Onde tem cana, tem energia
Por Marco Faria, Diretor Comercial da FMC
A utilização da biomassa da cana-de-açúcar é uma realidade cada vez mais presente nos canaviais. No entanto, definir o quanto de palhiço deve ficar na lavoura e o quanto será recuperado na leira é tarefa fundamental para proporcionar maior eficiência no enfardamento e viabilizar a operação.
A cana-de-açúcar é uma cultura onde é possível aproveitar toda a planta. Desde a produção de açúcar e álcool, até a de energia renovável, onde é utilizada a biomassa remanescente no campo por meio de processos industriais no aproveitamento dos subprodutos, existe no setor grande aplicação da biomassa com expectativa de baixo impacto ambiental.
A grande quantidade de biomassa da cana-de-açúcar disponível e remanescente da colheita mecanizada, especificamente a palha e o bagaço, é direcionada para a produção de etanol de segunda geração e cogeração de energia elétrica. A utilização de fontes renováveis de combustível está evoluindo com o passar do tempo, e a biomassa é considerada pelos mercados internacionais como uma das principais alternativas para a diversificação da matriz energética, consequentemente, reduz a dependência de combustíveis fósseis.
Com a eliminação da queima da palha da cana-de-açúcar e a substituição da colheita manual pela colheita mecanizada da cana crua, a palha da cana-de-açúcar começou a receber muita atenção, pois o grande volume de cobertura morta que fica armazenada na superfície do solo pode causar problemas relacionados ao manejo da cultura, como, por exemplo, dificuldades na rebrota e na operação de cultivo, problemas no controle seletivo de plantas invasoras e aumento nas populações de pragas que se abrigam e se multiplicam sob a palhada.
Porém, esse acúmulo de palha também acarreta benefícios. Pode prevenir a erosão do solo, controlar a umidade e as plantas invasoras e servir de fonte para a geração de energia.
Visando minimizar tais problemas, estudos vêm sendo realizados com o objetivo de propor estimativas da quantidade ideal de palha a ser deixada no campo.
Estudos mostram que por razões agronômicas é recomendado manter cerca da metade da palha no solo, reduzindo a erosão e aumentando a ciclagem de nutrientes.
Decidir a quantidade de palhiço que as máquinas devem aleirar e enfardar no campo ainda é um fator que deve ser bem avaliado.
Para aperfeiçoar todo o processo de recolhimento do palhiço e minimizar custos das operações, fazendo com que as máquinas envolvidas forneçam um bom desempenho econômico e operacional, o enfardamento da palha da cana-de-açúcar por máquinas vem sendo bastante pesquisado.
Para chegar a um sistema de recolhimento do palhiço economicamente viável, faz-se necessário um planejamento para atender às necessidades de implantação, condução e retirada da cultura ou material remanescente do campo, estando sujeito à influência de fatores externos com ênfase no solo, clima, fatores operacionais e mão de obra qualificada para operar as máquinas.
Aliar a eficiência operacional das máquinas envolvidas no processo com um desempenho econômico satisfatório ainda é um desafio muito grande nas operações de recolhimento de palha.
Experimento realizado pela FCA Unesp de Botucatu em uma Usina no município de São Miguel dos Campos (AL) objetivou avaliar o desempenho operacional de duas máquinas de enfardamento prismático em palhiço de cana-de-açúcar, em relação a distância entre fardos, em que as máquinas conseguem atuar, refletindo na produção final e diária de fardos e no transporte para a indústria.
O recolhimento do palhiço foi realizado em três diferentes regulagens, definido pelo implemento ancinho aleirador.
Os tratamentos consistiram em: V1 = Recolhimento de 90% do volume total de palhiço; V2 = Recolhimento de 70% do volume total de palhiço; T3 = Recolhimento de 50% do volume total de palhiço.
De acordo com os dados coletados em campo, a distância entre os fardos produzidos diferiu entre os tratamentos para cada máquina, ou seja, a quantidade de palhiço disponibilizado nas linhas aleiradas influenciou na quantidade de fardos produzidos e na produtividade total de cada máquina. A maior distância entre fardos produzidos foi no tratamento V3, em que a distância média foi de 120,33 metros entre fardos, deste modo, quando comparada com a distância dos mesmos no V1, que foi de 61 metros, pode-se observar que de fato o volume de palhiço na leira influenciou a distância entre os fardos produzidos no campo. Esses dados refletem diretamente na dinâmica de transporte desse material para a indústria, pois se observa que quanto menor o volume de palhiço de cana-de-açúcar disponibilizado na leira, maior será a distância entre eles. Isso compromete diretamente a produção de fardos por dia em qualquer empresa que trabalhe na linha de enfardamento dessa biomassa.
Sendo assim, percebe-se que o baixo volume de biomassa na leira compromete não só a produção de fardos palas máquinas, mas também afeta todo o sistema de produção, levando em consideração que, quando a máquina produz uma quantidade mínima de fardos e, consequentemente, com maior distância entre os mesmos, operações como o recolhimento dos fardos já produzidos no campo para serem armazenados nas carretas de transporte também serão afetadas, pois a máquina responsável por coletá-los terá que andar ainda mais para conseguir o número de fardos necessários para completar a carga do caminhão que fará o transporte para indústria ou para o local de estoque, acarretando no maior consumo de combustível. A menor distância entre fardos foi para a Máquina 2, isso porque essa máquina conseguiu recuperar maior quantidade de biomassa na leira e assim proporcionar maior eficiência no enfardamento do palhiço.
Anderson Ravanny de Andrade Gomes, Tiago Pereira da Silva Correia, Paulo Roberto Arbex Silva, FCA Unesp de Botucatu-SP
Artigo publicado na edição 167 da Cultivar Máquinas.
Receba por e-mail as últimas notícias sobre agricultura
Receba por e-mail as últimas notícias sobre agricultura