De todos os efeitos da disposição adequada de árvores em pastagens e, portanto, sobre os animais que nela vivem, o mais importante para os mesmos é o seu bem-estar. Pastagens adequadamente arborizadas propiciam proteção aos animais contra intempéries climáticas influindo positivamente na saúde e desempenho produtivo animal.

O incentivo à pesquisa e difusão de sistemas silvipastoris é importantíssimo para que, nas próximas décadas a agropecuária brasileira ganhe destaque no cenário internacional, pois além dos produtos animais saudáveis, produzirá madeira de qualidade para os mais diferentes fins, agregando renda e qualidade às propriedades rurais e, contribuindo com a qualidade de vida no planeta.

Alguns aspectos que devem ser considerados para a obtenção dos potenciais benefícios existentes em sistemas silvipastoris passam pela “desmistificação” da atividade florestal madeireira e pela capacitação técnica e gerencial para o “novo” sistema de uso da terra.

Os aspectos a serem superados são principalmente de ordem da informação e conhecimentos rotineiros e da alteração de padrões orientadores das ações de pessoas e instituições envolvidas com o setor. Novas posturas e ações devem ser buscadas através da atualização tecnológica dos produtores rurais.

A introdução de árvores nas pastagens promove modificações que necessitam de considerações relativas ao planejamento; de modo geral, no planejamento de um sistema silvipastoril é importante:

1) Selecionar as espécies apropriadas de árvores e de pastagem para a área. Ao escolher as espécies de árvores, elas precisam estar adaptadas, assim como a pastagem, ao clima e solo da região onde serão plantadas. Outros aspectos a serem considerados com relação às árvores escolhidas incluem o mercado, o valor dos produtos que serão colhidos, crescimento, enraizamento profundo, tolerância a seca, sombreamento leve, capacidade de prover produtos e serviços ambientais desejados pelo produtor rural e principalmente que não tenha efeitos negativos sobre os animais, como toxicidade, ou sobre a pastagem, como alelopatia que impeça o crescimento da pastagem.

2) O arranjo espacial das árvores na área (o "espaçamento"). As árvores plantadas em curvas de nível favorecem o trânsito de máquinas, controlam a erosão do solo e são eficientes contra ventos frios durante o inverno;

3) Definir as práticas de manejo adequadas, pois elas promovem o alcance das metas do proprietário rural em todas as fases do sistema. Quando, por exemplo, irá executar as podas e/ou desbastes o que evitará sombreamento excessivo da pastagem e produzirá toras de qualidade, ou, quantos serão os piquetes na área e seus tempos de uso pelos animais?

4) Considerar os impactos econômicos, ambientais e sociais ao juntar na mesma área da propriedade, a criação de gado e a produção de madeira. A implantação do sistema é um investimento que demanda recursos financeiros e capacitação para sua administração, isto, por vezes, pode significar desembolsos e mudanças na forma de gerir a propriedade.

A observância desses aspectos contribuirá para o sucesso na implantação do sistema silvipastoril, mas, será a combinação adequada de árvores, pastagem e animais o instrumento para garantir o êxito do empreendimento.A conversão de áreas convencionais de pastagem para sistemas silvipastoris pode ser iniciada por sub-áreas onde a pastagem esteja menos produtiva ou sub-áreas críticas com problemas de erosão, compactação ou de outro aspecto negativo para com a produção forrageira.

Mesmo pastagens consideradas boas podem ser convertidas em sistemas silvipastoris.

Toda a base tecnológica já existente para intervenções em forragicultura e silvicultura, para o manejo das pastagens, do rebanho e das árvores, deve ser considerada para o êxito em sistema silvipastoril, assim como, as práticas agrossilviculturais necessárias para a manipulação microclimática do ambiente.

Vanderley PORFIRIO DA SILVA

Eng Agrônomo, Doutorando Sistemas Integrados de Produção Vegetal/UFPR e Pesquisador em Sistema Silvipastoril da Embrapa Floresta

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