Redução no espaçamento

Quando se pensa em pulverização, não raro, ainda se associa a eficácia do controle única e exclusivamente com o volume de calda aplicado, desconsiderando-se todos os demais fatores envolvidos na eficácia da aplica

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

Apesar de a aplicação de defensivos ser prática comum da maioria dos agricultores, os conhecimentos básicos responsáveis por sua eficiência ainda são bastante desconhecidos pela maioria dos técnicos, produtores e trabalhadores rurais, o que tem levado a consideráveis desperdícios de produtos, máquinas e mão-de-obra.

Quando se pensa em pulverização, não raro, ainda se associa a eficácia do controle única e exclusivamente com o volume de calda aplicado, desconsiderando-se todos os demais fatores envolvidos na eficácia da aplicação. Este fato é muito comum, mesmo em artigos científicos, onde vários autores consideram suficientes a menção do modelo de ponta e do volume utilizado para caracterizar a pulverização efetuada. Ao se entender que o produto que efetivamente controla a praga é aquele que atinge o alvo e não o aplicado, e que, quanto menor a diferença entre o volume na ponta de pulverização e sobre o alvo, maior a economicidade da aplicação, mais eficaz e econômico se torna o tratamento fitossanitário das diferentes culturas.

A utilização de turbopulverizadores na citricultura constitui-se num excelente exemplo de como a adequação e a correta utilização de pulverizadores pode interferir significativamente sobre o custo de produção. Aqui, conceitos empregados nas remotas épocas em que os pulverizadores de pistolas eram os mais utilizados nos tratamentos fitossanitários destes pomares, têm sido repassados aos atuais turbopulverizadores, gerando graves perdas, comprometendo a eficácia de inovações tecnológicas, prejudicando o funcionamento dos pulverizadores e onerando o custo de produção. A baixa eficiência do sistema tem levado à utilização de volumes de calda cada vez maiores, principalmente no controle do ácaro da leprose, buscando-se compensar tais perdas. Para começar a se entender as diferenças entre os dois sistemas, imagine-se com uma pedra com 10 g em uma das mãos e com 10 g de areia na outra. Ao atirar-se as duas para frente, com a mesma força, a pedra irá mais longe pois a areia se espalhará rapidamente, caindo próximo ao ponto de lançamento. Este é o princípio de funcionamento dos pulverizadores de pistola, ou dos pulverizadores ‘jato lançado‘, onde a gota depende de sua massa, e conseqüente energia cinética, para atingir o alvo. Assim, a pistola de pulverização é uma ponta de alto volume, com o tamanho das gotas controlado pelo giro da manopla localizado no cabo da mesma.

Quanto maior a gota, menor o ângulo do cone de pulverização, maior o alcance do jato e vice-versa. A utilização das pistolas, portanto, pressupõe a utilização de gotas grandes para poder se atingir o ponteiro das plantas, o que representa menor cobertura do alvo e menor penetração na planta, dependendo para isso muitas vezes de falhas no enfolhamento da copa. Nesta situação, normalmente, o controle da praga é diretamente proporcional ao volume, pois uma grande quantidade de calda pode ser necessária para reduzir os efeitos das falhas (físicas e humanas) inerentes ao sistema. Muitas vezes, duas ou mais pistolas são dirigidas a uma mesma planta para se poder jogar o volume necessário de calda no tempo mínimo de deslocamento do trator. Quando se pensa em turbopulverizadores, no entanto, os conceitos devem ser alterados. Imagine a mesma pedra de 10 g e as mesmas 10 g de areia não mais atiradas em direção ao alvo mas sim à frente de um ventilador. Nesta situação, a areia irá mais longe pois será mais eficientemente transportada pela corrente de ar gerada. Este é o princípio de funcionamento dos turbopulverizadores, ou pulverizadores ‘jato transportados‘, onde a gota deve ter um tamanho adequado para ser transportada pela corrente de ar até o alvo. A utilização de turbopulverizadores, portanto, pressupõe a utilização de gotas mais finas e de um volume de ar adequado ao transporte destas até o interior da copa.

Trabalhos com turbopulverizadores, realizados no Estado de São Paulo pelo Centro Avançado de Pesquisa Tecnológica do Agronegócio de Engenharia e Automação (Centro APTA de Engenharia e Automação) do Instituto Agronômico (IAC), em parceria com o Fundo Paulista de Defesa da Citricultura (Fundecitrus), citricultores e fabricantes de máquinas e acessórios de pulverização, avaliando a eficácia do controle do ácaro da leprose com diferentes formas de uso deste equipamento, tem confirmado que, para este tipo de pulverizador, a eficiência não está diretamente relacionada ao volume, mas sim à forma como se realiza a sua regulagem.

Quanto à regulagem de turbopulverizadores, o primeiro passo é verificar como a cortina de ar se distribui no perfil vertical da planta. Para isso, um método bastante simples é utilizar-se de uma vara comprida com fitas plásticas, feitas com material bastante fino, como o utilizado em cortinas para banheiro por exemplo, amarradas a espaços regulares (50 cm por exemplo). Este acessório, quando posicionado à frente da cortina de ar, próximo às plantas, fornece várias noções importantes, tais como a distância mínima entre o pulverizador e a planta para que haja ar na região da saia e a velocidade e direção do ar ao longo do perfil. Pulverizadores com velocidades de ar visivelmente diferentes ao longo da cortina não devem ser utilizados, em função da desuniformidade de deposição da calda que proporcionam na planta. Esta pode ser uma importante ferramenta também na regulagem dos defletores laterais, ou volutas, no sentido de evitar que uma quantidade excessiva de ar seja perdida por sobre a planta.

Outro fator a se observar, e que tem grande interferência sobre a eficácia da pulverização, é a altura da turbina e da barra de bicos em relação à altura da planta. Turbinas baixas, quando utilizadas com árvores altas, fazem com que haja uma concentração da calda aplicada na região da saia em função da maior quantidade de bicos nesta área. Como exemplo, uma turbina com barra de 24 bicos cujo centro esteja a 1,5 m do solo, quando pulverizando um pomar com plantas de 4 m de altura, terá 12 bicos para pulverizar 1,5 m de copa na saia e 12 para 2,5 m na parte superior. Esta desuniformidade de vazão proporcionará uma distribuição irregular de calda, prejudicando o controle na parte superior da planta. Turbinas mais baixas fazem também com que o último bico da barra se situe a uma distância bastante grande do ponteiro, resultando em sérias implicações. Quanto maior a distância, menor a capacidade do ar em transportar as gotas e maior a probabilidade de evaporação e deriva. Para evitar a evaporação, alguns produtores optam por utilizar pontas de maior vazão na voluta, o que via de regra não resolve o problema, pois maiores vazões representam gotas maiores, com menor capacidade de transporte pelo ar. Por outro lado, turbinas altas, em pomares adensados na rua, podem fazer com que o primeiro bico da barra esteja bastante alto e muito próximo da planta, proporcionando falhas na pulverização da saia. Assim, ao adquirir um pulverizador, deve-se levar em consideração as características do pomar onde o mesmo será utilizado e não apenas o custo de aquisição. A altura ideal da turbina será aquela que permita uma distribuição equitativa dos bicos entre a parte alta e baixa da planta, possibilitando que se trabalhe com pontas de mesma vazão em toda a barra, reduzindo a probabilidade de erros na calibração. Estão disponíveis hoje no mercado brasileiro turbopulverizadores com diferentes alturas e formatos de turbina, que atendem plenamente a necessidade dos citricultores. De qualquer forma, a consulta a um Engenheiro Agrônomo é aconselhável.

Levando-se em consideração que gotas menores são melhor transportadas pela cortina de ar, alterações na barra de bicos ajudam também a elevar a eficácia da pulverização. Para um mesmo volume aplicado por planta, numa mesma pressão, uma barra com menor número de bicos apresenta um maior volume por ponta e, conseqüentemente, gotas maiores. Dessa forma, ao se utilizar duas pontas jogando 0,5 l/min por exemplo, pode-se ganhar em eficiência (cobertura, deposição e controle) quando comparado a uma ponta aplicando 1,0 l/min, por se estar adequando a pulverização ao equipamento. Por outro lado, a seleção de gotas muito finas potencializa as perdas por evaporação e deriva.

O aumento do número de bicos na barra pode ser obtido de duas formas: através do uso de duplicadores, que permitem além da duplicação a angulação das pontas, e através da troca da barra de bicos por outra com número maior de posições. Nos estudos realizados pelo Centro APTA de Engenharia e Automação, os melhores resultados até o momento foram obtidos com a seleção de pontas que proporcionam gotas entre 150 e 200 mm. Deve-se, no entanto, ter o cuidado de selecionar pontas que produzam o mínimo possível de gotas abaixo de 50mm, que são incapazes de se depositar, potencializando as perdas e a contaminação do aplicador e do ambiente.

Todo fabricante de pontas no Brasil deve ser capaz de fornecer tabelas que indicam a variação do tamanho de gotas dos diferentes modelos que produzem em função da pressão. Além disso, para aqueles mais técnicos, também está disponível no mercado brasileiro pelo menos um software para análise da pulverização, que permite ao agricultor avaliar o tamanho e concentração de gotas coletadas sobre papel hidrossensível, posicionados diretamente sobre o alvo pulverizado.

Utilizando-se os conceitos acima de distribuição do ar, da calda e de adequação do tamanho de gotas diretamente sobre a regulagem de turbopulverizadores no campo, em diferentes épocas do ano, pôde-se observar que não há uma relação direta entre o volume de calda aplicado e o controle do ácaro da leprose. Aliás, o volume de calda adequado por planta foi função da marca, modelo e regulagem do pulverizador utilizado, não podendo ser padronizado.

Nas avaliações efetuadas, considerou-se o volume padrão do produtor de 6000 l/ha de calda (aproximadamente 18 l/planta), em pomares da variedade Valência sobre Limão Cravo, bem enfolhadas, com aproximadamente 4,5 m de altura e produtividade variando entre 4 e 6 caixas de 40,8 kg/planta e volumes correspondentes a 50, 70, 85, 100, 150 e 200% do padrão, aplicados com o turbopulverizador Arbus Valência da Jacto. Não houve diferenças com relação à cobertura, deposição e período de controle do ácaro da leprose, em 2 anos e 3 diferentes áreas experimentais, mesmo quando tais pulverizações foram realizadas em condições extremas, como 15% de umidade relativa e temperatura de 38oC. Dessa forma, a utilização de tecnologias prontamente disponíveis pode reduzir em até 50% o volume de calda necessário ao tratamento fitossanitário dos citros, reduzindo proporcionalmente a necessidade de produtos, máquinas e mão-de-obra.

Trabalhando-se ainda tais conceitos, aliados ao da aplicação de baixos volumes de calda, foram avaliados o Arbus Valência da Jacto equipado com ramal especial de bicos (44 posições na barra + 14 na voluta) e o pulverizador da Martignani, desenhado para aplicação em baixo volume, em 2 campos da variedade Valência sobre Cravo nas mesmas condições dos anteriores. Os pulverizadores aplicando 1200, 1600 e 2000 l/ha foram comparados com o tratamento padrão dos produtores aplicando 5000 e 6000 l/ha. Neste caso, entretanto, nos tratamentos de baixo volume, o produto nos tanques foi concentrado de forma a manter-se as quantidades de princípio ativo por área. Também nestas situações, mesmo em condições extremas de temperatura e umidade relativa, nenhum dos volumes apresentou diferença com relação ao período de controle do ácaro. Assim, todos os resultados obtidos indicam que, na utilização de turbopulverizadores, o volume de calda utilizado não possui correlação direta com a eficácia do controle.

Existem duas formas de o produtor aumentar seus lucros: a primeira é vendendo mais caro a produção, o que não é fácil em função do controle de preços exercido pelo mercado, e a segunda é produzindo mais barato, o que pode ser conseguido pelo investimento em novas técnicas e tecnologias. Obviamente, o investimento em novas tecnologias, apesar de não necessariamente representar o aporte de expressivos valores monetários, deve ser acompanhado por um treinamento adequado de todas as pessoas envolvidas, bem como por uma eficiente assessoria técnica. Padrões de avaliação da pulverização, através da utilização, por exemplo, de papéis hidrossensíveis posicionados em pontos específicos da planta, buscando analisar ‘o que’ e ‘como’ está chegando e não mais o quanto está se aplicando, passam a ser importantes no sistema de produção. Por outro lado, a economia de produto, máquina e mão-de-obra envolvida, além de duradoura após sua implantação, faz com que o retorno de qualquer investimento realizado seja via de regra bastante rápido, muitas vezes ocorrendo dentro do próprio ano agrícola.

Cabe, portanto, ao agricultor analisar seu sistema de produção, identificar possíveis problemas, buscar, avaliar e implementar novas tecnologias que o ajudem a reduzir seu custo, face a este mercado cada vez mais globalizado e competitivo. Dentro da citricultura, o tratamento fitossanitário dos pomares pode representar de 30 a 60% do custo de produção e, com toda certeza, muito ainda pode ser trabalhado com relação à sua eficácia e eficiência.

IAC

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