Entre os problemas que podem ocorrer na fase inicial de desenvolvimento de plantas de soja, um é o tombamento, causado por Pitium ou por Fitóftora. Vários agricultores do Rio Grande do Sul, que semearam suas lavouras no início de novembro de 2000, observaram, após emergência normal, definhamento e morte de plântulas, causando falhas completas de estande e levando ao replantio de parte da lavoura ou mesmo de toda a área. Esse problema foi identificado, no Laboratório de Fitopatologia da Embrapa Trigo, em amostras de plântulas de soja provenientes dos seguintes municípios: Passo Fundo, Cruz Alta, Fortaleza dos Valos, São Gabriel, São Borja, Gaurama, Caçapava do Sul, Ernestina, Tapejara e Catuípe.
Essa doença pode ser encontrada em todas as regiões produtoras de soja do mundo. Somente pelos sintomas observados em plântulas não é possível diferenciar o agente causal, pois os dois fungos causam o mesmo tipo de sintoma, na fase de plântula. Somente testes mais sofisticados, em laboratório, poderão diferenciar o agente causal. Esses fungos, cujos nomes científicos são
spp. e
, são habitantes normais do solo e sobrevivem por muitos anos em restos de plantas de soja ou em solo, porque formam estruturas de resistência, chamadas oósporos. Em condições propícias, como temperaturas amenas e solos com excesso de umidade durante a semeadura e a emergência de soja, esses fungos podem ocasionar apodrecimento tanto de sementes como de raízes, de cotilédones e de hipocótilo em plântulas, em pós-emergência.
IDENTIFICANDO A DOENÇA
Para a correta identificação da doença é importante conhecer alguns detalhes dos sintomas. Antes da germinação, pode ocorrer apodrecimento mole de sementes, ficando partículas de solo aderidas a elas. Se a infecção ocorrer logo após a germinação as plântulas podem não emergir, apresentando a radícula curta e apodrecida, flácida, de cor marrom. As plântulas que conseguirem emergir do solo podem, também, apresentar apodrecimento flácido, de cor marrom, na extremidade da raiz principal. Algumas vezes, ocorrem lesões em hipocótilos e em cotilédones, seguidas por apodrecimento marrom, de aspecto amolecido, e, poucos dias após, as plântulas começam a secar e morrem. A região menos afetada é o colo da plântula, próximo à linha do solo, que permanece com diâmetro normal, enquanto raiz e hipocótilo, próximo aos cotilédones, apodrecem e secam. Em plantas de estádios mais avançados, algumas vezes, o apodrecimento atinge, apenas, a extremidade da raiz principal e há desenvolvimento de várias raízes secundárias superficiais, que pode gerar plantas mais fracas e menos resistentes a períodos de deficiência hídrica.
Analisando as condições das lavouras que apresentaram tombamento nesse início de safra, constataram-se alguns fatores coincidentes, como: semeadura em início de novembro, em solos com excesso de umidade e precipitação pluvial entre 80 mm e 120 mm no período entre semeadura e emergência. Como a elevada umidade de solo é fator predisponente, plântulas de soja com sintomas foram mais comuns em locais na lavoura em que ocorreu maior acúmulo de água.
O manejo dessa doença não é fácil. No caso de Pitium, não existem cultivares de soja resistentes. Para Fitóftora, são resistentes as cultivares Ocepar 14, FT-Abyara e BRS 66. Se houver necessidade de replantio de soja, os sintomas podem voltar a ocorrer, caso as condições climáticas continuem a ser favoráveis ao desenvolvimento do tombamento. O sistema plantio direto, por manter o solo mais úmido durante mais tempo, pode contribuir para aumentar a severidade da doença. A drenagem de áreas com problemas pode auxiliar no controle do tombamento, já que a presença de água livre no solo é essencial para a ocorrência da infecção. Da mesma forma, a existência de camada compactada de solo irá favorecer o acúmulo de umidade na região de raízes de plântulas. Nesse caso, o rompimento da camada compactada pode auxiliar a amenizar o problema.
Além de sobreviverem no solo por muitos anos, algumas espécies de Pythium têm grande número de hospedeiros, entre esses o milho, o que dificulta o controle por rotação de culturas. O controle químico do tombamento por Pitium e por Fitóftora, em soja, pode ser obtido com aplicação de metalaxil nas sementes, mas esse fungicida ainda não é recomendado para tratamento de sementes de soja no País, necessitando ser registrado nas condições brasileiras.
Provavelmente, o tombamento tanto por Pitium como por Fitóftora não originará novos problemas fitossanitários rotineiros no período de emergência de lavouras de soja, devido às exigências de alta umidade. É comum, nas condições do Rio Grande do Sul, a ocorrência de períodos de deficiência hídrica, os chamados “veranicos”, nos meses de novembro e de dezembro, quando se concentra a semeadura de soja. Porém, em monocultura, principalmente no sistema plantio direto, e em condições de excesso de precipitação pluvial, convém que o agricultor e a assistência técnica fiquem atentos para a ocorrência dos sintomas descritos.
Leila Maria Costamilan,
Embrapa Trigo
Newsletter Cultivar
Receba por e-mail as últimas notícias sobre agricultura
Newsletter Cultivar
Receba por e-mail as últimas notícias sobre agricultura