Adjuvantes garantem segurança e eficiência na pulverização
Por Hamilton Humberto Ramos, Viviane Corrêa Aguiar, Ana Flávia Villa e Rafael Kenji Nagami Lima, do Centro de Engenharia e Automação do Instituto Agronômico
A Síndrome da Murcha da Cana-de-açúcar ou SMC (como também vem sendo chamada) tem emergido nos últimos anos como um desafio significativo em agravante expansão para a indústria sucroalcooleira no Brasil. Este problema apresenta implicações alarmantes para um dos setores agrícolas mais importantes do país.
Os impactos desta doença envolvem desde a redução de produtividade – TCH (toneladas de cana por hectares), que podem ser superiores a 25%, passando por alterações qualitativas da matéria-prima com a redução no teor de ATR (Açúcar Teórico Recuperável) até a modificação no índice do Brix (a quantia aproximada de açúcares da cana). O que torna o problema ainda mais preocupante, é que ele vem ocorrendo de forma emergente e, até o momento, generalizado para diversos cultivares de cana.
Para todas as variedades observadas, os sintomas característicos da SMC são colmos murchos ou secos. Em muitos casos, as estruturas fúngicas podem ser observadas na parte externa do tecido afetado (Figura 1a). Já os sintomas nos internós são observados ao ser realizado o corte longitudinal dos colmos, que apresentam coloração avermelhada e/ou marrom glacê, evoluindo para um sintoma de murcha e seca dos internós afetados (Figura 1a).
Na safra de 2023/24, a Síndrome da Murcha da Cana atingiu níveis alarmantes nos principais estados produtores, com relatos de redução de 50% de TCH, evidenciando a necessidade urgente de atenção e ação por parte de produtores e pesquisadores. Vários estudos estão sendo conduzidos por instituições públicas e privadas visando desmitificar diversas teorias relacionadas a problemática e esclarecer tecnicamente as causas da SMC. Até o presente momento, pesquisadores e técnicos convergem sobre a SMC ser causada por fatores bióticos, ou seja, por associação de fungos patogênicos que ocasionam a morte de plantas, redução de TCH, trazendo desafios pós-colheita para a indústria. Os principais fitopatógenos que estão sendo identificado em plantas sintomáticas são os fungos Fusarium spp., (Figura 1b), Colletotrichum falcatum e o fungo Phaeocytostroma sacchari (sinônimo Pleocyta sacchari), que apesar de sua importância secundária no sistema de produção em safras anteriores, tornou-se emergente e fator primário para se manejar nos últimos anos (Figura 1c).
Desde 2021, a SMC vem sendo amplamente debatida em fóruns técnicos, como o GTEC (Grupo de Consultores Técnicos) e grupos de pesquisadores, com o objetivo de identificar causas específicas e planejar estratégias de manejo eficazes. A complexidade do ambiente de produção sucroalcooleira, associada a fatores como cultivares, antecipação de colheita, manejo de pragas e nematoides, uso de fungicidas e a variabilidade dos patógenos envolvidos, torna o enfrentamento da SMC um desafio crescente para o setor. Sendo assim, estudos iniciais foram conduzidos para melhor esclarecer a problemática no que tange histórico das áreas, distribuição do problema e os fungos encontrados em plantas sintomáticas da safra 2023/24.
Estudos iniciais foram realizados para mapear a distribuição do problema, analisar o histórico das áreas afetadas e identificar os fungos presentes em plantas sintomáticas durante as safras de 2023 e 2024. Ao todo, 29 amostras sintomáticas foram coletadas e analisadas nos estados de Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Paraíba. A diagnose foi conduzida no Laboratório de Pesquisa e Desenvolvimento da Syngenta, em Holambra (SP).
As amostras foram processadas por isolamento em câmaras úmidas, e o cultivo em meio de cultura e sequenciamento de DNA, focando regiões específicas como ITS, actina e β-tubulina. Esses métodos permitiram identificar com precisão os gêneros e espécies fúngicas envolvidas.
Principais resultados:
Com o objetivo de investigar a relação de P. sacchari com os sintomas da Síndrome, foram realizados experimentos de inoculação e confirmação das etapas do Postulado de Koch. Para o teste de patogenicidade, foram utilizados isolados de P. sacchari recuperados de plantas sintomáticas. Colmos sadios foram inoculados por meio de uma abertura mecânica do colmo e inoculou-se discos de micélio fúngico por infecção direta no tecido (Figura 4a, 4b e 4c). Após 7 dias sob condições controladas em câmara de crescimento, os colmos foram avaliados e apresentaram os sintomas de vermelhidão do internó inoculado (Figura 4d e 4e). A confirmação da patogenicidade ocorreu com o reisolamento de P. sacchari dos colmos inoculados. Os isolados obtidos do reisolamento, fechando assim o Postulado de Koch, foram novamente sequenciados para a confirmação do gênero e espécie, e a análise dos resultados permitiram a confirmação da espécie de P. sacchari (Figura 4). Esses resultados, sugerem, portanto, relação causal entre o fungo P. sacchari e os sintomas de vermelhidão dos colmos (Figura 4).
O que levanta um alerta é que o fungo P. sacchari, em particular, tem sido recorrentemente isolado de colmos murchos, diferentemente de sua ocorrência esporádica. Em anos anteriores, este fungo esteve presente em 27 das 29 amostras analisadas. Outro fator que também chama a atenção é o alto potencial infectivo e agressividade que pôde ser observado no ensaio de patogenicidade (Figura 4).
Diante dos resultados similares em ambas as safras, e confirmando os mesmos gêneros fúngicos que foram observados em estudos desenvolvidos em outras instituições, indicando que estes fungos podem estar associados com o problema de SMC. A identificação destes fitopatógenos em plantas com SMC representa um avanço significativo na compreensão da síndrome, e revela a complexidade do desafio que a indústria sucroalcooleira vem enfrentando. A emergência do P. sacchari como um problema significativo e destaca a natureza dinâmica das interações patógeno-hospedeiro e a necessidade de mais estudos e de constante monitoramento dos canaviais.
A magnitude potencial do problema, combinada com a complexidade de diagnose e a falta de variedades resistentes, exige uma resposta rápida e coordenada de todos os setores envolvidos na cadeia produtiva. O entendimento aprofundado de sua etiologia, aliado a estratégias de manejo eficazes como corte antecipado, controle químico e o desenvolvimento de variedades mais resistentes, será fundamental para mitigar seus impactos e assegurar a sustentabilidade da produção de cana-de-açúcar no país.
Em síntese, a SMC com certeza, sempre existiu. É uma doença antiga, até então considerada secundária, porém, agora, é de importância primária.
Para confirmar a relação entre P. sacchari e os sintomas de SMC, foram realizados experimentos com inoculação direta em colmos sadios. Após sete dias em condições controladas, os colmos apresentaram sintomas típicos de vermelhidão, confirmando a patogenicidade do fungo. O isolamento e sequenciamento dos patógenos recuperados corroboraram esses resultados, indicando P. sacchari como agente causal.
Os dados revelam a emergência de P. sacchari como um patógeno de importância primária, presente em 27 das 29 amostras analisadas, com alto potencial infectivo e agressividade. A presença recorrente desse fungo, anteriormente considerado secundário, destaca a complexidade e a dinâmica das interações patógeno-hospedeiro.
A gravidade da SMC demanda uma resposta coordenada por parte de toda a cadeia produtiva. Estratégias como o desenvolvimento de variedades resistentes, manejo químico, corte antecipado e monitoramento contínuo dos canaviais são fundamentais para mitigar os impactos da doença. A compreensão aprofundada de sua etiologia e a implementação de práticas eficazes de manejo serão cruciais para garantir a sustentabilidade da produção de cana-de-açúcar no Brasil.
A Síndrome da Murcha da Cana, historicamente considerada uma doença secundária, se torna agora como um desafio primário para o setor sucroalcooleiro. Os resultados obtidos reforçam a necessidade de vigilância constante e estudos contínuos, consolidando um marco na compreensão e manejo dessa problemática silenciosa que afeta diretamente a rentabilidade do agricultor.
Por Flávia Elis de Mello, Sandra Marisa Mathioni, Stephane Pereira de Jesus, Eric Hirata e Douglas Braga Marques (Syngenta Proteção de Cultivos)
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