Reação aos ácaros

Diante da elevada aptidão dos ácaros para desenvolver resistência aos acaricidas, o uso de variedades resistentes aparece como alternativa de controle. Mas para isso, é preciso conhecer o comportamento dos diversos genóti

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

A cultura do tomateiro,

(Miller), é muito afetada economicamente devido à ocorrência de várias pragas, dentre as principais destaca-se o ácaro rajado,

(Koch, 1836). Possui duas manchas vermelhas no dorso, o que lhe conferiu o nome vulgar. Tem sido encontrado em uma grande gama de hospedeiros, sendo um cosmopolita há muito conhecido. Ataca as folhas situadas na parte mediana da planta de tomate, sendo que uma infestação intensa produz o amarelecimento e o secamento com diminuição do número dos frutos, tamanho, maturação precoce e baixo teor de sólidos solúveis. O ácaro rajado aparece principalmente em condições de cultivo protegido, preferindo ambientes de baixa umidade relativa.

Os ácaros possuem uma enorme capacidade de aumento populacional, chegando a 20-25 gerações por ano. Desta forma, o controle do ácaro precisa ser eficiente, mantendo a população abaixo do nível de dano econômico. Atualmente, o controle químico é o mais utilizado, porém, o mais problemático, porque os ácaros possuem elevada aptidão para desenvolver uma resistência contra os vários grupos de acaricidas. Omoto et al. (2000) em bioensaios de laboratório verificaram uma razão de resistência de aproximadamente 57 vezes ao princípio ativo dicofol para a linhagem resistente do ácaro Brevipalpus phoenicis quando comparada à linhagem suscetível. Para

(Mansour & Plaut, 1979) e

(Fergusson-Kolmes et al., 1991) foi detectada resistência aos princípios ativos dicofol e bromopropilato. Esta resistência, provavelmente ocorreu em função da utilização de dosagens não recomendadas de acaricidas e elevada freqüência de pulverização (Gravena, 1994).

A fim de diminuir o problema de resistência da praga aos acaricidas, o uso de cultivares resistentes para o controle do ácaro pode ser de grande contribuição, por tratar-se de um método eficaz, já que deixa as populações abaixo do nível econômico de dano. Este tipo de controle pode ser obtido através do melhoramento genético de plantas, sendo a planta melhorada menos danificada em relação à suscetível em igualdade de condições. O método possui efeito permanente sobre a população da praga, não afeta diretamente seus inimigos naturais e dispensa o agricultor de qualquer conhecimento sobre a praga para efetuar o controle (Lara, 1991).

A resistência de plantas deve ser considerada relativa. Assim, um material genético pode comportar-se como resistente ou suscetível dependendo do ensaio e das condições ambientais. A preferência ou não de uma planta é classificada como um dos tipos de resistência, podendo ser observada quando a planta é mais ou menos utilizada pelo ácaro para alimentação, oviposição ou mesmo abrigo (Lara, 1991). Os estímulos emitidos pela planta, que atuam no comportamento do ácaro, podem ser estimulantes e deterrentes, entre outros. Quando a planta libera estímulo positivo (estimulante), induz o ácaro à oviposição e/ou alimentação, enquanto a emissão de estímulo negativo (deterrente) impede a continuidade da oviposição e/ou alimentação (Lara, 1991).

As plantas apresentam diversos mecanismos de proteção a insetos e ácaros, como os tricomas, responsáveis pela proteção das folhas e caules, importantes no gênero Lycopersicon (Chatzivasileiadis & Sabelis, 1997). A resistência de plantas ao ácaro rajado tem sido relatada em função de várias características da superfície dos folíolos, incluindo densidade e componentes químicos encontrados em tricomas glandulares (Gentile et al., 1969; Aina et al., 1972; Snyder & Carter, 1984; Rasmy, 1985), como é o caso das densidades de tricomas glandulares do tipo IV (Snyder & Carter, 1984) e tricomas não glandulares do tipo V (Carter & Snyder, 1985).

Os exsudatos dos tricomas do tipo VI da espécie

var. typicum são tóxicos e repelentes ao ácaro rajado (Aina et al., 1972) e a remoção das glândulas dos tricomas reduziram, mas não eliminaram a resistência aos ácaros (Snyder & Carter, 1984; Rasmy, 1985). A densidade de tricomas glandulares do tipo IV influenciaram no comportamento e resistência dos ácaros sobre os folíolos de

spp.

A classificação de espécies vegetais em graus de resistência ou suscetibilidade pode ser feita de várias formas. Atualmente, alguns autores vêm utilizando o Índice de Preferência para Oviposição (IPO) para facilitar esta distinção. O uso do IPO auxilia na seleção de genótipos resistentes, separando-os em níveis de deterrência, neutralidade e estimulação em relação à preferência da praga (Fenemore, 1980).

São poucos os estudos nas condições brasileiras para essa praga, pois seu ataque muitas vezes passa despercebido, porém reduz a produção. A incidência natural, bem como a oviposição de

em diferentes genótipos de tomateiro aponta a resistência natural dos diversos materiais frente ao ataque do ácaro. Sem dúvidas a resistência de plantas é um dos melhores e eficientes caminhos para controle deste inimigo muitas vezes invisível.

No ensaio em ambiente protegido de chuva foi contada a quantidade de ovos nas folhas de plantas de tomateiro. Nenhuma oviposição foi verificada nos genótipos PI 126449, PI 134417, LA 716, e apesar de esses genótipos serem selvagens, nem sempre a resistência a um determinado inseto existe, como no caso da grande oviposição do LA 1113-1. Essa maior ou menor preferência para postura em determinados materiais indica diferentes graus de resistência das plantas.

Uma outra ferramenta chamada IPO (Índice de Preferência para Oviposição) de cálculo relativamente simples foi proposta por FENEMORE da Nova Zelândia. Um ponto importante é que o uso de IPO para seleção de genótipos facilita a separação, uma vez que não houve diferença significativa entre muitos genótipos, porém se percebe nitidamente a diferença na oviposição total sobre os materiais com a utilização desse índice.

Este índice compara os vários genótipos ovipositados pelo ácaro a um material padrão, amplamente utilizado, que neste caso foi o Santa Clara, indicando maior ou menor suscetibilidade ou deterrência (Tabela 1 -

). Materiais como PI 126449, PI 134417, LA 716, PI 127827 apresentam alto índice de deterrência, ou seja, o ácaro não encontra condições favoráveis à postura.

Vários híbridos apresentam um desempenho superior à cultivar Santa Clara que foi utilizada como padrão, indicando que componentes de resistência como componentes antixenóticos e/ou antibióticos podem ter sido incorporados a esses materiais quando realizado o melhoramento genético. Um exemplo, seria a introdução de genes responsáveis pela presença de tricomas glandulares dos tipos VI ou tipo IV, os quais possuem exsudatos químicos e aderentes, respectivamente.

Diversos tipos de tricomas foram observados na superfície abaxial dos folíolos de espécies de Lycopersicon (Foto ao lado). O genótipo LA 716 apresenta apenas o glandular tipo IV e os PI 127826, PI 127827 e PI 134417 apresentam os tipos glandulares I, IV, VIc e VII e o não glandular do tipo Va. Já entre os comerciais, Bruna VFN apresenta os tipos I, VIa, VIII – glandulares e Va – não glandular; enquanto o Santa Clara apresenta os tipos I e VIc – glandulares e III, Va e Vb – não glandulares.

Genótipos de tomateiro pouco ovipositados podem ser utilizados como fonte de resistência para T. urticae, como LA 716 e PI 126449 que mostraram deterrência à oviposição, com ausência total tanto de ácaros como de ovos (Tabelas 1 e 2).

Acredita-se que materiais resistentes não são atrativos ou são deterrentes para oviposição/alimentação dos ácaros, podendo não ser encontrados, ou mesmo encontrando-se alguns, estes realizam poucas posturas, como ocorreu no presente trabalho, pelo baixo número de ovos e fases imaturas verificados (Tabelas 1 e 2). Essa não-preferência para oviposição está relacionada com a presença de tricomas que possuem o “inseticida natural” (2-tridecanona) produzido por tricomas glandulares do tipo VI. Ainda com relação ao PI 134417, pesquisadores verificaram em seus tricomas elevada presença de metil cetonas, substâncias altamente tóxicas a esses ácaros, sendo que, em L. esculentum foram encontrados menor número de tricomas com esse componente químico, o que indica ser necessário um maior contato do ácaro com mais tricomas para provocar a sua morte.

A resistência pode ocorrer devido ao tipo de tricoma ou densidade, e presença de exsudato químico. Na superfície inferior da folha em plantas de

foi observada a postura de 0,2 ovos/fêmea, enquanto, em plantas de

a quantidade chegou a 9,4 ovos/fêmea, o que salienta a importância de genótipos selvagens como fonte de resistência. Porém, o fato de um genótipo ser selvagem não caracteriza que seja resistente, ou que possua algum tipo de resistência à determinada praga, o que foi evidenciado no presente experimento pela preferência do ácaro rajado para oviposição nos genótipos selvagens LA 1113-2 e LA 1113-1. Acredita-se que a suscetibilidade à oviposição desses genótipos possa estar relacionada com a ausência, ou a menor quantidade de tricomas glandulares, visto a importância desses no fator resistência do genótipo PI 134417. Ainda com relação ao LA 1113-1, a ocorrência de elevado número de fases imaturas, possivelmente, caracteriza a ausência ou a baixa concentração de componentes antibióticos, o que pode ter facilitado o desenvolvimento dessas fases. Outro fato, é que uma espécie de Lycopersicon possui vários acessos ou linhagens, com diferentes características morfológicas e fisiológicas, que possivelmente, pode contribuir na variação do fator resistência, atuando sobre um inseto ou ácaro. Um exemplo é a resistência do tipo antibiose do acesso LA 444-1 de L. peruvianum sobre os aspectos biológicos de

(mariposa) em relação ao genótipo Santa Clara.

Considerando que o uso de variedades resistentes é um importante método de controle dentro do manejo integrado de pragas, o conhecimento do comportamento desses diversos genótipos de tomateiro ao ataque do ácaro rajado pode ser de grande valia para o melhoramento de plantas visando produzir materiais resistentes.

e

Universidade Estadual de Goiás

* Confira este artigo, com fotos e tabelas, em formato PDF. Basta clicar no link abaixo:

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